01/02/2023
Por Marco Dassori
Apesar das dificuldades e incertezas deste começo do ano, a indústria espera que a demanda continue sustentando a expansão de empregos no setor em 2023, especialmente entre os trabalhadores de nível técnico. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) aponta, no entanto, que a boa notícia vem acompanhada do desafio de formar profissionais para suprir essas vagas, que necessitam de maior investimento e tempo para sua formação.
A análise do Observatório Nacional da Indústria, hub de dados do Sistema Indústria, com base no Mapa de Trabalho Industrial 2022-2025, indica que esse nível de formação contabilizará mais de 2,2 milhões de postos de trabalho em todo o país, o que representa 18,4% do emprego industrial no país. Para capitalizar o momento, a indústria brasileira precisará capacitar 77.724 técnicos para atuar nas oportunidades de base industrial. No Amazonas, a expectativa é que o setor abra 33.088 vagas neste ano e que necessite de mais 991 profissionais de nível técnico para atuar em suas linhas de produção.
As áreas onde se espera que haja maior oferta de novas vagas e demanda por técnicos são as de logística e transporte; metalmecânica; transversais (engloba profissionais que atuam em pesquisas, seguranças do trabalho, desenhistas técnicos, por exemplo); eletroeletrônica, tecnologia da informação e construção. Uma das dificuldades é que os cursos técnicos costumam ter duração média de um ano e meio, podendo chegar a dois anos, além de contarem com o pré-requisito básico de o aluno estar cursando ou já ter o ensino médio completo.
Tecnologia e pandemia
Em texto divulgado pela assessoria de imprensa da CNI, o gerente-executivo do Observatório Nacional da Indústria, Márcio Guerra, explica que a projeção do emprego setorial considera o contexto econômico, político e tecnológico. Um dos diferenciais é a projeção da demanda por formação a partir do emprego estimado para os próximos anos. Além da conjuntura, são levadas em conta as estimativas das taxas de difusão das novas tecnologias nas empresas e das mudanças organizacionais nas cadeias produtivas.
“O que observamos é que mesmo os subsetores mais tradicionais da indústria brasileira, como construção e metalmecânica, continuam demandando muitos técnicos. Além disso, as mudanças tecnológicas já estão impactando o perfil profissional desejado pelas empresas, com o crescimento de áreas como tecnologia da informação e eletroeletrônica”, analisou.
Segundo o executivo, a logística ganha destaque porque muitas empresas precisaram se reinventar no processo de distribuição de mercadores e acesso aos insumos, durante os meses mais duros da crise da covid-19. “A pandemia exigiu do setor uma nova forma de organização da cadeia produtiva. São profissionais que monitoram dados e informações para garantir que o processo produtivo tenha menor custo e melhor entrega”, sintetizou.
“Metas desafiadoras”
O presidente da Fieam e vice-presidente executivo da CNI informa que o Senai-AM formou 30.041 alunos em 2022 e projeta qualificar mais 43.000 neste ano, principalmente em técnicas de eletrônica; processamento de dados; construção civil; mecânica; soldadores e outras áreas. O dirigente diz que o maior desafio para 2023, e para os próximos anos, será atender as novas demandas associadas as tecnologias relacionadas a indústria 4.0, mas garante que a instituição já está se preparando para o atender o desafio.
“Metas são sempre desafiadoras, mas temos condições de atender, de acordo com nossa programação com a CNI. Estamos realizando projetos em conjunto com o Departamento Nacional do Senai para implantação de novos laboratórios, bem como melhoria dos atuais existentes, de forma que possamos fazer frente a estes desafios”, adiantou.
O vice-presidente da Fieam e presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Manaus, Nelson Azevedo, assinala que o país precisa treinar as pessoas para atender a demanda do mercado, principalmente quando o novo governo federal acena com o anseio de reindustrializar o país.”A demanda por técnicos ainda é substancial. Mas, nos últimos anos, houve uma concentração dos esforços no ensino superior, em detrimento ao ensino técnico”, lamentou.
Azevedo lembra ainda que os produtos e o processo produtivo sofreram atualização tecnológica, o que requer profissionais atualizados. “Se não houver oferta local, as indústrias serão obrigadas a importar mão-de-obra especializada de outros Estados ou países, tirando a oportunidade da comunidade local. Nesse contexto, o Senai tem expertise, instalações e corpo docente para contribuir com a demanda. Tem várias modalidades de formação profissional, desde cursos rápidos até uma carga horária mais substancial para entregar um candidato pronto para o mercado de trabalho”, amenizou.
Terceirização e tecnologia
Já o presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza, salienta que, embora tenha sido citada pela pesquisa, a atividade conta com uma base proporcionalmente maior de mão de obra de “pouca formação”. E acrescenta que essa característica leva os governos preferirem priorizar projetos que envolvam a construção civil em seus investimentos, uma vez que esta “contrata muito com pouco dinheiro”.
“É sempre bom formar pessoas e os próprios canteiros ajudam nisso. Temos muitos treinamentos voltados para saúde e segurança no trabalho, por exemplo. Além de pedreiros, uma das principais demandas está no trabalho para a parte elétrica do empreendimento. Vale lembrar que o setor trabalha muito com terceirização de serviços por empreitadas. É claro que as construtoras estão desenvolvendo tecnologia para ter maior produtividade, principalmente em áreas como as de saneamento. Mas, acredito que é muito embrionário falar de projeções para 2023, embora possa dizer que as obras não têm fugido da demanda mais básica”, concluiu.
Setor registrou alta de empregos em 2022
A estimativa de aumento de número de vagas na indústria amazonense apontada pela CNI sinaliza continuidade em relação a 2022. Os dados mais recentes do ‘Novo Caged’, informam que o setor emendou seu sétimo mês no azul em novembro, ao criar 6.138 vagas celetistas no acumulado do ano – embora o número tenha ficado 36,48% abaixo do registrado no mesmo período de 2021 (9.664). As contratações foram puxadas pela indústria de transformação (+0,17% e +184), com destaque para produtos de metal (+173), e farmoquímicos e farmacêuticos (+104).
A Suframa informa que, em dez meses, a média mensal do PIM foi de 109.262 trabalhadores, entre efetivos, temporários e terceirizados. O número equivale a uma elevação de 3,23% ante o “ano cheio” de 2021 (105.846). Foi o melhor resultado da série histórica da Suframa, desde 2015 (105.015), sendo alavancado pelos polos eletroeletrônico, relojoeiro, de duas rodas e termoplástico. A Fieam estima que a média de mão de obra do PIM deve ter fechado em 112.961 postos de trabalho.
Fonte: JCAM