28/03/2017
Por Denis Benchimol
Publicado em Infomoney/Bloomberg
São Paulo importa 57% da energia consumida no Estado das hidrelétricas da Amazônia, e pesquisas do INPE mostram que a grande maioria da energia hidrelétrica brasileira é gerada com águas que passaram pelo ciclo de rios voadores na Amazônia, que abastecem com chuvas os reservatórios hidrelétricos espalhados Brasil afora. Quanto o consumidor paga e quanto a Amazônia recebe de compensação por este serviço? Ou ainda, qual a contrapartida para seus moradores ou empreendedores que geram oportunidades conservando uma floresta que fixa 20 bilhões de toneladas de carbono emitido pela civilização?
A floresta funciona como uma bomba biótica que movimenta a evapotranspiração, mantendo o ciclo que une a umidade do Atlântico na direção dos Andes e daí migre para o centro-oeste, sudeste e sul do país. Este é o ciclo dos rios voadores. Estima-se que uma árvore adulta “bombeia” até 500 litros de água por dia. Sem a floresta, a água retida pelas árvores, se juntaria aos já robustos rios amazônicos de volta no oceano Atlântico, sem gerar a energia hidrelétrica na qual o Brasil depende. Nos anos de 2014 e 2015 o Brasil viveu uma crise hídrica que demonstrou exatamente este risco, enquanto os rios no Acre e Rondônia tiveram enchentes recorde.
Vamos fazer contas. O desmatamento de 1% da Amazônia, significaria 1% a menos de chuvas para os reservatórios de hidrelétricas e 1% a menos de energia hidrelétrica gerada no Brasil. As estimativas científicas de chuvas não são precisas, mas em geral envolvem previsões de menos chuvas e maior volatilidade no volume de chuvas sazonal. Numa relação linear, porém, temos o dado de que, no Brasil, mais de 90% da energia gerada é hidrelétrica, a um custo em torno de R$100 por MWh. Já a energia térmica tem custo entre R$500 e R$800 por MWh (assumamos R$650 para cálculo). Portanto, considerando o consumo energético nacional de cerca de 500 milhões de MWh ao ano, uma redução da cobertura vegetal na Amazônia de 1% faria com que a produção hidrelétrica caísse 4,5 milhões de MWh. Estes, se substituídos por energia termelétrica, gerariam custos ao consumidor brasileiro de R$2,5 bilhões ao ano, ou cerca de R$40 bilhões de valor presente.
Se considerarmos que a Amazônia tem 500 milhões de hectares, podemos considerar que cada hectare florestado gera de valor para o consumidor energético nacional cerca de R$8 mil. Admitindo que o valor de mercado de um hectare na Amazônia em geral varia entre R$100 e R$5 mil, dependendo de local e logística, identifica-se que as externalidades positivas da Amazônia à economia nacional estão dramaticamente subavaliadas.
Ponderemos a economia da Zona Franca de Manaus e os inúmeros estudos científicos revisados pela academia, como os “Instrumentos Econômicos para Proteção da Amazônia” de Rivas, Mota & Machado de 2009. Eles apontam que a indústria sem chaminés da Zona Franca de Manaus permitiu que o Amazonas reduzisse a pressão ambiental sobre a floresta. Basta considerar a taxa de desmatamento histórica do Amazonas de 0,03% ao ano versus a média amazônica de 0,2% ao ano. Se o Amazonas tivesse o ritmo de desmatamento médio dos demais estados da Amazônia, o custo adicional ao consumidor de energia brasileiro seria de mais de R$2 bilhões pelo desmatamento de apenas um ano.
Daí a necessidade de alternativas sustentáveis na Amazônia. A Zona Franca de Manaus é um exemplo. Que outros temos? Alguns incipientes de grande potencial econômico e de pequeno ou nulo impacto ambiental incluem nanobiotecnologia de cosméticos, fármacos e nutracêuticos, piscicultura, pecuária intensiva, manejo florestal sustentável, dentre outros, muitos possíveis de serem executados em áreas já degradadas. Não há proteção florestal sem valoração econômica da biodiversidade amazônica.