24/08/2018
Notícia publicada pelo Em Tempo Online
A alta do dólar mais uma vez vai trazer reflexos negativos para a economia do Amazonas a curto, médio e longo prazo, principalmente com aumento no preço do pão, de insumos para a indústria e até em produtos que sairão das fábricas no fim do ano.
Após o sexto avanço seguido dos últimos dois dias, o dólar
comercial fechou a cotação nesta quarta-feira (22)
custando R$ 4,056, maior valor desde 16 de fevereiro de
2016, quando marcou R$ 4,071.
Em apenas dois dias, ou seja, segunda até quarta-feira, o
dólar acumulou uma alta de 2,47%. Especialistas e empresários ouvidos pelo Em Tempo explicaram que
esse fenômeno sempre ocorre em ano de eleição e traz
consigo reflexo ruim para uma economia que já está
fragilizada e cheia de incertezas como a brasileira, e
consequentemente a amazonense.
Com isso, uma das áreas mais afetadas no Amazonas deve
ser a indústria. Neste caso, o Polo Industrial de
Manaus (PIM), que tem mais de 80% dos insumos para
produção de origem estrangeira.
O economista Ozires Silva disse que o dólar em alta,
inevitavelmente, vai deixar mais caro componentes,
partes e peças utilizados nas linhas de produção. “É uma
consequência inevitável. E ainda há mais derivações sérias
em decorrência do descontrole da moeda”, disse.
Silva disse, ainda, que o fator mais grave é que esse aumento de preço vai esbarrar com a recessão do mercado. Com isso, as empresas não terão muita margem de repasse para subir os preços.
“A tendência é reduzir ainda mais as demandas pelos nossos produtos. Há uma armadilha nessas circunstâncias desencadeadas pelo dólar. É uma conjuntura totalmente desfavorável para a Zona Franca. O pior é que não podemos fazer nada, porque somos refém dessa moeda’, detalhou.
O especialista enfatizou que em uma economia
equilibrada é bem mais fácil administrar o descontrole da
moeda e seus efeitos negativos. Em uma economia frágil
como a do Brasil se encontra no momento, cheia de
incertezas e com eleição para presidente da República
ainda para acontecer, fica bem mais difícil.
Indústria
No caso da indústria, especialistas corroboram que os produtos que vão sair das fábricas terão aumento por conta do dólar, mas esse reajuste virá com um atraso até o fim do ano.
O presidente do Centro das Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, explicou que a matéria prima que está chegando agora em Manaus foram compradas há, pelo menos, 60 dias ou mais.
“As compras futuras com o dólar já em alta devem ter esse impacto. Com certeza o reajuste no custo também vai compor o preço do produto final. Os produtos que serão produzidos no final do ano, devem ter o impacto desse aumento do dólar”, detalhou Périco.
Ainda conforme Périco, um dos seguimentos mais
afetados dentro da gama de produtos produzidos no PIM,
está os eletroeletrônicos. Cerca de 70% e 80% dos custos
em matéria prima desses produtos são trazidos de fora do
Brasil.
Por exemplo, um produto que custa R$ 100, onde seu
valor de custo apenas pela importação é de R$ 75
multiplicado pelos 2,47% do aumento do dólar, refletiria
em um acréscimo de R$ 1,85 no valo final.
Preço do pão
Outro produto sempre bastante afetado pela alta do dólar é o pão. Isso acontece porque, aproximadamente, 90% do trigo são importados da Argentina.
Conforme o presidente interino do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Amazonas (Sindipan-AM), Carlos Alberto Azevedo, o sindicato tem orientado o setor de panificação segurar o preço.
“Sempre ressaltamos aos empresários que estamos passando por um momento delicado na economia. Mexer no preço do pão hoje traria prejuízos. Então é melhor rever os custos e segurar os preços ao máximo possível, mas mesmo assim, o mercado é livre e eles podem aumentar”, disse Azevedo.
Segundo Azevedo, desde de maio, o mercado de panificação vem enfrentando dificuldades.“Em agosto o insumo já soma alta de 27%, mas mesmo assim estamos segurando o preço, reduzindo o custo de produção em outros itens ao máximo”, revelou.
Com a atual alta do dólar, Azevedo disse que possivelmente no início de setembro pode ter novo aumento no trigo, mas o sindicato está se articulando com os empresários para segurar o preço do pão até o fim do mês e avaliar o cenário até outubro.
“Por enquanto não tem previsão de aumento para o pão, mas está difícil, os custos aumentaram bastante”, finalizou.