06/07/2022
Insegurança nos rios>
Representante das empresas de navegação fez um apelo, na manhã de ontem, durante audiência pública na ALE-AM, para instalação imediata de três bases de combate à ação de piratas nos rios do Amazonas nos rios Solimões e Madeira.
Base Arpão
A SSP informou que desde agosto de 2020, a Base Fluvial Arpão, na calha do Solimões, tirou de circulação R$ 131 milhões de recursos ilícitos.
40
milhões de reais
Esse foi o prejuízo, relatado pelo Sindarma, dos roubos a embarcações em dois anos. Representante das empresas de navegação alertou, em audiência na ALE-AM, sobre os prejuízos provocados pelos assaltos a embarcações.
GIOVANNA MARINHO
giovanna@acritica.com
Presidente do Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial do Amazonas (Sindarma), Galdino Alencar defendeu, ontem, na tribuna da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM), a instalação urgente de três bases policiais para combater a ação de piratas nos rios do Estado que, nos últimos dois anos, provocaram prejuízos de cerca de R$ 40 milhões ao segmento.
“Precisamos instalar três bases. Uma na orla de Manaus, dando segurança nesses assaltos constantes. Uma no Paraná do Mocambo, entre Parintins e Itacoatiara, e uma no rio Madeira. E precisamos disso de imediato para continuar navegando com segurança”, reivindicou o empresário após descrever a rotina roubos ã embarcações.
Galdino afirmou que o governo paraense intensificou o combate a esse tipo de crime pratica nos rios, o que, na avaliação dele, provocou a migração da pirataria para o Amazonas. “O Pará começou a colocar bases, apertando a bandidagem lá. Parte dessa bandidagem começou a subir para o Amazonas, que ainda não tomou as providências necessárias para coibir esses assaltos. Já fizemos várias reuniões com Secretaria de Segurança, com a Marinha, Ibama, Ipaam, Polícia Federal para coibirmos essa pirataria, essa bandidagem aqui no Amazonas”, disse o sindicalista.
Para ele, se o poder público não agir de forma célere o problema vai se intensificar e provocar uma “tragédia” na medida em que os piratas usam armas de grosso calibre. “E isso vai chegar aqui na cidade junto aos barcos de passageiros, e eu estou alertando isso para que não haja uma tragédia porque eles andam fortemente armados, com fuzis, estão capitalizados, porque nos últimos dois anos foram mais de R$ 40 milhões em roubos. Isso é um problema sério aqui pro Amazonas”.
MODUS OPERANDI
Galdinho relatou que os bandidos chegam em lanchas com a logo da Marinha e tripulantes fardados, se aproximam e emitem um sinal sonoro pedindo parada. O que parece mais uma fiscalização, no entanto, vira um verdadeiro pesadelo para a tripulação do barco. “A pirataria, os bandidos, chegam com lanchas adesivadas da polícia, com uniforme da Marinha, com giroflex. Os comandantes reduzem a velocidade dos barcos. Os piratas tomam o barco, passam quatro dias navegando e roubando o barco. Já houve casos de lanchas rápidas serem assaltadas no rio Madeira, passageiros espancados. Temos que tomar uma providencia sobre isso” disse o empresário.
Mas cedo, em entrevista à Rádio Tiradentes, Galdino ressaltou que a insegurança nos rios pode levar ao desabastecimento de vários municípios.
“Além desses assaltos milionários eles agem com truculência e tem agredido tripulantes, mutilando tripulantes e trazendo uma grande dificuldade para que nos possamos continuar o nosso trabalho e abastecendo os municípios do Amazonas. Isso causou uma crise grande no nosso setor, inclusive, com risco de desabastecimento, porque além de abastecermos todos os municípios [do Amazonas] com acesso fluvial nos abastecemos parte de Roraima, Rondônia e Acre”, alerta Galdino.
Galdino disse que apesar do apoio da SSP e da Marinha as ações não são constantes. Além disso, por conta das grandes distâncias, do momento em que ocorre um ataque, até o registro do boletim de ocorrência, podem se passar mais de três dias, inviabilizando a rápida ação das forças de segurança.
Na quarta-feira, o sindicato, em Assembleia Geral, encaminhou um ofício para as distribuidoras de combustíveis reivindicando o pagamento de escoltas de segurança e a contratação e pagamento dos seguros das cargas pelas próprias distribuidoras.
Frase
“O Pará começou a colocar bases, apertando a bandidagem lá. Parte dessa bandidagem começou a subir para o Amazonas, que ainda não tomou as providências para coibir esses assaltos”.
