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Banco Central aperta mais os cintos da política monetária

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29/10/2021

Marco Dassori

Como previsto, o Banco Central resolveu apertar ainda mais os cintos na política monetária, mas a dose ficou acima da aguardada pelo mercado. Por unanimidade, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic em 1,5 ponto percentual, de 6,25% para 7,75% ao ano. A decisão foi motivada pela escalada dos preços dos alimentos, combustíveis e energia, mas a correção na taxa foi a maior em quase 20 anos. Lideranças classistas e economistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio se dividiram em relação à decisão do BC.

Em comunicado, o Copom informou que a instabilidade no mercado financeiro provocada pela decisão de mudar o cálculo do teto de gastos fez o BC aumentar ainda mais o ritmo de aperto monetário. Na avaliação do órgão, os acontecimentos recentes elevaram o risco de a inflação subir mais que o previsto, justificando a alta dos juros. A autoridade monetária informou que também deverá elevar a Selic em 1,5 ponto percentual na próxima reunião do órgão, em dezembro.

“Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico”, destacou o texto.

A última vez em que o Copom tinha elevado a Selic em mais de 1 p.p. ocorreu em dezembro de 2002. Na ocasião, a taxa tinha passado de 22% para 25% ao ano, com alta de 3 p.p. Com isso, a taxa chegou ao nível mais alto desde outubro de 2017 (8,25% ao ano). Foi o sexto reajuste consecutivo na taxa Selic. De março a junho, o Copom tinha elevado os juros em 0,75 ponto percentual em cada encontro. No início de agosto, o BC passou a aumentar a Selic em 1 p.p. a cada reunião. Com a alta da inflação e o agravamento das tensões no mercado financeiro, o reajuste passou para 1,25 p.p. em setembro.

A decisão desta quarta (27) manteve a Selic em um ciclo de alta, depois de passar seis anos sem ser elevada. De julho de 2015 a outubro de 2016, a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018. A Selic voltou a ser reduzida em agosto de 2019 até alcançar 2% ao ano em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela pandemia de covid-19. Esse era o menor nível da série histórica iniciada em 1986.

Mal necessário

O presidente do Sindecon-AM (Sindicato dos Economistas do Estado do Amazonas) e consultor empresarial, Marcus Evangelista, jugou que a decisão do BC foi acertada, uma vez que a inflação não foi contida, até o momento. Mas, não deixou de admitir que a correção vai esfriar ainda mais a economia. “O segmento de captação de recursos para financiamentos será diretamente afetado com essa alta, pois a Selic serve como base para ancorar as taxas de juros. Uma vez elevada, as taxas de juros também sobem, deixando mais caras as operações de crédito. Quem pensava em financiar um carro, passa a pensar bem antes de efetivar a troca do veículo”, exemplificou.

O presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Martinho Luiz Gonçalves Azevedo, salientou que não se trata de perguntar se a decisão foi acertada ou não, mas entender que o movimento foi necessário, em função de o mundo ainda estar saindo da crise da covid-19 e a economia brasileira não ser fechada. O economista considera que apontar apenas os preços administrados e o câmbio como vilões é “discutível”. “Essa é a recomendação ortodoxa: uma das formas de combater a inflação é a política monetária”, justificou. “Vivemos um processo inflacionário em função da oferta, já que faltam produtos, não apenas no Brasil, como no mundo todo”, completou.

O presidente da FCDL-AM (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do Amazonas), Ezra Azury, não deixou de lamentar os efeitos do novo encarecimento do custo do dinheiro no fluxo da atividade, tanto no consumo, quanto no investimento. Mas também considerou que o fim justificou os meios. “A elevação dos juros é sempre ruim para o comércio, que precisa de financiamento para vender. Mas, nesse momento, o nosso maior inimigo é a inflação. Se esse for o remédio que seja logo dada toda a dose”, ponderou.

“Equivoco” e “desespero”

Para o consultor empresarial, professor universitário e conselheiro do Corecon-AM, Francisco de Assis Mourão Júnior, a decisão do Copom teria sido tomada de maneira “equivocada” e motivada “pelo puro desespero”. “O câmbio continua alto, há o aumento dos combustíveis atrelado aos contratos da Petrobras pelos preços internacionais, e a pressão da crise hídrica no aumento da energia. O Banco Central poderia tomar medidas e intervir em relação ao câmbio, para provocar a queda do dólar, mas vem com cautela. Vamos ver se essa alta na Selic para conter a inflação se torna realidade”, desabafou.

Já o também consultor empresarial, professor universitário e conselheiro do Corecon-AM, Leonardo Marcelo Braule Pinto, lembrou que o aumento já era esperado, assim como a retração econômica que deve se seguir a ele. “A base monetária vai diminuir, as empresas não vão investir e sua capacidade instalada vai estagnar ou diminuir. Deve haver mais uma elevação até o final do ano, com efeitos no emprego e renda e na família brasileira. É de se esperar uma queda nos preços, mas ela vai se dar pela falta de demanda, mas não por conta de uma boa administração. Infelizmente”, lamentou.

O presidente do Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Amazonas), Frank Souza, ressalta que todo aumento dos juros impacta no investimento e consumo. Diante disso, o dirigente avalia ser difícil prever cenários tão positivos quanto o de 2021, no curto prazo. “Essa inflação está corroendo realmente, mas essa taxa é danosa, porque reduz o crescimento. Para o Brasil, o PIB de 2022 tende a ser bem baixo. Mas, o setor deve se acima da média. Estamos voltando a tempos anteriores em que a construção civil crescia, mesmo com juros altos. Somos o terceiro setor que mais emprega e há um déficit habitacional muito grande. A gente acredita que a atividade vai dar uma reduzida, mas a confiança se mantém. Não acredito que vai haver uma redução muito grande, se é que vai haver”, arrematou.

Fonte: JCAM

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