18/09/2018
Notícia publicada pelo Estadão Conteúdo
A exportação de veículos, que bateu recorde no ano passado e
ajudou a minimizar as perdas do setor durante a retração do mercado
interno, voltou a perder espaço nos negócios das montadoras. Não só
porque a demanda do consumidor brasileiro tem subido novamente, mas
principalmente porque dois dos principais mercados no exterior, a
Argentina e o México, têm diminuído os pedidos.
De janeiro a agosto deste ano, o número de veículos exportados,
considerando todos os destinos, somou 486,4 mil unidades, entre
automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, uma queda de 4,6% em
relação a igual intervalo do ano passado, segundo dados da Associação
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O volume
representa 25% do total produzido pelas montadoras no período. Em
2017, quando as exportações atingiram máxima histórica em unidades,
essa participação foi de 28%, a maior desde 2005.
É a primeira vez desde 2014 que as vendas ao exterior perdem espaço na
produção das montadoras. Os anos de aumento da participação se deram
principalmente enquanto o mercado interno despencava, na esteira da
crise econômica. Com o consumidor brasileiro sem apetite para comprar
carros novos, as montadoras voltaram suas atenções para o exterior,
especialmente para a Argentina, que estava com o mercado aquecido.
Agora, a situação se inverte. Os argentinos, que consomem cerca de 70%
dos veículos brasileiros vendidos ao exterior, vivem uma crise nanceira,
com juros básicos a 60% ao ano e a moeda local cada vez mais
desvalorizada. De janeiro a agosto, os embarques para lá caem 4% em
relação a igual período do ano passado, de 358 mil para 344 mil unidades.
Outro mercado relevante, o México reduziu pela metade as compras de
veículos brasileiros, de 61,5 mil entre janeiro e agosto do ano passado para
31 mil em igual período deste ano. A demanda é afetada principalmente
pelas incertezas que surgiram depois que o presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, ameaçou revisar acordos comerciais com o país.
Ao mesmo tempo em que destinos importantes diminuem os pedidos, o
mercado brasileiro consolida sua recuperação, iniciada em 2017. No
acumulado de 2018 até agosto, as vendas crescem 14,9%, o que contribui
para diminuir a importância das vendas ao exterior na produção.
Apesar de comemorar a retomada do mercado interno, o setor se frustra
com a menor relevância das exportações. Quando o mercado externo
crescia, executivos armavam
que o maior objetivo era manter o fôlego,
para diminuir a dependência da produção a oscilações da demanda
brasileira.
Com as frustrações na Argentina e no México, a Anfavea vai revisar novamente para baixo a projeção para exportações, em 2018. No início do ano, esperava crescimento de 5%. Em meados do ano, passou para estabilidade. No mês que vem, deve revisar para queda. “Não vamos repetir o recorde do ano passado”, disse o presidente da associação, Antonio Megale.
O economista Fábio Silveira, sócio da consultoria MacroSector, que
também revisou para baixo sua previsão para vendas ao exterior, de alta
de 7% para recuo de 8%, acredita que, em 2019, as exportações devem
continuar perdendo relevância na produção. Ele espera uma nova queda
nos embarques e um crescimento de 7% a 8% no mercado doméstico.
“Depois de a Argentina ter entrado nessa crise, vai levar um ou dois anos
para se recuperar. Não sonhemos com uma grande recuperação da
exportação de veículos para lá”, disse Silveira.