25/01/2019
Gina Moraes de Almeida
O meio empresarial de Manaus entrou em polvorosa com
supostas ameaças federais da contrapartida fiscal, que dá
amparo à economia deste Estado há mais de meio século.
Estamos acostumados a levar rasteiras – por incompreensão
ou má-fé – e a sermos castigados pela fragilidade da
segurança jurídica deste país, indiferente à Legislação que
tutela a Amazônia. As ameaças principais, porém, originam-se por aqui, do modo como tratamos nossos direitos, que dão
suporte à economia da ZFM. Essas ameaças internas e
externas ampliaram-se na proporção direta de nossa
acomodação. Acomodados pela fartura perversa, a mesma
fartura que viu as folhas do látex serem transformadas em
funeral urbano e social da Paris dos Trópicos. Ou mudamos ou
seremos mudados.
Poucos colegas da advocacia qualicaram-se para aprofundar
os conhecimentos dessa história. É claro que os especialistas
formaram-se com base nas demandas do mercado. Não há
demandas fortes para a defesa inerente ao Decreto 288/67,
que criou a ZFM, inserido na Constituição de 1988.
Historicamente, a Suprema Corte tem cumprido o seu papel
de guardiã da Carta Magna quando provocada em situações
bem pontuais. O governo, seja ele qual for, não está acima da
Lei Maior. Isso, em princípio, nos daria maior segurança. Essa
evidência, porém, precisa ser transformada em permanente
vigilância. Caso contrário, veremos esse modelo econômico
ser transformado numa lembrança semelhante à perda do
“glamour” na Amazônia no Ciclo da Borracha
Tudo sugere, entretanto, que nossa saída será construída pelo
protagonismo do setor produtivo local, amparado pela
mobilização dos demais atores. Não é segredo para ninguém
que muitas Entidades patronais não resistiram à tentação
absolutista de defender apenas os interesses particulares de
seus dirigentes, responsável por enfraquecer uma defesa mais
ousada desta economia que responde por oitenta por cento
da dinâmica de negócios, dos empregos e da arrecadação
pública.
É com bons olhos que vemos, depois de muitas legislaturas, a
Bancada Federal do Amazonas envolvida na discussão dessa
temática vital. Não há mais espaço para os políticos que lutam
por um mandato para chamar de seu. O despertar da
sociedade para o exercício dos seus direitos e obrigações pode
ser traduzido como a melhor notícia do ano que começa. Se o
político começar a procurar os caminhos que o levam ao
cidadão, a quem ele deve o mandato, temos motivo para
acreditar na mudança. E a mudança está ao nosso alcance.
Toda vez em que nos reunimos, de peito aberto e braços
estendidos, para priorizar o que nos une e não dar ênfase ao
que nos separa, temos motivos para acreditar que a mudança
está começando. Neste momento, começa a se esvaziar-se a
demagogia do “nós contra eles”. Nosso dever de casa é muito
simples: Zelar pela defesa dos direitos, sem esquecer nossas
responsabilidades e acompanhar o desempenho parlamentar
de nossa classe política.
É consensual a opinião das pessoas que saem do Brasil por
quaisquer motivos, e conhecem a rotina dos países civilizados,
a clareza de propósitos que orientam essa mudança. Entre os
fatores que chamam atenção, na comparação com o cotidiano
do Brasil, está o respeito à lei, o resguardo da cidadania, a
ênfase na qualidade do ensino e a preocupação coletiva com a
qualidade de vida das crianças e idosos. Voltar ao Brasil
signica descobrir que quase tudo aqui está por ser feito. E
será, na medida em que deixarmos a zona de conforto de cada
dia, para debater, monitorar e cobrar, a começar por nós
mesmos, o dever de cada um.
*Advogada