08/01/2014
Castro demonstra preocupação especial com as commodities, que, em 2013, contribuíram para amenizar o resultado da balança comercial, o pior em dez anos. Em sua opinião, alcançar o superávit em 2014 dependerá, sobretudo, do comércio de produtos agrícolas, cujas cotações estão em queda. "O cenário preocupa porque não há nada o que fazer, apenas acompanhar e rezar", afirma. Ele ressalta que a pauta de exportação brasileira é muito centrada em commodities, que têm comportamento imprevisível, impossível de ser controlado. "Se algum comprador demandar menos, sentiremos o impacto não só na quantidade, mas também no preço", alerta.
A opinião do presidente da AEB é que a melhora da economia dos Estados Unidos, visível com a extinção gradual da sua política expansionista, não é necessariamente positiva para o Brasil, pois os principais importadores de produtos nacionais são a China e a União Europeia, enquanto o mercado norte-americano, em alguns casos, funciona como concorrente. "Quando os Estados Unidos aumentam a produção de milho, por exemplo, como aconteceu em 2013, mexe com o preço aqui. E, se o concorrente também tem supersafra, é ruim para todo mundo".
O cenário para os produtores agrícolas, em 2013, foi bastante favorável aos brasileiros, por causa da quebra da safra de soja nos Estados Unidos. "Foi o melhor dos mundos para o Brasil. Infelizmente, não é o que vai acontecer em 2014", prevê Castro. Ele enxerga não só uma boa safra no hemisfério Norte, como na Argentina. "Para 2014, a previsão é cair o preço dos agrícolas e, na melhor das hipóteses, manter a quantidade. É um cenário que pode melhorar ou piorar. A safra norte-americana começa a ser plantada em janeiro. Pode ter uma frustração, mas isso é contar com o imprevisto. Pode acontecer no Brasil também, embora nesse momento, estejamos contando com uma safra maior que o do ano passado", afirma.
Com a concentração da pauta de exportação em commodities, a balança comercial está sujeita ainda às especulações, segundo Castro. É o caso do minério de ferro, destinado, principalmente, à China. "Se algo sair fora do planejado em relação ao consumo chinês, sentiremos o impacto diretamente no Brasil".
No caso dos manufaturados, a expectativa é de melhora, por causa do câmbio. Nesse caso, a fragilidade é geográfica, segundo Castro, já que as vendas são muito focadas na América do Sul, com destaque para a Argentina, que, atualmente, passa por um período de instabilidade econômica e de restrição às importações. O presidente da AEB ressalta que 87% das exportações brasileiras de automóveis são destinadas ao país vizinho. E, mesmo para a Venezuela, uma parceira política do Brasil, as fragilidades da economia remetem à proteção do mercado interno.
"Os produtos brasileiros podem até conseguir alcançar um bom preço, mas isso não significa que as compras irão aumentar naquele momento. O efeito da valorização do dólar não é imediato, depende de fatores como negociação de contrato e mesmo da exposição do produto nacional no exterior", diz Castro.
Ele acredita que os leilões de concessões realizados pelo governo poderão funcionar como um incentivo à indústria local, como desenvolvimento da infraestrutura e consequente redução dos custos de produção. Mas a sua expectativa é que os resultados só apareçam no período de três anos. Enquanto isso, o câmbio é o fator de mais influência na balança comercial brasileira."A verdade é que exportação não é prioridade do governo em ano de eleições. A prioridade é a inflação", contesta.
Fonte: Brasil Econômico