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Bioeconomia e desenvolvimento do interior são novas metas do CBA

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10/04/2023

Manaus (AM) – Desde sua instituição em 2002, o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) teve a missão de fomentar o desenvolvimento de pesquisas da biodiversidade amazônica. Para além desses aspectos, a instituição busca reforças a bioeconomia da região, capacitando pesquisadores e produtores para que o produto destes cheguem efetivamente às prateleiras.

As atuações do Centro sofreram paralisações constantes e danosas durante toda sua trajetória. Uma das ‘novelas’ mais longevas na história do CBA dizia respeito a identidade jurídica da instituição. O assunto veio à tona novamente quando da visita, em março, do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) Geraldo Alckmin que garantiu a realização do processo de chamamento público que dará definição de Organização Social (OS) a instituição.

Ao fim do processo, que terá a assinatura do decreto presidencial definindo o Centro como OS (Organização Social), a gestão do CBA será responsabilidade do consórcio encabeçado pela Fundação Universitas de Estudos Amazônicos (FUEA), em conjunto com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT-SP),

“Com o CBA, nós vamos poder aproveitar melhor o momento que nós estamos vivendo. Hoje o que todos querem saber é: onde eu produzo bem, barato e onde consigo compensar as emissões de carbono e gás de efeito estufa? É no Brasil. Então nós vamos poder atrair muito investimentos para o nosso País”, afirmou Alckmin na época.

Fomento a bioeconomia regional

Para o gestor do CBA, Fábio Calderaro, este é o momento de dar mais dinamismo às atividades do Centro. “Desde que me foi delegada a missão de tornar o CBA uma instituição com maior dinamismo, mais integrada ao ecossistema e mais próxima de segmentos que podem alavancar a bioeconomia na região, este é o momento mais oportuno”, disse o executivo.

Assim que desligado da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) o CBA passa a ser gerido pelo consórcio, que buscará autonomia administrativa e orçamento próprio para agir como ponte entre os setores público e privado e a academia

Este novo arranjo traz o CBA para mais próximo do mercado, sem interferir ou competir com as atividades de outros órgãos como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), as universidades e institutos federais, diz Calderaro. “O CBA vai se posicionar ao fim da cadeia de inovação, ao lado do setor produtivo. As instituições de ensino vão atuar na coleta dos insumos para testes, por exemplo. Após a execução de um protótipo, o CBA vai incubar esta pesquisa, transformá-la em produto e transferir tecnologia para o setor privado”, explicou.

Nova fase e novas metas

Segundo o gestor do CBA, uma das pautas atuais da instituição é gerar demanda no interior do estado, por meio do aproveitamento sustentável da biodiversidade. De acordo com Calderaro, nos estudos que levaram o Centro a essa nova fase foi diagnosticado uma concentração de investimentos na capital, efeito puxado pela implantação da Zona Franca de na década de 1960.

O interior ficou desamparado por estar de fora do guarda-chuva da ZFM que abrange poucas áreas além da capital, o que, de acordo com o gestor do CBA deve ser mudado para garantir o desenvolvimento de toda a região. “Os setores industriais instalado aqui, atraídos pelos incentivos fiscais e tributários não oportunizaram atividades de renda no interior”, disse.

Porém Calderaro explica que o que se busca não é uma substituição do modelo ZFM. “Não faz sentido substituir o que está dando certo. A visão do CBA está atrelada a à transição tecnológica. Estamos atentos aos novos tempos e às demandas da humanidade que aqui borbulham. Nutracêuticos (alimentos e componentes alimentícios com apelos médicos ou de saúde, unindo nutrição e farmacêuticos. Nota da Reportagem), cosméticos, fármacos, com diferencial amazônico da floresta em pé”, disse o gestor. “Com sustentabilidade e de olho na prosperidade social criamos a possibilidade do Amazonas explorar outras matrizes e desenvolver múltiplas formas de gerar negócios”, concluiu.

Detectando segmentos promissores

O estudo Amazônia do Futuro – Desenvolvimento Econômico que Cuida do Meio Ambiente, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), detectou entre os segmentos mais promissores para este aporte do CBA a piscicultura e indústria pesqueira; madeira e concessões florestais; ecoturismo; turismo de negócios; indústria farmacêutica; fármacos e fitoterápicos; cosméticos; óleos essenciais; indústria alimentar (bebidas); óleos vegetais; proteína vegetal; digitalização; e extração mineral.

