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'Bioeconomia precisa se industrializar’, diz cientista

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24/08/2020

Fonte: ESTADÃO

Referência em estudos sobre o aquecimento global no Brasil, o cientista Carlos Nobre, hoje ligado ao Instituto de Estudos Avançados da USP, de uns anos para cá começou a iniciar suas apresentações afirmando que na maior parte de sua carreira ele “foi portador de más notícias sobre a Amazônia”. É dele o primeiro estudo que mostrou os riscos de a floresta tropical passar por um processo de savanização em decorrência do aquecimento global e do desmatamento.

“Já fiz muitos alertas, mas não estava resolvendo. Comecei, então, a procurar soluções”, diz. Nobre é o idealizador de um projeto chamado Amazônia 4.0, em que ele lança mão de conceitos da chamada Quarta Revolução Industrial para propor saídas para desenvolver economicamente a região e, ao mesmo tempo, proteger a floresta.

Para ele, a bioeconomia, quando se refere à Amazônia, é um conceito que prevê a promoção de sistemas de produção baseados no uso e na conservação de recursos biológicos da floresta em pé. Em entrevista ao Estadão, ele explica como a industrialização pode ajudar nisso. Leia a seguir:

A indústria 4.0 no mundo moderno tem, logicamente, um caminho que é o da bioindústria fazendo um produto que chega ao consumidor. Mas esse não é o maior mercado possível, mas sim o chamado ‘business to business’, em que os produtos de uma indústria fluem para outra empresa normalmente maior, mais próxima dos centros consumidores ou centros exportadores, que faz o produto final. Esse potencial tem de ser desenvolvido, porque ele é bem grande.

Estamos desenvolvendo um conceito de Laboratórios Criativos da Amazônia para capacitar população, universidades, estudantes universitários, para criar novas biofábricas. Um dos que desenhamos agora, e estou atrás de recursos para construir, é para desenvolver óleos comestíveis de alta qualidade com produtos da floresta. Lógico que se pode fazer um óleo, colocar uma marca e vender no mercado, mas o maior potencial desse tipo de industrialização é processar o produto da floresta, fazer o óleo e depois ele entrar na cadeia de produção de uma empresa grande, que vai usar aquele óleo em seus produtos. É a bioindustrialização.

A ideia é que não seja só para comunidades pequenas, não, mas um modelo para a Amazônia: para as comunidades, para as cidades e também para as cidades grandes. E que seja descentralizado. Tem coisas produzidas em comunidades, em pequenas cidades, mas também em cidades como Manaus e Belém, em várias escalas diferentes. A Tatiana Schor, secretária de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas, está liderando um esforço para criar o que está sendo chamado Zona Franca Verde, que vai exatamente nessa linha. É uma industrialização dos recursos da floresta em pé. Usamos essa definição de bioeconomia exatamente para contrapor a uma ideia mais antiga que tem como foco a expansão da área cultivável da agricultura.

Desde que começou a defender o projeto de bioeconomia na Amazônia, o sr. cita como exemplo o que ocorreu com o açaí. Qual é o pulo do gato?

O açaí hoje já traz mais de US$ 1 bilhão por ano para a economia da Amazônia. São produzidas mais de 250 mil toneladas de polpa de açaí, beneficiando mais de 300 mil pessoas, principalmente no Pará. Já é um fator econômico do tamanho da exploração da madeira, sendo que 80% da madeira é ilegal hoje. O açaí é legal. E beneficia muito mais gente. A madeira, que é em boa parte roubada, beneficia talvez 10 mil, 15 mil madeireiros, quase todos ilegais. Mas a industrialização do açaí na Amazônia é mínima. Hoje se pega o fruto, tira a polpa, liofiliza e exporta. E isso já melhorou muito a vida das pessoas. A ideia é começar a desenvolver uma indústria de processamento do açaí e fazer produtos que atendam a outras indústrias. Isso gera empregos industriais e uma economia mais local muito mais vibrante. Sem empregos industriais, a economia extrativista acaba ficando mais limitada e gera menos bem-estar social.

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