CIEAM | Centro da Indústria do Estado do Amazonas CIEAM | Centro da Indústria do Estado do Amazonas

Notícias

Artigo: Amazônia agrícola, China líder mundial na produção de tambaqui

  1. Principal
  2. Notícias

27/09/2021

Osíris M. Araújo da Silva

Com ciência e tecnologia, a Amazônia Legal vem se transformando, nos últimos anos, em um grande polo de produção de alimentos. Uma amostra pode ser evidenciada pelos estados de Mato Grosso, o maior produtor nacional de algodão, soja, rebanho bovino e milho; Pará, o primeiro lugar em mandioca, laranja, abacaxi e cacau, dendê e açaí; e Rondônia, na criação de peixes. Distinção também cabe à produção de café canéfora (conilon e robusta) em Rondônia, a segunda maior do Brasil, e à produção de leite, a maior entre os estados das regiões Norte e Nordeste. Maranhão e Tocantins se destacam entre os líderes da produção de grãos do Brasil.

O Acre tornou-se um grande produtor de farinha. O Amapá avança no reflorestamento, Roraima cresce na criação de peixes; Tocantins é o terceiro produtor nacional de arroz, entre outros. Expressiva fatia dessa performance deve-se à mudança do processo de “pecuarização” para a “agriculturização”. A pecuária, informe de alta relevância, cede espaço das pastagens para a expansão da agricultura tecnificada com base nas conquistas tecnológicas da pesquisa.

Tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e instituições parceiras, como o sistema plantio direto, com 46 milhões de hectares em uso no País; a fixação biológica do nitrogênio, com 40 milhões de hectares; a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), com 17 milhões de hectares; controle biológico, com 10 milhões de hectares, enquanto o Programa Balde Cheio e os Sistemas Agroflorestais (SAFs) já são utilizadas em larga escala na região. Há enorme movimentação de tecnologias agrícolas do Sul e do Sudeste em direção à Amazônia, como no caso de grãos, reflorestamento e pecuária.

A síntese preambular refere-se ao artigo “Amazônia como polo mundial de produção agrícola sustentável”, publicado na revista A Granja, de maio de 2021, de autoria do pesquisadores Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental; Alaerto Luiz Marcolan, chefe da Embrapa Rondônia e Judson Ferreira Valentim, presidente do Portfólio Amazônia da Embrapa. Otrabalho, de leitura obrigatória, desenvolve importante diagnóstico da conjuntura agropecuária regional. Para os autores, “na região da Amazônia Legal, o avanço de cultivos de grãos como soja, arroz, algodão e milho, além de espécies como dendezeiros, cacaueiros, cafeeiros, cupuaçuzeiros, açaizeiros, castanheiras, laranjeiras, coqueiros, jambus e urucuzeiros e até reflorestamento têm ocorrido pela mudança de perfil da “pecuarização” para a “agriculturização”. Na base, ciência e tecnologia e respeito ao meio ambiente.

A despeito de dificuldades de porte oriundas do baixo nível de investimentos em P&D, é possível, também no Amazonas, desenvolver novos sistemas produtivos na agropecuária, levando-se em conta avanços de cadeias produtivas promissoras nos campos da fruticultura tropical, a avicultura, agronegócio no sul do Amazonas, manejo sustentável de produtos florestais e pau-rosa, dentre outras essências largamente utilizadas nas cadeias de biofármacos e biocosméticos. Quanto à piscicultura, aqui pouco evolui em decorrência dos baixos investimentos em ciência e tecnologia. Enquanto isso, o tambaqui rompeu fronteiras internacionais, espichou os olhos, nacionalizou-se chinês e nos deixou perdidos em nossa própria incompetência.

Com efeito, em menos de 30 anos de adaptação e aclimatação, a criação do tambaqui em cativeiro levou a China à condição de maior produtor e maior exportador mundial do peixe. Como o tambaqui chegou à China? Diz a lenda que, em 1992, durante a ECO-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Cúpula da Terra, o então governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho, teria presenteado o Primeiro Ministro Deng Xiaoping certa quantidade de alevinos da espécie, cuidadosamente embalados em saco plástico. O mimo foi levado pelo líder chinês em sua bagagem diplomática para cultivo no país asiático.

No que respeita à produção de borracha na Amazônia, há de se dispensar particular atenção à perda da liderança mundial a partir da segunda década do século XX, fato que decretou o fim do ciclo áureo do produto e levou a economia regional à bancarrota. A origem do problema foi o famoso "roubo de sementes", há cerca de 150 anos, pelo britânico Henry Wickman, que as transportou para Londres, e daqui para o Sudeste da Ásia, onde o cultivo prosperou impulsionado portecnologia de ponta desenvolvida pelos ingleses. Na Malásia, então colônia britânica, a seringueira, livre do mal das folhas, encontrou solo fértil. Fatores que propiciaram ao país assumir, diante da falência dos seringais amazônicos, a liderança mundial daprodução e comercialização da goma elástica. A expansão da oferta internacional causou de imediato dramática redução dos preços internacionais do produto e a completa reestruturação do mercado mundial da borracha, já em efervescência face às inovações tecnológicas oriundas da Revolução Industrial inglesa da metade do século XIX.

Consequentemente, diversificar a economia via integração do Polo Industrial de Manaus à bioeconomia, como se pode intuir, não é, de fato, tarefa tão simples.

Manaus, 27 de setembro de 2021.

Coluna do CIEAM Ver todos

Estudos Ver todos os estudos

Diálogos Amazônicos Ver todos

CIEAM | Centro da Indústria do Estado do Amazonas © 2023. CIEAM. Todos os direitos reservados.

Opera House