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Bancos se comprometem em cortar financiamento a empresas ligadas a desmatamento ilegal

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08/09/2020

Fonte: O Globo

Os três maiores bancos privados do país — Itaú Unibanco, Bradesco e Santander — trabalham para construir um modelo que permita rastrear os elos das cadeias produtivas do país, sobretudo inseridas no agronegócio. Querem impedir o financiamento de empresas ou produtores que promovam o desmatamento. Conversas com grandes frigoríficos já foram iniciadas.

Em julho, as três instituições anunciaram um plano conjunto para contribuir com o desenvolvimento sustentável da Amazônia. No mês seguinte, formaram o Conselho Consultivo da Amazônia. Nesta sexta-feira, os presidentes do Itaú Unibanco, Candido Bracher; do Bradesco, Octavio de Lazari Junior; e do Santander, Sérgio Rial, participaram de entrevista ao vivo à colunista do GLOBO Míriam Leitão.

Assista a íntegra do debate:

Os executivos afirmaram que contribuir para a presenvação da Amazônia e o correto desenvolvimento do agronegócio no Brasil é um compromisso para garantir a expansão da economia do país.

Para chegar lá, dizem eles, será preciso ordenar a cadeia produtiva, eleger produtos nos quais o Brasil vai se destacar internacionalmente — como café e cacau — para avançar e fomentar o crescimento econômico sustentável da região amazônica.

— Hoje, a tradição do comportamento ético se traduz na proteçao do meio ambiente. E se alia a uma necessidade econômica, de negócio. O mercado brasileiro está sofrendo e sofrerá mais as consequências da degradação do meio ambiente, da degradação da Amazônia — disse Bracher. — É nosso melhor interesse e do melhor interesse de todos os nossos clientes defendermos a Amazônia.

Rial sublinhou que os grandes bancos estão "no epicentro das cadeiras produtivas do país" e isso permite ajudar a estimular ações que colaborem para o desenvolvimento de uma economia sustentável.

— Temos de olhar para elas entendendo o que representam para o futuro dos nossos negócios. Uma das vantagens do país é a agroindústria. E os segmentos dessa indústria são interligados globalmente, como a soja e a pecuária. A Amazônia está no centro da vantagem competitiva de longo prazo do Brasil.

Um dos pontos relevantes no projeto é entender como os bancos vão atuar para impedir que produtores e empresas que atuam de forma ilegal sejam financiadas, sobretudo no segmento de produção de carne, ponderou Míriam Leitão.

Conversas com os grandes frigoríficos

Bracher destacou que o foco está em combater o desmatamento ilegal e garantir que ninguém "cuja atividade envolva tirar proveito de bezerros e gado criados em áreas irregulares" seja financiado. Ele afirma que já há conversas em curso com os grandes frigoríficos do Brasil.

— As grandes empresas do setor são fáceis de controlar. E de elas terem controle sobre sua atividade. Já tivemos conversas iniciais com os frigoríficos, já encontramos uma boa vontade deles de assumirem individualmente determinados compromissos, que nós vamos avaliar. E nosso conselho de especialistas está nos ajudando a aprender como o rastreamento da atuação das empresas será feito — contou o presidente do Itaú.

Rial destacou que é preciso atrair as grandes companhias para que o efeito chegue também às pequenas:

— A soja também sofreu um processo de expansão acelerado no Centro-Oeste e as grandes traders do setor criaram uma mesa redonda mesa redonda da soja responsável. Resolveu tudo? Não, nunca se resolve absolutamente tudo. Mas a pecuária vai pelo mesmo caminho. Temos de trazer essas empresas em termos de responsabilização para não fomentar algo ilegal. Trazer os grandes para buscar maior conformidade com os menores. Os incentivos estao mais alinhados com os menores. Para serem testados na fronteira.

Ele destaca que é preciso trabalhar para recuperar áreas atualmente improdutivas. O presidente do Santander diz que é preocupante quando o preço da terra dispara, pelas implicações econômicas em razão da possível aceleração de atividades ilegais:

— A pecuária extensiva acompanha a terra. Quanto mais cara a terra se torna, estrutruturalmente, no longo prazo, maior ameaça a terras que não estão devidamente produtvias. Temos de fazer um trabalho grande nas terras que poderiam ser recuperadas, o que já daria ao Brasil e à pecuária ganhos maiores.

Nesse sentido, será preciso trabalhar para controlar a atuação de toda a cadeia produtiva, para que o crime praticado na ponta por alguns produtores acabe diluído até que a carne chegue à mesa do consumidor.

— Vamos precisar fazer essa rastreabilidade do gado e do boi, desde o momento do nascimento do bezerro até chegar no frigorífico e até chegar ao garfo do consumidor. O conselho está nos ajudando a entender como fazer isso, para trancar e não dar capital e promover quem faz desmatamento indiscrimindado. Esse selo verde, a origem do boi, é o nosso desafio — frisou Lazari Junior.

Regularização fundiária tem de ser discutida

Bracher ressaltou a importância do uso da tecnologia como a de rastreabilidade do gado, do combate ao desmatamento e do mercado de emissão de carbono para uma discussão efetiva da regularização fundiária.

Ele afirmou que estão caminhando para um estágio de medição de toda a emissão de carbono dos portfólios dos bancos. E que rastreabilidade dos produtores e das empresas será importante para reconhecer quem é o proprietário da terra e como é a sua situação em toda a borda amazônica:

— Assim, não se pune quem não deve ser punido e não se facilita que o produtor seja excluído injustamente da cadeia e acabe entrando na marginalidade. A regularização fundiária depende do Legislativo, mas há uma grande parte que depende de tecnologia, para que o agricultor se apresente aos bancos e cresça economicamente.

