13/08/2021

A despeito das turbulências políticas e econômicas que assolam o País, a Zona Franca de Manaus mostra resiliência e solidez, exibindo ótimos resultados em termos de produção, faturamento e geração de empregos. Evidente que o êxito não abarca todos os segmentos e o incremento da produção apresenta diferentes graus entre as fábricas. Mas, no geral, o desempenho da Zona Franca mostra um fôlego raro em um País que ainda tenta se reerguer em meio à tragédia da covid-19.

No entanto, os bons resultados, que se mantém apesar da crise sanitária e de todas as demais crises do passado, não são garantia de que o modelo de desenvolvimento amazonense é “vacinado” contra mudanças no cenário macroeconômico. Os bons resultados da indústria local têm um contraponto: o encerramento da produção de televisores da marca Panasonic. No entanto, cabe ressaltar que a decisão da gigante japonesa não está relacionada ao cenário político-econômico do País ou a características específicas da Zona Franca. Segundo informa a própria empresa, a mudança faz parte da estratégia global da companhia, que pretende focar em outras frentes de negócios.

Porém, não se pode ignorar que o modelo já perdeu nas últimas décadas uma parcela significativa de se sua competitividade, como resultado de políticas inadequadas promovidas pelo próprio governo federal e também por uma dificuldade manifesta em se ajustar às mutações permanentes no mercado mundial. Seria essencial para seu fortalecimento que o modelo conseguisse atrair para Manaus a produção de itens de vanguarda, componentes de alto valor agregado e produtos ligados ao desenvolvimento tecnológico de ponta, se possível, desenvolvidos localmente. Algo assim chegou a ser ensaiado, com o incentivo à produção local de softwares. Porém, a falta de consistência e mesmo de continuidade do programa mantiveram no papel o projeto de um polo de aplicativos no Amazonas.

Isso sem mencionar o eterno projeto de desenvolver por aqui produtos baseados em matéria-prima da floresta. Este, sim, seria um passo e tanto rumo à perenidade do modelo. Seria a garantia de que, mesmo após o fim dos incentivos, a indústria de produtos amazônicos permaneceria. Hoje, esse plano é quase uma utopia, mas quem sabe... Por enquanto, com os produtos “de sempre”, a Zona Franca vai permanecendo.

Fonte: Editorial - Acrítica