17/01/2020
Fonte: Acrítica
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) informou em
Brasília que a alíquota do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) será de 8% e, em três anos, deve
retornar a 4%. A medida paliativa não agradou políticos
do AM e nem o vice-presidente da Federação das
Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam). Segundo
parlamentares, o anúncio coloca a Zona Franca no
corredor da morte, ou seja, trazendo de forma lenta o
fim do modelo.
O polo de concentrados não cria somente empregos
diretos e indiretos no Polo Industrial de Manaus (PIM),
mas também no interior do Estado. Segundo Nelson
Azevedo, o setor ajuda a desenvolver a cultura do
plantio do guaraná, da cana de açúcar, entre outros
insumos necessários para a produção dos refrigerantes.
"Presidente Figueiredo, por exemplo, é uma das cidades
que se desenvolvem com estes incentivos. É um polo
muito importante, um dos maiores exportadores para
outros estados e países", destacou.
Para o deputado estadual Serafim Corrêa (PSB), o futuro
decreto presidencial não traz garantias e nem resolve os
problemas a longo prazo. "Pelo que foi anunciado vai
cair de 10% para 8%. Ano que vem diminui para 6% e no
ano seguinte desce para 4%. Eu chamo esse decreto de
morte lenta para os incentivos dedicados à Zona Franca
de Manaus", disse o parlamentar, especialista em
Direito Tributário.
O senador Plínio Valério (PSDB) analisa o anúncio de
Bolsonaro como uma forma mais suave de acabar com
o modelo. “É como se botasse a ZFM no corredor da
morte, com a data marcada para ir à câmara de gás. Nós
não podemos aceitar esse tipo de ‘bondade’. Isso reflete
a determinação, realmente, de acabar com a Zona
Franca e nós, deputados federais e senadores, vamos
ter que fazer alguma coisa".
Assim como Plínio, o senador Omar Aziz (PSD)
classificou a medida como "anúncio da morte da Zona
Franca". "O caso de reduzir, isso não existe. Se o IPI se
mantiver em 8% e a Receita Federal der sinal positivo,
vamos brigar para que nada mais seja reduzido. Eu
esperava que isso não acontecesse. [...] O amazonense
que concordar com um absurdo desse e não falar nada
é um lesa pátria. Uma redução como essa é colocar a
Zona Franca no corredor da morte. É pôr uma data
limite para a Zona Fraca. Isso inibi investimentos”
Insegurança no setor
O polo de refrigerantes já recebeu 40% de incentivos
fiscais no Amazonas. Depois sofreu um corte para 20% e
na última semana foi para 4% – após o fim do prazo
estabelecido pelo Decreto 9.514/18, do então presidente
Michel Temer. Como Bolsonaro ainda não editou o novo
decreto, o que passou a valer em 1° de janeiro de 2020 é
o de nº 9.394/18 com os 4% previstos.
"As empresas quando vieram para cá, no início da ZFM,
tinham os incentivos de 40%. Aí diminuíram para 20%,
depois para 12%, para 8%, e para 4%. Isso cria
insegurança jurídica para quem deseja investir, e é fatal
para a Zona Franca. Porque, imagina uma empresa que
esteja com planos de vir pra cá, ela desiste por conta
dessa insegurança. E outra, foi muito infeliz a declaração do presidente, que vai acabar os incentivos de maneira
‘suave’. Isso é algo assustador, é um absurdo. Isso
espanta as empresas", disse Serafim.
E realmente pelo menos uma empresa instalada em
Manaus já sinalizou uma possível saída do Estado, na
última semana, Larte Codonho, dono da marca de
refrigerante Dolly, disse em entrevista à coluna Painel,
comandada pela jornalista Joana Cunha, da jornal Folha
de São Paulo, que está fazendo as contas sobre a
viabilidade de manter a fábrica em Manaus. “Mantemos
uma operação no meio da selva para ter o benefício
fiscal. A partir do momento em que se corta isso, todos
se questionarão se vale a pena”, disse. Em 2018, no
início da redução dos incentivos fiscais, a PepsiCo deixou
o Amazonas.
Ainda em palavras
A demora do novo decreto presidencial também gera
instabilidade no setor. Segundo o vice-presidente da
Fieam, em conversa com superintendente da ZFM,
Alfredo Menezes, o ideal seria manter a alíquota em 12%
ou 15% para manter os empregos direitos e indiretos.
"Esperamos que o problema seja resolvido o quanto
antes. Quanto mais tempo demorar para o decreto ser
implementado, mais incertezas pairam não apenas no
setor de refrigerantes, mas na Zona Franca como um
todo. A maior preocupação é: será que decisões como
essa, de redução de incentivos, irão atingir outros polos
da ZFM, como o importante polo de duas rodas e o
mecânico. O de informática já foi", pondera.
"Hoje o debate acerca dos incentivos está muito focado
no polo de refrigerantes, porém, toda a estrutura de
incentivos fiscais, principalmente da Zona Franca, vem
recebendo ameaças. A gente não sabe o que pode
ocorrer nos demais segmentos", finalizou o vice-presidente da Fieam.
*Colaborou o repórter Robson Adriano.