Para Rial, é preciso que a regularização fundiária “seja uma política de estado e não de um governo”. Ele afirma que o Brasil perdeu um grande oportunidade de discutir o programa de regularização, mas não é tarde para fazer o debate.

— Se o teto dos gastos pode ser uma política de Estado, qual é a política de estado da Amazônia? Temos um código florestal que é exemplo e está sendo cumprido. Resta sabermos quais são os obstáculos para a implementação de um plano de regularização a longo prazo, de modo a ter o capital fluido de forma legal, ordenada e competitiva para culturas que permitem ficar na terra de maneira sustentável.

Tem de ter um acordo no Conresso, cojm um PL que não beneficie o infrator. E que o tamanho da terra e unidades fiscais fosse um tamanho pequeno.

Crédito com juros reduzidos

O crédito será um dos caminhos para estimular a economoa local e a geração de renda na região, diz Bracher.

Questionado pela colunista se os bancos praticariam juros "escorchantes" nessas linhas, o o executivo do Itaú afirmou que não.

— Vamos financiar com juros reduzidos, sem subsídio. É preciso oferecer alternativa de ganho econômico para aqueles que estão na região. Se isso não for feito, será uma batalha sem fim — disse ele.

Para incentivar o desenvolvimento econômico e social da região, Rial defende eleger algumas cadeias produtivas em que o Brasil pode claramente se destacar.

— O sonho é que não sejamos o maior produtor de café e a marca Nespresso seja suíça. Quando a gente pensa no cacau e no chocolate como um grande produto. Temos de pensar em marcas que projetem o produto nacional de outra forma.

É preciso também reavaliar a operação da Zona Franca de Manaus, continua o presidente do Santander.

— Precisamos pensar em como transformar a Zona Franca de Manaus em algo que converse com bioeconomia e ciência. Indústrias de fármacos e cosméticos têm de ser incentivadas. Também a indústria de fármacos, que tem investimento brutal em pesquisa, como vimos agora com a Covid — destacou, falando ainda da imortância de investir nas universidades federais na região e na atração de pesquisadores internacionais.

A participação do governo

Com o aumento do desmatamento e o discurso antiambientalista de membros do governo federal, a defesa do meio ambiente no país ganhou proporções globais. O tema tem atrapalhado a conclusão do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, e fundos internacionais, que administram trilhões de dólares em ativos, mostraram preocupação com as políticas ambientais.

Com isso, os três executivos foram questionados sobre a adesão ou não do governo ao projeto.

— Não devemos julgar intenções e frases. Eu julgo resultados. E os ressultados são muito ruins. Então, precisamos ajudar o governo, o Estado, a Sociedade a reduzir os índices de desmatamento da Amazônia — afirmou Bracher, frisando que a preservação da Amazônia é um projeto de Estado.

Para Lazari Junior, a criação de uma política de preservação da Amazônia é incontornável, porque virá por pressão da sociedade civil e das empresas.

— Passamos décadas tentando obter um acordo de livre comércio com a Europa. Ele não irá adiante se não começarmos a ter melhores resultados em sustentabilidade — diz Rial, do Santander. — Termos um vice-presidente como coordenador (do Conselho da Amazônia) é sinal claro de que precisamos de melhor coordenação. Vi pré-disposição de tentar fazer melhor.

'Prática da mineração deve ser repensada'

Considerada pelos três executivos como um dos maiores desafios frente às discussões propostas pelo plano integrado, a prática da mineração deve ser melhor fiscalizada pelo poder público, segundo Rial:

— Há um novo debate sobre a mineração hoje que conversa com toda uma revolução do mercado das baterias de veículos elétricos pelo uso do níquel. Por isso, é preciso identificar a capacidade como nação de fiscalização destas áreas. É uma conversa da sociedade com o Congresso, porque no fim o que está em questão é a alocação de recursos em um momento de incentivo de busca, como já ocorre com o ouro — destacou o presidente do Santander Brasil.

É preciso também entender como otimizar a área dedicada à mineração, de acordo com Lazari Junior, do Bradesco.

— Há estudos que mostram que é possível fazer uma utilização coordenada e controlada, de modo a recuperar a área com jazidas. Esse assunto está na pauta e vamos entender se é possível fazer e se é o que devemos fazer, ao passo em que devemos questionar se vale a pena explorar o campo de mineração ou se há melhor resultado financeiro em outro campo produtivo. Podemos equilibrar esses dois pratos, mas é um desafio grande para o país.

Cultura indígena como parte da solução

Apesar de não constar entre as dez medidas propostas pelo plano integrado, Rial acredita que a questão indígena permeia essa agenda ao passo em que as comunidades indígenas estão próximas às situações ilegais de mineração e desmatamento.

— É preciso encontrar um caminho cuja agenda econômica viabilize a atividade produtiva de modo sustentável, respeitando a cultura indígena para que ela não se torne parte do problema e sim parte da solução. Devemos pensar como viabilizar a sustentabilidade das comunidades a longo prazo e escalar boas ideias que sejam capazes de travar o incentivo ao ouro ilegal — afirmou o presidente do Santander Brasil.

Lazari destacou a necessidade do uso das técnicas de produção agrícola para minimizar os impactos da produção realizada por indígenas nas reservas.

— Hoje existem muitas técnicas, como o sistema de integração lavoura-agropecuária, por exemplo. O trabalho da Embrapa também é referência e patrimônio para que sejam implementadas produções usando o plantio direto sem precisar de ateamento de fogo e queimadas. A questão indigena surge para aprendermos o que podemos fazer.

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