10/01/2020
Fonte: Jornal do Commercio
Marco Dassori
A decisão do governo
federal de não publicar decreto para
manter a alíquota de
IPI (Imposto sobre Produtos
Industrializados) dos concentrados da ZFM no mesmo patamar do fim de 2019, mobilizou a bancada amazonense no
Congresso, que se reuniu nesta
quinta (9), em Manaus. A possibilidade de rompimento com
o governo chegou a ser posta
na mesa. Ao final do encontro,
decidiram recorrer ao Ministério da Economia, mas não
descartam retaliar em projetos
do Planalto, caso o diálogo não
surta efeito.
Desde 1º de janeiro, a alíquota para os
concentrados
caiu de 10%
para 4%. O
governo Temer já havia
reduzido, de
forma escalonada, o perc e n t u a l d o
incentivo –
originalmente
em 20% –, em
decreto que
previa esse
patamar. Em
2019, a bancada amazonense no Congresso
pressionou o governo –que chegou a cogitar possibilidade de
zerar a alíquota –e conseguiu
fixar o percentual em 10%. O
setor aguardava a edição de
um novo decreto mantendo o
número para os próximos seis
meses. Sem mais nenhum lance do governo federal, o valor
chegou ao previsto no decreto
9.394/2018.
O incentivo garante vantagens comparativas para as
empresas do setor instaladas na
ZFM, graças ao creditamento
do IPI pago pela clientela da
indústria local, que não usufrui do benefício. Sua redução
já levou ao encerramento das
atividades da Pepsi Cola em
Manaus e ameaça causar novas
baixas. Calcula-se que o achatamento dos créditos tributários de 20% para 4% acarrete
perdas de R$ 2,1 bilhões para
as fábricas da ZFM, em 2020.
De seu lado, a União espera
economizar R$ 800 milhões,
com a medida.
Abertura de diálogo
O deputado federal Marcelo
Ramos (PL-AM) informou ao
Jornal do Commercio que o líder
da bancada e presidente da Comissão de Assuntos Econômicos no Senado, o senador Omar
Aziz (PSD-AM) deve ligar para
o ministro da Economia, Paulo
Guedes, ainda nesta sexta (10),
para marcar uma reunião com
o economista, tão logo ele retorne ao país.
“Esperamos ter essa reunião, assim que terminarem as
férias do ministro. Vamos
colocar toda
pressão política possível
para que a alíquota retorne,
pelo menos,
aos 10%, que
seria o suficiente para as
empresas sobreviverem.
Se não chegarmos a um
acordo, podemos interferir
nas matérias de interesse do
governo, principalmente no
Senado. Infelizmente, é o que
podemos fazer, já que não se
trata de matéria legislativa e
depende da decisão do Executivo”, avisou.
No entendimento de Marcelo Ramos, mesmo a hipótese de falta de diálogo não configuraria rompimento da bancada com o Planalto, uma vez que a mesma é composta por parlamentares independentes e não necessariamente alinhados com o governo. O deputado ressalta ainda que o imbróglio dos concentrados aumenta a preocupação da bancada com a reforma Tributária. “Pelo projeto que está na Câmara, nem esse crédito presumido de 4% está garantido”, frisou.
Traição e reposicionamento
Horas antes da reunião, em
texto divulgado por sua assessoria de imprensa, nesta quinta
(9), presidente da CAE no Senado, o senador Plínio Valério
(PSDB-AM) considerou uma
traição à bancada do Amazonas a decisão do presidente
Jair Bolsonaro, “aproveitar a
desmobilização do recesso
parlamentar” para reduzir a
alíquota e defendeu um reposicionamento da bancada em
relação ao apoio ao governo
federal, caso não houvesse um
recuo do Planalto. Para o parlamentar, as atividades da Coca-Cola e da Ambev na ZFM serão
“fortemente atingidas” no novo
cenário tributário.
