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Agricultura verde: como manejo sustentável mantém floresta em pé

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04/06/2019

Reportagem publicada pelo Em Tempo Online

Rebeca Mota

A Amazônia tem características próprias e diferenciadas em relação a outras regiões do mundo. A agricultura também segue na mesma linha. Para especialistas do meio ambiente, um modelo sustentável para o setor primário da região - que visa reduzir o desmatamento e a queimada na Amazônia - depende do desenvolvimento de atividades agrícolas que sejam adequadas às áreas já desmatadas.

O protagonismo do Brasil na questão do desenvolvimento sustentável se dá pela biodiversidade. O País possui 42 mil espécies vegetais e 9 mil espécies de animais vertebrados, além de 129 mil espécies de invertebrados conhecidos. Essa biodiversidade do Brasil permite a exportação de 350 produtos agrícolas.

70% do consumo de alimentos pela população brasileira vêm da agricultura familiar. Especialistas apontam que há urgência nas escolhas para garantir um futuro sustentável. Incorporar a biodiversidade e serviços ecossistêmicos às políticas de desenvolvimento do país, promover o cumprimento das leis, inovar no desenho de políticas que integrem componentes sociais, econômicos e ambientais e reconhecer o papel da ciência como elemento-chave na tomada de decisão são alguns dos caminhos para tornar um modelo sustentável viável.

Para o agroecólogo e secretário executivo do Sistema de Monitoração e Avaliação Social e Ambiental da Amazônia (Simasa da Amazônia), Alexandre Victor, alerta para uso de nomes que remetem à sustentabilidade na produção. Segundo ele, agricultura é agricultura independente do nome que são ao processo.

“Tem que ter cuidado com esses conceitos de ‘verde e sustentável’ porque a Revolução Verde é, na verdade, o pacote tecnológico dos Estados Unidos e Europa que não tem nada a ver com a forma sustentável e o verde”.

Segundo o especialista, qualquer pacote implantando aqui, por mais sustentável que seja, vai estar suscetível a erros.

“A agricultura convencional que foi implantada aqui, como foi o caso da laranja, é um belo exemplo. Eles plantaram e depois fracassaram;' e hoje estão com vários problemas com a certificação de mudas e questão climática. Não há uma produção interessante e a Amazônia, por ser uma região tropical, se assemelha muito com a Ásia”, diz.

Existe um modelo adequado?

O modelo de agricultura adequado, de acordo com Alexandre Victor, é cultivar plantas que são apropriadas para a região, porque são exóticas e são sustentáveis.

“Quem planta couve aqui, por exemplo, tem que comprar sementes de fora. Isso porque a couve não tem a temperatura ideal para produção das próprias sementes. Então não é sustentável plantar couve aqui, mesmo que de forma orgânica. O que colocamos como modelos são os sistemas agroflorestais, agroalimentares, que é o que caboclo do Amazonas já faz numa escala de quintal. Ele vai comendo as frutas e faz um bosque frutífero ao lado de casa. Esse é um sistema adequado, diverso, policultivo e com maior variedade possível de plantas. E ainda é possível explorar ao máximo as plantas locais, como o açaí, pupunha e várias outras que não são daqui, mas que já se adaptaram muito bem, como é o caso da manga, da melancia e do coco”.

Para ele, a agricultura verde para a Amazônia se baseia primeiro em agricultura de floresta, fruticultura e sistema agroflorestais, criação de pequenos animais e principalmente a produção de hortaliças da Amazônia, como o cubiu, a bertalha, o carirú e o jambu que são produtos que se dão bem com o clima e o solo amazônico.

Dados indicam que operações agrícolas, fora mudanças de uso da terra, representam 13% das emissões dos gases provocadores do efeito estufa, além disso, o setor seria responsável por emissão de 58% e 47% de óxido nitroso e metano, respectivamente. Sendo assim, ambientalistas apontam utilização de práticas e tecnologias para o uso eficaz da agricultura verde:

Para alcance desse escopo, as práticas propostas envolveriam:

1) restaurar e aumentar a fertilidade do solo através do aumento do uso insumos naturais e nutrientes sustentáveis;

2) diversificar a rotação de culturas;

3) promover a integração da lavoura, floresta e pecuária;

4) reduzir a erosão do solo;

5) aumentar a eficiência do uso de água;

6) utilizar técnicas de cobertura do solo e plantio direto;

7) reduzir a aplicação de químicos e herbicidas;

8) utilizar mais técnicas de controle biológico e práticas de manejo de ervas daninhas;

9) reduzir o desperdício de comida;

10) expandir processos de aprimoramento de controle pós-colheita.

