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Alta nos juros gera divisão

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03/02/2022

Como já era aguardado pelo mercado, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu, em reunião encerrada nesta quarta (2), elevar a Selic em 1,5 ponto percentual, elevando a taxa de 9,25% para 10,75% ao ano. O oitavo aumento seguido levou os juros básicos da economia a dois dígitos, patamar que não era atingido desde julho de 2017 (10,25%). A decisão foi unânime e se deu em meio a um cenário de aumentos seguidos das taxas de inflação, mas o BC (Banco Central) já sinalizou altas menores. Dirigentes classistas e economistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio se dividiram em relação ao reajuste.

Vale notar que especialistas apontam os impactos decisivos do câmbio e dos preços administrados no resultado geral da inflação. Em sintonia, os efeitos da decisão foram sentidos pelo mercado financeiro, em mais um dia tenso. O dólar comercial encerrou esta quarta (2) vendido a R$ 5,276, com alta de 0,07%. Influenciada pelo mercado externo, a cotação iniciou o dia em alta, chegando a R$ 5,31 na máxima do dia, por volta das 13h15. A moeda, no entanto, desacelerou durante a tarde, com a perspectiva de que a taxa Selic ultrapassasse os 10% ao ano -o que foi confirmado pelo colegiado do Copom.

Em seu tradicional comunicado, o BC sinalizou recalibrar os juros para correções de menor intensidade, a partir da próxima reunião, marcada para os dias 15 e 16 de março. "Em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros", afirmou a autoridade monetária, no documento.

O oitavo aumento seguido na Selic fez a taxa ultrapassar a inflação do IPCA-15 acumulado em 12 meses (+10,20%), o que não ocorria há um ano e meio. De março a junho do ano passado, o Copom tinha elevado a taxa em 0,75 ponto percentual em cada encontro. No início de agosto, o BC passou a aumentar a Selic em 1 ponto a cada reunião. Com a alta da inflação e o agravamento das tensões no mercado financeiro, o reajuste passou para 1,5 ponto nas três últimas reuniões.

Com a decisão de hoje (2), a Selic continua num ciclo de alta, depois de passar seis anos sem ser elevada. De julho de 2015 a outubro de 2016, a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018. A Selic voltou a ser reduzida em agosto de 2019 até alcançar 2% ao ano em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela pandemia de Covid-19. Esse era o menor nível da série histórica iniciada em 1986.

Investimento x especulação

O presidente da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, assinalou que entende o objetivo do aumento da taxa, que é segurar o processo inflacionário, mas ressaltou que há um viés que não seria percebido na atitude do BC, ao "incentivar a especulação e inibir os investimentos". No entendimento do dirigente, a decisão vem em um momento em que a economia necessita de mais aportes de capital para se recuperar e reduzir a taxa de desemprego.

"Lamentavelmente, o governo está preocupado com a inflação porque isso repercute politicamente. Mas, se nós tivermos a acuidade de ver que o mais importante é movimentar a economia para gerar emprego e renda, o governo deveria mudar sua forma de ver. Mas, a tônica do BC é outra, porque ele é que determina a política financeira do mercado. A minha preocupação é que não conseguimos resolver a inflação, porque ela está linka-da à escalada dos combustíveis, da energia... Precisamos dar um norte à economia e gerar investimentos", lamentou.

Em sintonia, o presidente da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), concorda que o aumento da Selic vem em um momento em que o setor passar por um "cenário duvidoso". O dirigente, contudo, não deixa de assinalar que a decisão foi um "mal necessário". "O movimento desta quinzena deixou todos preocupados com a queda de vendas. E isso aconteceu em todos os segmentos. Com essa correção, a situação tende a piorar. Mas, isso tinha de ser feito para segurar a inflação, que também vem fazendo o comércio perder vendas", ponderou.

“Decisão exigida”


O presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, salienta que a decisão do Copom não era apenas esperada, como também "foi exigida" pelo atual cenário de "subida de preços de tudo". O dirigente avalia também que o BC "se vê na obrigação de atuar no câmbio" e assinala que o remédio será ainda mais amargo. "Não havia nenhuma sinalização que indicasse algo diferente. Mas, o dinheiro vai ficar mais caro, a exemplo dos financiamentos e dos crediários. Tudo isso fica mais oneroso e dificulta a vida, tanto do consumidor, quanto do investidor. E também da atividade produtiva que recorre a recursos do sistema financeiro", desabafou.

O presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, concorda, mas se diz mais otimista em relação ao curto prazo. "A decisão do BC já era esperada e seguiu em linha com as decisões anteriores do Copom, em resposta à inflação. A consequência mais direta para o setor rural é a elevação no custo de capital. Mas, ainda assim, continuamos confiantes de que o agronegócio continuará tendo papel central no desenvolvimento econômico nacional", amenizou.

“Medida técnica”

Na mesma linha, o conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), professor universitário e consultor empresarial, Francisco de Assis Mourão Júnior, reforça que a atitude do Copom já era esperada e lembra que o país está com uma inflação de 10,06% ao ano. O economista lembra que a intenção do BC é manter os juros em um patamar elevado para forçar a parada do atual ritmo de evolução dos preços. Mas não deixa de observar que o atual processo inflacionário brasileiro tem um viés de custo, e não de demanda.

"Os preços são puxados pelos combustíveis e energia. Mas, o efeito da Selic alta gera um atrativo no mercado de capitais. Isso sinaliza a volta da entrada de dólares e a intenção do Copom é justamente estabilizar essa entrada de moeda americana. Foi uma medida técnica, em um momento crucial, tendo em vista que ainda nos encontramos em uma pandemia, principalmente com essa nova variante. Teríamos de ver como vai se comportar a economia, no fechamento deste primeiro trimestre de 2022, com essa Selic mais alta", finalizou.

Selic continua num ciclo de alta, depois de passar seis anos sem ser elevada

Fonte: JCAM

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