Muito exportada a castanha-da Amazônia está no cardápio bioeconômico da região (Foto: Conselho Nacional das Populações Extrativistas)

Agregar valor à produção local é outro desafio do consórcio vencedor do processo de licitação. Calderaro dá o exemplo do açaí, como um dos segmentos que precisam ser mapeados para receber esse aporte tecnológico.

“A conta é simples e justifica o investimento. 80 quilos de açaí in natura é exportado, em média, por R$ 250. Ao chegar a Europa, esses 80 quilos dão origem a oito quilos de açaí liofilizado que valem R$ 872, quatro vezes mais do que o comercializado na saída”, explica Calderaro.

Dando continuidade ao processo, a indústria de química fina do exterior transforma esses oito quilos em um pacote com 160 extratos de açaí liofilizado sob o valor de R$ 4.008, dezesseis vezes mais do que valor do saco exportado.

Manejo

Um dos setores que demandam assessoramento são as atividades de manejo florestal, conta Calderaro, incluindo aí tudo que exige soluções tecnológicas. “Isso gera desenvolvimento de produtos diversos, como anticorpos para a indústria de produtos orgânicos, produção/propagação de muda de alto interesse ambiental e comercial, produção de bioinsumos para a agricultura, a partir de microrganismos da região, ou para agricultura, produção de bioplástico para atender uma nova onda que imprime sustentabilidade aos produtos”, ressalta.

Explorando o potencial

Jhassem Siqueira, engenheiro florestal e Analista de Sustentabilidade do Memorial Chico Mendes, também vislumbra avanços com a nova fase do CBA. “Desde a inauguração do CBA a sociedade amazônica aguarda os resultados de suas pesquisas com a biodiversidade local e que estas sejam convertidas em benefícios que agreguem valor para a qualidade de vida das populações locais. Uma promessa que já completou 20 anos, pois o que temos de fato, ao longo de todo esse tempo, é um punhado de falácias dos representantes dos muitos governos que já passaram e que deixaram apenas muita frustração”, disse.

Siqueira cita que a estrutura do CBA, seus equipamentos de ponta e o empenho de excelentes times de profissionais que passaram por lá ao longo do tempo sempre deram o seu máximo para que as pesquisas fossem convertidas em benefícios sociais e ambientais. “No entanto a questão da falta de personalidade jurídica emperrou todo o esforço empenhado. Para a sociedade amazonense tudo que o CBA representa é apenas uma grande ‘anta branca’ encalhada nas entranhas do Distrito Industrial. Não sabemos quem está se beneficiando com todos estes anos de inércia em inovações biotecnológicas. O que sabemos é que a bioeconomia na Amazônia que já era para ser uma referência mundial, ainda encontra-se como algo a ser alcançado”, lamenta.

De acordo com o analista, ex-colaborador do Centro, a região paga caro pelo não aproveitamento de seu potencial e dá algumas sugestões. “As cadeias da sociobiodiversidade sempre tiveram que encontrar outros meios para não ficarem paradas. Ainda permanecemos como nos tempos do Brasil-colônia, enviando matéria prima bruta a um preço baixo para os benefícios de quem a transforma e lucra alto com os produtos no mercado mundial. É preciso uma política séria e comprometida com o avanço da ciência e tecnologia na Amazônia, construindo polos ao longo das calhas dos rios amazônicos no oferecimento e beneficiamento dos produtos locais, com base na sustentabilidade e agregação de valor para as comunidades, sejam ribeirinhas, indígenas e urbanas, e que o CBA seja mais protagonista neste processo”.

De acordo com Siqueira, que integra ainda o Conselho Nacional das Populações Extrativistas, a recente visita de Alckmin mantém acesa a chama do que é desde sempre o papel do CBA. “Que haja uma renovação, de fato, definindo sua estrutura organizacional para que, um dia, possamos sair do patamar de potencial para um de produtividade e geração de qualidade de vida para os que aqui vivem, na calejada e sofrida região amazônica”, finaliza.

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