02/07/2020
Fonte: Marco Dassori
Impactado pela crise da covid-19, o Amazonas emendou,
em maio, seu terceiro saldo
negativo mensal de empregos
com carteira assinada, embora
a tombo tenha sido mais baixo.
No total, 10.346 trabalhadores
foram mandados embora, superando de longe o volume de
contratações do período (5.500).
Houve recuo de 1,20%, graças
à extinção de 4.846 postos de
trabalho, um corte menos severo do que o de abril (8.583). A
maior parte das perdas (92,36%)
ocorreu em Manaus (-4.476 e
-1,21%).
Foi o segundo pior número
do Estado para a série histórica
fornecida pelo “Novo Caged”,
divulgado pelo Ministério da
Economia, nesta segunda (29).
Também foi a queda relativa
mais acentuada na região Norte
(-0,58%), superando em muito a média nacional (-0,87%).
A queda foi generalizada e
praticamente todos os setores
econômicos promoveram corte,
diante do avanço da pandemia
e dos impactos econômicos do
isolamento social.
No acumulado dos cinco
meses do ano, o resultado foi
ainda pior, levando o Estado a
amargar o segundo resultado
negativo consecutivo em 2020,
neste tipo de comparação. De
janeiro a maio, foram extintos
14.190 empregos celetistas, já que as admissões (+52.903) nem
encostaram nos desligamentos
(-67.093). Com isso, a variação
no número de postos de trabalho em relação ao estoque do
exercício anterior foi negativa
em 3,43%.
Todos os cinco setores econômicos listados pelo Caged
fecharam no vermelho, puxados pela indústria (-1.998
vagas) –em especial pela indústria de transformação (-1.813).
Foi seguida de perto por serviços (-1.767) –com destaque
negativo para atividades administrativas e serviços complementares (-809) e positivo
para atividades financeiras e
seguros (+49).
Os outros resultados negativos registrados na passagem
de abril para maio vieram do
comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas (-575), construção (-449) e
agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-57). Os dados do “Novo
Caged” divulgados à imprensa
não incluíram a variação mensal
para os setores econômicos nos
Estados, nem os desempenhos
destes no acumulado.
Isolamento e sazonalidade
O presidente do Cieam
(Centro da Indústria do Estado
do Amazonas), Wilson Périco,
atribui o fato de a indústria de
transformação ter sido a atividade econômica do Amazonas
que mais eliminou empregos com carteira assinada em maio
às medidas de isolamento social
pós-pandemia, que levaram à
super-estocagem e interrupção
dos trabalhos no setor. O dirigente lembra que fatores pontuais também contribuíram para
o resultado em algumas linhas,
mas se diz otimista em relação
aos próximos meses.
“Tivemos a questão da sazonalidade no segmento ar-condicionado e certamente tivemos algumas pequenas empresas que
podem ter sofrido e acabaram
demitindo. Nossa atividade
é demandada pela atividade
comercial e a flexibilização do
isolamento social já está movimentando a atividade na indústria. Hoje, temos 37% das
empresas trabalhando a 100% da
capacidade e outras 33% acima
dos 60%. Apenas 4% continuam
paradas. Vamos acompanhar
essa retomada”, frisou.
“Perdas inevitáveis”
Em sintonia, o presidente
da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, diz
que as perdas de postos de
trabalho foram inevitáveis,
embora tenha havido um
grande esforço do setor industrial local para mantê-los.
O dirigente ressalta que o impacto causado pela pandemia
ocasionou uma queda muito forte também no faturamento,
dificultando o pagamento de
despesas correntes, já que as
empresas tiveram muitos entraves para acessar o crédito,
comprometendo também o
capital de giro.
“Somando-se a tudo isso, ainda temos problemas nas aquisições de insumos e dificuldades logísticas no transporte de matéria-prima e escoamento da produção na ZFM. A estatística de perda de empregos envolve todos os setores. Nossa torcida é que o governo tome medidas mais efetivas para que os efeitos econômicos negativos da crise não sejam mais devastadores no futuro. A indústria está fazendo todo o possível para que os efeitos nefastos sejam os menores possíveis para trabalhadores e empresários. Um não vive sem o outro”, afiançou.
Retomada lenta
O economista e professor da Faculdade Fipecafi, Silvio Paixão, ressalta que, como o Amazonas é “voltado para a preservação da floresta”, todos os efeitos mais contundentes em termos de empregos se darão em Manaus, que é “importante em termos de produção”. Embora a extinção de empregos tenha sido 40% menos forte do que em abril, o economista lembra que a quarentena para comércio e serviços não essenciais ainda estava valendo, o que explica os resultados piores em indústria e serviços. “Na parte de veículos, quem deve ter sido despedido foi o pessoal da equipe de vendas, mas nem tanto na manutenção. Sem dúvida, todos os Estados ainda vão sofrer muito em junho e, se continuar nessa ‘tocada’, em julho também. Entendo que Manaus já deve ter chegado ao pior patamar em maio ou junho, mas depois deve se estabilizar e recuperar lentamente os postos de trabalho. Infelizmente, a pandemia vai se fazer presente negativamente nos números do primeiro semestre e se fazer desconfortável no segundo”, concluiu.