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Amazônia: apropriações usurpadoras da prosperidade

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15/02/2022

A pobreza possui muitas dimensões. Uma “pessoa de parcos recursos”, pode ser alguém desprovido de dinheiro ou alimentos, mas também pode ser alguém desprovido de qualquer outra coisa. Temos empobrecido os debates com respeito à Amazônia. Aliás, temos empobrecido todos os debates no Brasil. Tão pobre que até as frases como “precisamos de mais educação” pararam de ser usadas.

Vê-se um crescente culto da ignorância e da morte. Como se fosse “descolado” pronunciar leseiras. Assim, fica enaltecida a estupidez. Precisamos mudar, recuperando a capacidade de raciocinar coletivamente. De acordo com Jose Carlos Ruiz, “a arte de pensar se reduz a conhecer as circunstâncias que nos cercam e saber interpretar adequadamente ao contexto”.

O fenômeno certamente não é novo ou único na história, mas é importante ficarmos atentos, porque sob o manto de construir isso ou aquilo, vem junto uma destruição indesejada e indecente. É temerário o que está sendo feito na região e está muito longe de privilegiar o que realmente interessa. E não é de pouco tempo ou exclusividade de um governo. Temos um problema sobre como o Estado e o Brasil administram as políticas para a Amazônia. Será um desafio modificar esta realidade, mas precisamos começar.

Estabelecer as métricas do bom resultado das intervenções é um ótimo começo. Por exemplo, as métricas do faturamento do Polo Industrial de Manaus são interessantes: cresceu em dólar – parabéns para a indústria e Suframa! E, de fato, cresceu. Isso é ótimo e deve ser enaltecido. Por outro lado, por algum problema de outros atores, o desmatamento aumentou. Isso é demérito para todos nós e os entes responsáveis deveriam puxar para si o problema e indicar análise de causas e ações. Afinal, segundo o INPE, o desmatamento cresceu 418% no último ano.

A grande questão é que falta a capacidade de diálogo público para as soluções e os responsáveis aparentemente não atuam, nem divulgam que reconhecem o problema. Faltam debates verdadeiramente democráticos sobre as saídas para a crise. O que tem prevalecido é o ataque aos dados. No passado, dizia-se, em tom de brincadeira, quando não gosto da carta, culpo o carteiro. Atualmente começaram a ameaçar os carteiros, sem brincadeiras.

Temos usurpações de recursos, com discursos ignorantes propositais, para disfarçar o que se faz, trazendo por trás a apropriação de recursos naturais, tanto sob o manto do “faça qualquer coisa”, quanto o seu oposto “não faça nada”. Este caminho democrático e de construção de convergências tem sido negligenciado, afinal parece que predomina a pouca educação e a falta de capacidade de ouvir outras vozes. Ou seria falta deliberada de interesse? Seguimos lutando pela existência de modo obsoleto e predatório.

Quando um grupo chega ao comando, esquece-se ou deixa de dialogar com os diferentes, com honrosas exceções. Este é um ano eleitoral e teremos que começar a entender as propostas para o Amazonas e a Amazônia, com cada um dos postulantes. É um ótimo momento para uma conversa democrática e que as promessas não sejam vazias ou apenas para agradar, como tem sido a prática.

Cícero escreveu suas dicas sobre “Como Ganhar uma Eleição” em 64 a.C. e parece que é o principal livro que tem sido aplicado na política para a Amazônia: promete-se tudo e depois não se faz quase nada.

Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.

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