26/03/2015
Segundo o Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta quinta-feira, a alta do IPCA atingirá 7,9 por cento neste ano segundo o cenário de referência, ante previsão anterior de 6,1 por cento. Em 2016, o IPCA subirá 4,9 por cento, ante estimativa anterior de 5,0 por cento.
A meta de inflação é de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos. O indicador alcançou em fevereiro 7,70 por cento em 12 meses, maior nível em quase uma década.
"O BC jogou a toalha em relação à inflação este ano. Mas para 2016, a projeção é otimista. Acho pouco provável inflação de 4,9 por cento no ano que vem, minha projeção é 5,9 por cento, a não ser que seja mais um ano de recessão", disse o economista - chefe da Canepa Asset, Alexandre Póvoa.
Para Póvoa, ao indicar desaceleração nos preços para o próximo ano, o BC sinaliza fim do atual aperto dos juros. "Nossa avaliação é que haverá mais uma alta de 0,25 ponto percentual em abril, com o BC informando que paralisará o aperto."
Mas ao piorar drasticamente a previsão de inflação para este ano, o BC avaliou que os esforços para controlar os preços têm sido insuficientes.
"Para o Comitê, contudo, os avanços alcançados no combate à inflação -- a exemplo de sinais benignos vindos de indicadores de expectativas de médio e longo prazo -- ainda não se mostram suficientes."
O BC iniciou em outubro passado um novo ciclo de aperto monetário e elevou a Selic em março em 0,50 ponto percentual, para 12,75 por cento ao ano.
Diante da pressão dos reajustes de preços administrados e da valorização do dólar, o BC já não vê mais a inflação iniciando trajetória de queda em 2015, avaliando que os preços deverão continuar elevados este ano.
Com a inflação alta e apesar do cambaleante ritmo da atividade, especialistas consultados em pesquisa Focus do próprio BC veem que o aperto monetário ainda não terminou e projetam a taxa básica de juros a 13,00 por cento no final do ano.
No cenário de referência do relatório de inflação, o BC considerou o dólar constante a 3,15 reais e a taxa Selic no patamar de 12,75 por cento.
Ainda no cenário de referência, a probabilidade estimada pelo BC de a inflação ultrapassar o limite superior do intervalo de tolerância da meta se situa em torno de 90 por cento em 2015 e de 12 por cento em 2016.
A atividade fraca é outro fator que leva alguns analistas a antever fim do aperto monetário no fim do próximo mês.
"Sinceramente, não acho que o BC esticará o aperto para além de abril por causa da atividade, que tende a ser mais fraca ainda do que o BC estima", disse o economista-chefe do BESI Brasil, Jankiel Santos. Também ele aposta em mais uma alta de 0,25 ponto percentual na Selic no fim de abril, com o BC encerrando o ciclo para avaliar efeitos das altas já efetuadas.
Em termos de atividade, a retração de 0,5 por cento projetada para a economia este ano foi calculada considerando retração de 6 por cento na formação bruta de capital fixo (FBCF), uma medida de investimento, e de 2,3 por cento na indústria. Considerou, por outro lado, expansão de 0,1 para o setor serviços e de 1 por cento para a agropecuária.
Para o consumo das famílias e do governo, o BC indica alta de 0,2 por cento e de 0,3 por cento este ano, respectivamente.
Em relação à política fiscal, o BC avalia, por meio do Relatório de Inflação, que aumentos recentes de impostos, ações para redução de gastos públicos e para a execução pública compatível com a arrecadação de tributos, "refletem o comprometimento com o alcance das metas de superávit primário para 2015 e para os anos seguintes".
Para este ano, a meta de superávit primário é de 1,2 por cento do PIB. Para alcançar o alvo, o governo implementa um duro ajuste das contas públicas, mas enfrenta resistências no Congresso para colocar todas as medidas em prática.
Fonte: DCI