31/07/2018
Alfredo Lopes
Ainda está disponível no portal da Suframa, para registro de
um momento simbólico de renovação e das oportunidades
adiadas de transformação, o ‘Estudo das Potencialidades
Regionais’. A pesquisa foi iniciada em 1998 na gestão Mauro
Costa e concluído em 2003, por Flávia Grosso, ambos
destacados superintendentes da autarquia, comprometidos
em encontrar saídas para nossa região, a um tempo rentável,
próspera, socioambientalmente robusta e politicamente
correta, como insistia o saudoso professor Samuel Benchimol.
Os recursos para este fim, usados legalmente para atividades
econômicas geradoras de emprego e renda, para reduzir
desigualdades regionais e interiorizar o desenvolvimento,
foram minguando desde ali, quando os recursos da ZFM
passaram a ser alvo da cobiça federal. Suframa e governo
estadual lutavam em grupos opostos – algo sempre lastimável
– mas concordavam em reter na região os tais recursos das
taxas da Suframa e compartilhar com todos os estados da
Amazônia Ocidental, além do Amapá, os benefícios que
poderiam ser gerados. Não prosperaram. As empresas
pagavam os serviços da Suframa e o governo FHC resolveu
abocanha-los com a conta única, contingenciando as verbas
de desenvolvimento regional num patamar médio de confisco
na ordem de 80% para outras destinações. Isso se agravou nos
governos seguintes, onde o Amazonas foi muito visitado para
os interessados nos seus bens e não no bem comum de seus
cidadãos.
E quais eram essas potencialidades, cantadas em verso e
prosa, numa apologia capenga, estéril e constrangedora? O
Pará, um vizinho mais aguerrido, que tem projeto e
comunhão da tribo na hora de trabalhar, virou um frisson de
inovação econômica, com algumas lições de economia florestal, mineral e cosmética. Eis algumas de nossas potencialidades que, apesar de se passarem tantos anos, se
comportam com a mesma robustez e obviedade de bem
sucedidos investimentos, mas estão guardadas nos
escaninhos da omissão.
Açaí, Guaraná, Amido de Mandioca, Palmito de Pupunheira,
Cacau, Piscicultura, Cupuaçu, Plantas Para Uso Medicinal ou
Cosmético, Dendê, Produtos Madeireiros, plantio comercial
de mandioca, entre outros, sem mencionar os serviços
ambientais e o acervo mineral, com destaque para os recursos
hídricos. O trabalho ficou a cargo do ISAE, Instituto Superior
de Administração e Economia, criado por Gilberto Mestrinho,
em 1992, com apoio da FGV.
Os estudos não se detiveram na apologia mas no
detalhamento das vantagens de fazer nova matriz de
economia, com definição de área de plantio, definição da
Produtividade, do mercado consumidor, a agroindústria local e os investimentos de implantação. Dessa investida pouca
coisa sobrou, além do projeto Açaí de Codajás, outros com
vitalidade efêmera, pois carecemos de visão empreendedora e
de gestão de projetos.
Além disso, e dos recursos desviados para outros fins, sejamos sensatos pra não dizer coerentes e decentes: faltou o apetite da diversificação, foi escassa a motivação da necessidade de empreender, de seguir criando parâmetros de desenvolvimento sem depredação. Manter a floresta intacta distribuindo emprego é um virtuosismo que se revelará estéril se não avançarmos na inovação, na combinação da manufatura com a poesia da bioeconomia racional, ambientalmente oportunista e onde a economia é partilhada com a ecologia, nessa infinidade das potencialidades amazônicas de uma brasilidade exemplar. Vamos encarar?