Galdino Alencar
Presidente do Sindarma
Prefeito confirma insegurança
A insegurança nos rios tem sido observada também pelas lideranças municipais. O vice-presidente do Instituto de Desenvolvimento Ambiental Social Econômico dos Municípios do Amazonas, Frederico Júnior, prefeito de Novo Airão, disse que a situação mais complicada dentre as prefeituras é na região do Alto Solimões.
O prefeito reconhece a preocupação com as embarcações que trafegam pela região do Amazonas e da possibilidade de que isso possa afetar principalmente os municípios que recebem uma grande quantidade de cargas.
“Não é de hoje que nós observamos isso. Aqui no município mesmo, há alguns anos, atrás houve um problema com os piratas d’água, envolvidos com o tráfico de drogas também, mas graças a Deus com o apoio do governo do estado temos a Base [Fluvial] Tiradentes pegando toda a região do Alto Rio Negro. Depois que a base Tiradentes veio pra cá a quantidade de drogas apreendidas foi algo gigantesco”, declarou o prefeito.
SSP já se reuniu com sindicato
A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) disse que recebeu representantes do Sindarma, ouviu as demandas da categoria. Disse que atua por meio de operações e que em maio deste ano prendeu quatro pessoas suspeitas de participarem de roubo de combustíveis.
As regiões citadas pelo sindicato como as mais perigosas, são atendidas por meio da Operação Hórus, coordenada pelo Ministério de Justiça e Segurança Pública (MJSP) em parceria com o Estado, segundo a SSP.
"A ação integra a operação Fronteira Mais Segura, através do Gabinete de Gestão Integrada de Fronteiras e divisas (GGI-F), da SSP-AM, com policiais de tropas especializadas da Polícia Militar do Amazonas (PMAM) deflagrando operações diárias, seja por meio terrestre ou fluvial, com o objetivo de combater a criminalidade", disse a pasta em resposta à reportagem.
Ainda conforme a SSP-AM, de 2019, até maio deste ano, a operação Hórus, realizada em municípios do interior do estado, soma mais de R$ 952,4 milhões de prejuízo ao crime. E, desde agosto de 2020, a Base Fluvial Arpão, localizada na calha do rio Solimões, tirou de circulação R$ 131 milhões de recursos ilícitos.
Além disso, policiais militares, civis, bombeiros e agentes do sistema de segurança pública atuam na localidade, realizando abordagens em embarcações para coibir práticas criminosas. O projeto da Base Arpão II, que será instalada no Rio Negro, está em fase de licitação para reforma e estruturação.
"Para as ações de policiamento, as forças de segurança do estado contam com cinco lanchas blindadas equipadas com armamento para patrulhamento das hidrovias", declarou a secretaria.
Marinha diz que está presente
Capitania dos Portos afirmou que cumpre com suas atribuições e atua em coordenação com outros órgãos
Questionada sobre a insegurança nos rios do Amazonas, a Marinha informou, por meio de nota, que conforme previsto na Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário, compete à autoridade marítima fiscalizar o cumprimento das normas que garantam uma navegação sem acidentes, a salvaguarda da vida humana e a prevenção da poluição hídrica.
Disse que a Marinha do Brasil, por meio das Organizações Militares subordinadas ao Comando do 9o Distrito Naval, atua nos rios da Amazônia Ocidental cumprindo suas atribuições, de acordo com a Lei Complementar n." 97/1999, de “implementar e fiscalizar o cumprimento de leis e regulamentos, no mar e nas águas interiores, em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, Federal ou Estadual, quando se fizer necessária, em razão de competências específicas”.
Ressaltou que cabe, também, à Marinha, cooperar com os órgãos públicos, quando solicitado por estes, na forma de apoio logístico, de inteligência, de comunicações e de instrução. Disse que realiza periodicamente o Fórum Permanente de Segurança da Navegação Fluvial na Amazônia Ocidental, com coordenação da Capitania dos Portos da Amazônia Ocidental e do Centro Técnico de Formação de Fluviários da Amazônia Ocidental.
Explica que o objetivo do fórum é reunir diversos representantes de organizações públicas, entidades e agências da região para incrementar a mentalidade de segurança na navegação na região, como também discutir assuntos como seca do rio Madeira, cheias recordes, segurança das embarcações contra "ratos d'agua", proteção das fronteiras e sinalizações náuticas.
“Assim, a Marinha do Brasil encontra-se presente nos rios da Amazônia Ocidental e tem cumprido suas atribuições legais e atua, sempre em coordenação com os demais órgãos públicos, na condução dos assuntos relacionados ao enfrentamento de atividades ilegais nas Águas Jurisdicionais Brasileiras”, diz a nota.
Fonte: Acrítica