04/09/2018
Alfredo Lopes
Celebrar o Amazonas e a Amazônia neste 5 de Setembro
sugere um dia de reflexão
e ação para decifrar essa esfinge
que
podemos ver devorada. Ou, quem sabe, transformada num
patamar de inovação de que o mundo precisa para oferecer
respostas novas e arrojadas para velhos imbróglios nacionais.
Um deles é exatamente a incompetência clássica do país – e
seu governo central – gerenciar esse monumental patrimônio.
A quem competirá, prioritariamente, o alerta em torno deste
desafio
senão aqueles que aqui vivem e fazem desta região
uma assustadora razão de viver?
Compreender o diferencial da economia e do bioma do Estado
do Amazonas, integrá-lo nas várias Amazônias que se nos
oferecem, desde a Amazônia dos recursos hídricos, dos
Campos Gerais, das Cordilheiras que as hidratam, dos 20% da
genética planetária, é programa de toda a vida e batente
permanente. Aziz Ab’Saber dizia que a tarefa de inventariar a
Amazônia é inesgotável.
Um dos grandes momentos da Conferência de Gestão da
Amazônia, encerrada neste 31 de Agosto, foi reunir algumas
das principais lideranças acadêmicas da região para debater
compromissos e responsabilidades comuns com relação ao
futuro da região. Como sair do debate sobre os atores da
gestão deste bioma, suas estratégias e métricas esperadas
para arregaçar as mangas e não fazer desta primeira reunião,
de fundamental importância, mais uma reunião de propósitos
e projetos de gaveta?
Compartilhar essa tarefa com quem está com a mão na massa
da preparação acadêmica e profissional
das novas gerações,
combinar a integração dessas rotinas e alinhar algumas
metodologias de trabalho, tendo em vista um futuro comum
é, no mínimo, coerente e promissor, considerando a
grandiosidade da empreitada.
Um exemplo de programação compartilhada é encarar a
precificação
dos serviços ambientais da
Amazônia. Obviamente que o contexto estrutural de um
desao
dessa envergadura é um contexto de Brasil, e sua
interação com um mundo em transformação. Estamos
vivenciando momentos de rupturas, quebra de paradigmas,
um novo parto está a caminho. Os ‘papers’ produzidos pelos
pesquisadores são prenúncio desta mudança. O convite para
inaugurarmos um novo ciclo de desenvolvimento está
colocado. Não significa
abrir mão do modelo existente.
A ZFM é um acerto fiscal
de redução das desigualdades
regionais sem precedentes. Precificar
seus serviços
ambientais significa
exigir a contrapartida da infraestrutura.
Anal,
de cada R$10 bilhões que recolhemos aos cofres
federais recebemos de volta menos de R$3 bilhões. Caso essa
permuta constitucional fosse equilibrada, poderemos conferir
competitividade ao polo industrial existente, com logística de
transportes, comunicação de melhor qualidade e preço
competitivo, e distribuição inteligente de energia, e contar
com investimentos para usar 20% que a Lei permite no
manejo inteligente do bioma florestal.
Que lideranças devem
conduzir esses processos, quais as estratégias mais ecazes
de
mobilização e execução e, sobretudo, que resultados
queremos alcançar, traduzido em métricas e projeções. A
lição, portanto, sabemos de cor, os gargalos delineados –
incluindo a indiferença política que nos compete mudar – só
nos resta empreender. Vida longa aos amazônidas e seus
aguerridos parceiros e parceiras dessa utopia que devemos e
podemos antecipar.