“Foi um golpe nas articulações da bancada assinar esse
decreto no recesso. Tivemos
várias reuniões e ficou mais
ou menos acertado, estabelecer em 12%. Agora, temos que
ver o que faremos na volta do
recesso. Isso mostra o desprezo
que a equipe econômica tem
pela Zona Franca de Manaus.
Nada mudou. Isso significa dizer que temos, como bancada,
que rever a nossa posição de
apoio ao governo”, desabafou.
Na mesma linha, em artigo
publicado na imprensa local, o
deputado federal José Ricardo
(PT-AM), também considerou a
redução da alíquota como um
ato de traição do presidente e
de seu ministro da Economia
ao Amazonas: “não honraram o
que apalavraram com o Estado
e a bancada de parlamentares”.
Ao reduzir o incentivo, salienta o parlamentar, o governo
federal estaria mostrando que
não está preocupado com questões regionais, em proteger a
Zona Franca, a Amazônia, ou
mesmo em garantir emprego,
arrecadação e renda para o
Estado. Seria também, prossegue o deputado, uma mostra de
desconhecimento em relação à
importância do modelo para o
país, já que os impostos vindos
do PIM também geram arrecadação federal.
“A indústria de concentrados tem como principal atrativo
a isenção de impostos oferecidos à ZFM, com a redução
de 20% para 4% do IPI. Essa
vantagem competitiva em relação à região deixa de existir e
iremos perder empregos, não só
na produção de concentrados,
mas em toda a cadeia produtiva
que irá atingir, principalmente,
o produtor de guaraná no interior”, lamentou.
Crença na sensibilidade
Em nota distribuída por sua
assessoria de imprensa, o deputado federal Sidney Leite (PSD-AM) destacou que acredita
na sensibilidade do presidente
Bolsonaro em rever a decisão.
Em vídeo postado em suas redes sociais, lembrou ainda que
o polo de concentrados é responsável pela verticalização do
emprego na capital e no interior.
“É estratégico, importante
e contribui significativamente
para a balança de exportações.
Acredito na sensibilidade do
presidente Bolsonaro, no sentido de rever a posição do Ministério da Economia, de forma a
garantir as vantagens comparativas deste modelo econômico.
Nós, da bancada amazonense
em Brasília, continuaremos
unidos em torno desta luta”,
arrematou.
Governo do Estado recorre ao STF
Em nota divulgada pela
Secom (Secretaria de Comunicação), nesta sexta (9), o
governo do Amazonas informou que já questiona, no STF
(Supremo Tribunal Federal), a
redução do IPI para o setor de
concentrados de refrigerantes
em detrimento das vantagens
comparativas da ZFM. O Executivo estadual salienta que o
setor tem “grande relevância
econômica”, por gerar empregos direitos e indiretos em sua cadeia produtiva, no próprio
Estado e em outras unidades
da federação, em função do
alcance da atividade.
Além de manter a Ação
Direta de Inconstitucionalidade (Adin 5897/AM) no STF,
o governo informa também
que está em contato com a
bancada federal de deputados e senadores do Amazonas
para fortalecer articulações
que preservem o diferencial
competitivo da ZFM, bem como está discutindo a questão internamente no Cate (Comitê de Assuntos Tributários
Estratégicos), criado no ano
passado.
passado.
As principais empresas do
setor de concentrados instaladas na região faturaram
aproximadamente R$ 9,8 bilhões em 2018 e, no ano passado, cerca de R$ 8,4 bilhões.
A queda no desempenho do
segmento (da ordem de 14%
no faturamento), conforme análise do governo estadual,
já demonstra reação às incertezas geradas pela política tributária adotada pelo Planalto.
“A grande insegurança gerada com essa medida pode
produzir ainda um efeito dominó negativo para os demais
polos da ZFM, pois impactará
na permanência das demais
empresas instaladas e consolidadas há décadas no Polo
Industrial de Manaus”, encerrou o texto.