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[Artigo]: Oportunidades Amazônicas

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09/11/2021

Sem isso, nem em um século sairemos da situação patética em que estamos: uma montanha de riqueza, onde quase tudo é proibido, mas milhões de dólares são escoados, queimados, contrabandeados, clonados e transportados. Até quando? Até quando deixarmos ou a floresta se acabar. O tempo está passando.

Augusto César Barreto Rocha

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AAmazônia é uma planície de oportunidades, porque há muitas chances de investir, mas elas não são visíveis. Como toda planície, é necessário adentrar, espreitar, caminhar pelos detalhes e, com sorte, encontrar algo que vale realmente o esforço. É muito difícil aproveitar a Amazônia. Se fosse fácil, esta seria uma das regiões mais ricas do mundo, muito diferente do que se vê.

A distância que existe entre realidade e sonho é enorme. Provavelmente maior do que em qualquer outro rincão. Faz séculos que se falam nos potenciais da região. Entretanto, até hoje não se conseguiu verdadeiramente aproveitar sua potencialidade. Qualquer investidor que mergulhe na região deverá ter este entendimento ajustado: a distância entre a oportunidade e a realidade é assustadora, mas se o investidor conseguir caminhar nas entranhas da planície, os resultados poderão ser recompensadores.

A unanimidade pela importância da conservação da floresta de pé, de vez em quanto é colocada em dúvida por algum estúpido disfarçado de poderoso. Entretanto, estes interesses não perduram, mas corroem a floresta. Isso é sempre preocupante e o potencial é reduzido a cada ano. Segundo levantamentos feitos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2020), por meio da taxa baseada nos dados gerados pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite, este fato pode ser demonstrado na Figura 1.


Figura 1: Taxas consolidadas de desmatamento anual por estado da Amazônia Legal Brasileira na série histórica do PRODES (em km²). – Fonte: INPE (2020)

Apesar da percepção para muitos deste decrescimento em relação aos últimos anos, quando se olha no longo prazo, este gráfico não é nada apreciável para aqueles que sabem da importância da região e da sua floresta de pé. Quando se desmata, o potencial para uso da força da natureza é reduzido. A questão de fundo é: quão inteligente será o uso deste recurso? Sair das paixões pelos lados e passar para o núcleo do problema: gerar riqueza a partir do quilômetro quadrado da região, sem destruí-la e, com isso, construir riquezas para todo o sempre. Ir além do pasto e da soja. Esta é a oportunidade.

Encontrar um caminho sustentável, sem o “greenwashing” de um “sustentável-fake” é o desafio. Afinal, sustentável prevê um tripé econômico, social e ambiental. Em geral, quem fala em sustentável para a região somente pensa em uma parte: ambiental e se esquece dois demais elementos do tripé. A região é assim: cheia de paixões, com pouca inteligência, pouca ciência aplicada, muita usura, muito furto e pouca objetividade para a construção de riquezas sistêmicas. É fácil se perder na planície e na sua miríade de produtos.

Não faltam superlativos para a região. Construir a inovação tecnológica numa área como esta é o grande desafio de todos nós, seres humanos habitantes do planeta Terra. Tal qual outras preciosidades naturais do globo, como a Antártida, os Alpes, os Oceanos, os Desertos, todos no planeta possuem alguma quota de responsabilidade sobre a região. Entretanto, cabe aos seus habitantes o principal quinhão sobre esta riqueza e esta responsabilidade.

Diferentemente dos Alpes, ainda não temos os habitantes da região Amazônica puxando para si esta tarefa. Brasília não deixou, São Paulo não quis, a Europa atrapalhou ou os Estados Unidos não gostaram. Estamos normalmente envoltos em pautas que não são nossas e que não nos interessam, mas temos aceitado esta condição por motivos históricos, objetivos (Cabanagem) e subjetivos (Zona Franca de Manaus), mas é a realidade em que nos encontramos. Enfrentar e mudar esta condição é o grande desafio dos anos 2020-2030: assumir as rédeas do futuro da região. Quanto mais tardarmos a isso, mas pobres seremos: de natureza, de espírito e de dinheiro. Simples assim.

Este livro percorre alguns destes caminhos: a construção de uma Amazônia mais desenvolvida. A construção da inovação tecnológica para a biotecnologia é sem dúvida um dos caminhos. Entretanto, como transformar a copaíba em remédio? Há tantas barreiras, que os pesquisadores se cansam. Como transformar o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) em algo além de um prédio? Décadas perdidas e só desânimo. Como transformar as pesquisas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em produtos, além de artigos científicos? Não dá.

O convite está posto. A mesa é farta. Entretanto, não sabemos como nos aproximar. Não sabemos as regras. Não há padrões. Teremos que ter a humildade de assumir isso e até agora ninguém teve esta coragem e esta audácia: enfrentar a complexidade da região correndo alguns riscos de errar. A busca eterna por uma perfeição impossível é o que nos trava. Como fazer algo sem errar? É impossível. Como explorar algo mais, além dos peixes e das águas, sem destruir? Completamente possível. Como explorar o açaí? Completamente possível. Como fazer isso dentro da legalidade, com escala industrial? Há um vácuo. Faltam leis, estradas, portos, pessoas, tecnologia, conhecimento, prática, equilíbrio de custo, dinheiro… Em duas palavras: falta tudo.

Assim, não se sai do lugar. Assim, não se produz. Do Amapá ao Acre. De Roraima ao Tocantins. De Rondônia ao Maranhão. Do Bailique a Barcelos. É desolador o quanto o país e a humanidade desperdiçam de recursos na região. O conhecimento tradicional está posto. Enfrentar a complexidade, aceitando o erro. Chegar neste modelo o quanto antes é o que se anseia.

Isso é um desafio de quanto tempo? Uma década. Dez anos, com um conjunto de pessoas com interesse pelo país, com trânsito no Congresso, apoio dos Governos, da Academia e uma linha de investimento para a Biotecnologia colocando pesquisadores do mundo inteiro, voltados para um objetivo maior. Assim, sairá algo. Sem isso, nem em um século sairemos da situação patética em que estamos: uma montanha de riqueza, onde quase tudo é proibido, mas milhões de dólares são escoados, queimados, contrabandeados, clonados e transportados. Até quando? Até quando deixarmos ou a floresta se acabar. O tempo está passando.

Augusto César é Professor Associado UFAM, Doutor em Engenharia de Transportes pela UFRJ, Mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC, especialização em Gestão da Inovação pela Universidade de Santiago de Compostela – Espanha. Possui ainda certificado em Estratégia e Inovação & Gestão e Liderança pelo Massachusetts Institute of Technology – Estados Unidos. Leciona para graduação – Engenharia Civil, Mestrado – Design & Engenharia de Produção e Doutorado – Biotecnologia. Empresário, também atua voluntariamente como Diretor Adjunto na Federação da Indústria do Estado do Amazonas.

Publicado em: https://brasilamazoniaagora.com.br/oportunidades-a...

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