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Além da ZFM: um conflito necessário

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09/07/2019

Augusto Barreto Rocha

artigo publicado pelo site Amazonas Atual

No passado, a Cabanagem exigiu, sem êxito, uma menor dependência da região em relação ao Império. A Província do Amazonas surgiu no contexto da dissolução da revolta. A produção de borracha trouxe um ciclo de desenvolvimento expressivo para a região, que teve enorme dificuldade para encontrar alternativas ao ocaso. No Amazonas, a Zona Franca de Manaus (ZFM), surgiu como a caminho permitido para a realização de atividades econômicas expressivas.

A presença de capital estrangeiro na produção da região construiu nova lógica de dependência, não só dos ditames do governo central, mas também do capital estrangeiro. A base da economia do Amazonas deixou de depender do comércio da borracha para o exterior e hoje depende das indústrias multinacionais e de seus comércios com o Brasil, somado a um emaranhado legal de incentivos fiscais constantemente ameaçadores.

Faz-se necessário encontrar um caminho que mantenha e justifique este método, para construir algo além da ZFM. O descaso central e local é tanto que não há propostas alternativas. Há apenas um balbuciar de propostas, que parecem réplicas das ideias de expansão da produção de borracha, como aquelas defendidas em 1943 pelo então interventor Álvaro Maia, em seu “Vanguarda da retaguarda”, quando fazia crônicas relativas à campanha pelo aumento da produção da borracha. Atualmente, parece que repetimos a história, buscando formas de aumentar a produção industrial, contra os interesses de fora da região.

Já passou da hora do Amazonas fazer as pazes com a sua natureza e encontrar formas de destravar as suas possibilidades, fazendo um esforço e construindo desenvolvimento a partir de suas próprias vocações. Para isso, será necessário encontrar um caminho do meio entre a subserviência ao Império e a Revolta dos Cabanos. Encontrar as pazes com a história e determinar os caminhos que levarão a construção do desenvolvimento é papel do Estado do Amazonas e de suas instituições e, como sempre, não será um papel que virá do centro decisor em Brasília, salvo para interesses estranhos aos interesses regionais.

Retirar as barreiras para a produção das vocações da região, pelo interesse da região e sem capital será um enorme desafio. Não há dinheiro para realizar o desenvolvimento amazônico, pois não há um capitalismo local. Encontrar formas de financiar empreendimentos no Estado será uma tarefa hercúlea desta geração. Para isso, todos devem se juntar: políticos, empresários, intelectuais e trabalhadores. Enquanto não se pensar e se construírem arranjos além da dependência de incentivos, será praticamente impossível considerar a hipóteses de uma região desenvolvida.

Não vale a pena nem lembrar os equívocos das “Novas matrizes econômicas” (que de tão cheia de erros levou a resultados pífios na economia e ao fim de um governo). O que precisamos é de um liberalismo para a Amazônia, onde possamos fazer o que temos vocação, sem as barreiras da burocracia palaciana e com abundância de ciência e do capital para realizar o Capitalismo da Inovação para os mercados globais, respeitando a natureza e produzindo riqueza.

Entretanto, diferente das opções que tínhamos na economia da borracha, temos uma indústria de classe mundial já instalada e que possui proteções legais expressivas. Precisamos assegurar que este conjunto de regulamentos sigam de pé para proteger não só a floresta, mas os milhões de habitantes já instalados por aqui. De outra forma, será uma crise impensável para o Amazonas e, em especial, Manaus. Desenvolver os empreendimentos locais, a partir da dinâmica da floresta enfrentará todo o tipo de forças contrárias, nacionais e estrangeiras. É importante termos esta consciência e começarmos esta batalha, antes que seja tarde.

*Augusto Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, Coordenador da Comissão de Logística do CIEAM.

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