03/03/2017
Alta dos preços internacionais das commodities favoreceu exportações, enquanto valorização do real impulsionou as compras externas do Brasil; para especialista, essa trajetória deve continua
Com a alta nas exportações e importações, a balança comercial de fevereiro atingiu superávit de US$ 4,560 bilhões, melhor número para a série histórica iniciada em 1989. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).
O aumento dos preços internacionais de diversos produtos básicos, como petróleo e minério de ferro, foi fundamental para o avanço das vendas externas. Já a valorização do real frente ao dólar, no último ano, impulsionou as compras do exterior.
De acordo com especialistas consultados pelo DCI, esses fatores devem possibilitar resultados melhores para a corrente comercial (soma entre exportações e importações) durante 2017.
"Todas as nossas commodities estão mais caras do que estavam nesse período do ano passado. Alguns casos, como o da soja, já eram esperados, mas ninguém projetava uma melhora tão grande para o petróleo", avaliou José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
As exportações, que já vinham de alta em janeiro, totalizaram US$ 15,472 bilhões em fevereiro, um crescimento de 22,4% na comparação com igual mês de 2016 e de 26,8% ante a média diária de janeiro deste ano.
O principal aumento, na comparação com igual mês do ano passado, veio dos embarques de básicos (+48,3%, para US$ 7,366 bilhões). Entre os itens mais negociados do setor, destaque para as altas de petróleo em bruto (+326,6%), minério de ferro (+126,2%) e soja em grão (+107,2%).
Também foram registrados aumentos nas exportações de manufaturados (+5,7%) e semimanufaturados (+2,0%).
Entre os industrializados, cresceram principalmente as vendas de óleos combustíveis (+480,7%), veículos de carga (+38,8%) e automóveis de passageiros (+31,6%).
Segundo Castro, os dois últimos aumentos estão relacionados a uma melhora da economia da Argentina, um dos principais compradores do setor automotivo brasileiro.
Já a melhora de óleos combustíveis estaria ligada à demanda fraca no Brasil. "Temos uma procura mais fraca, o que gera a venda do excedente."
Na direção contrária das commodities, os produtos industrializados não devem seguir em alta durante todo este ano, apontou Castro. Isso porque o câmbio deve ser menos favorável para essas negociações nos próximos meses.
Importações em alta
As compras do exterior, que já haviam crescido em janeiro, totalizaram US$ 10,912 bilhões em fevereiro, uma alta de 11,8% ante igual mês do ano passado e de 9,4% na comparação com a média diária de janeiro de 2017. No mês, cresceram as importações de combustíveis e lubrificantes (+34,9%) e bens intermediários (+16,3%), mas recuaram as compras de bens de capital (-9,8%) e bens de consumo (-4,4%).
Para o secretário de Comércio Exterior, Abrão Neto, o avanço das importações é um "forte sinal" de retomada da atividade econômica.
Castro, por outro lado, discorda dessa possibilidade. Na opinião dele, as compras realizadas pelas empresas visam a manutenção dos bens de capital e não um aumento da produção interna. "Além disso, a importação de bens de capital caiu. Esse não é um sinal de retomada", acrescentou.
Principais parceiros
Assim como ocorreu em janeiro, a venda para a maior parte de países e blocos comerciais subiu no mês passado.
As vendas para a China, por exemplo, foram puxadas pela valorização das commodities e subiram 86,9%, para US$ 3,6 bilhões. Com isso, o gigante asiático se manteve na primeira posição da lista de principais parceiros comerciais.
Já as exportações para o Mercosul cresceram 22,6%, na comparação com fevereiro de 2016, com destaque para o aumento de 24,9% dos embarques para a Argentina.
Também foram vistos avanços das vendas para os Estados Unidos (+14,5%), que foi puxada pela alta do petróleo, e para a União Europeia (+2,7%), favorecido pelos embarques de soja em grão.
Outros aumentos expressivos aconteceram nas exportações para Oriente Médio (22,6%), Oceania (22,2%) e América Central (+19,3%). No sentido contrário, recuaram as vendas para a África (-5,7%).
Entre as importações, foram registrados avanços importantes nas compras brasileiras dos Estados Unidos (+36,3%), puxadas por óleos combustíveis, e da China (14,4%), que foram ajudadas por dispositivos semicondutores. Também aumentaram as importações do Mercosul (+3,4%), graças a maiores gastos com o trigo da Argentina, e da União Europeia (+1,2%), em grande parte por aquisições de gasolina.
Fonte: DCI