Preocupação

Para a engenheira agrônoma e professora de ciências biológicas, Katell Uguen, quando se fala em agricultura verde ou agricultura sustentável, é preciso lembrar dos desafios relacionados, sendo um horizonte a ser alcançado e que ainda há falhas.

“Um dos princípios da agricultura sustentável é a soberania da agricultura, o desenvolvimento da economia local e a integração da produção animal e vegetal nas áreas produtivas”, diz Katell.

Segundo a professora, para dar durabilidade à agricultura sustentável, é necessário também associar a mesma ao consumo sustentável, o que requer que informações sejam repassadas para a sociedade e que, a partir das mesmas, os cidadãos possam fazer suas escolhas na compra de produtos alimentares.

“Neste sentido, podemos destacar a importância de fortalecer os processos de certificação orgânica, seja por auditoria seja por controle social ou sistema participativo de garantia, assim como outros processos de rastreabilidade de valorização dos produtos por indicação geográfica e comércio justo”, orienta.

Solução conectada

O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Alfredo Kingo, destaca que a solução dos problemas na Amazônia não é independente, mas conectada com outras partes do País e do mundo. A redução dos desmatamentos e queimadas na Amazônia depende do desenvolvimento de atividades agrícolas que sejam adequadas às áreas já desmatadas e tenham mercado, em vez do uso “sustentável” da floresta e de direitos difusos.

“Uma política agrícola teria efeitos mais positivos do que uma política ambiental, que não pode ser implementada de maneira isolada das demais regiões do País, sob risco de transferir contingentes populacionais de outras localidades. Há necessidade de elevar a produtividade das atividades agrícolas na Amazônia; reduzir a pressão sobre os recursos naturais em risco de esgotamento; incentivar plantios racionais de recursos extrativos potenciais; substituir as importações de produtos tropicais e melhorar as relações de troca dos produtos amazônicos versus produtos importados da Zona Franca de Manaus. Temos ainda que efetuar a recuperação das áreas que não deveriam ter sido desmatadas e utilizar plenamente o potencial das áreas já degradadas, entre outras”, explica.

O setor agrícola é o principal beneficiário com a conservação da floresta, uma vez que sua produtividade é altamente dependente das condições climáticas. As florestas atuam como “regador” da agricultura brasileira. Além da água, há inúmeros outros serviços ecossistêmicos, como a polinização dos cultivos, que beneficiam diretamente o setor.

Agricultura verde prejudica meio ambiente

Uma matéria divulgada na BBC mostra que a "Agricultura Verde" está prejudicando o meio ambiente do Brasil. Um dos destaques da matéria é o desmatamento na Amazônia, que aumentou 54% em janeiro de 2019, em comparação com o mesmo mês de 2018. Os dados são da ONG brasileira Imazon.

Uma das maiores causas dessa alta do desmatamento é o crescimento da produção de soja, principal alimento do gado europeu devido seu alto teor proteico. Segundo dados da Comissão Europeia, a UE importa cerca de 14 milhões de toneladas de soja por ano para fabricar ração animal.

Para a professora Katell, nas cadeias produtivas agrícolas, assim como nos outros setores do comercio, é grande a interdependência entre os atores, as regiões e os países.

“Neste contexto, é difícil a rastreabilidade dos produtos agrícolas e seus insumos e muito mais complexa ainda avaliação dos impactos socioambientais gerados durante esta produção. Algumas relações aparecem de maneira clara, como por exemplo a relação entre o consumo de carne, a compra de soja para ração animal e a pressão socioambiental relacionada com o cultivo da mesma. Temos também neste contexto econômico alguns fatores importantes como a busca do menor valor da carne e a busca por qualidade dos produtos e a consideração de fatores Socioambientais nos acordos comerciais”, explica.

Desafios

O setor primário do Amazonas, independente do víeis sustentável, enfrenta diversos desafios. Programas e projetos nem sempre alcançam os resultados desejados, seja pela burocracia, limitações de recursos, dificuldade com questões climáticas ou por problemas de infraestrutura. Singularidades que afetam todos os segmentos da cadeia produtiva, inclusive aquelas que se incluem no "modelo verde".

As soluções estão na melhoria do sistema de pesquisa e desenvolvimento, obras que melhorem a questão viária e parceria com o produtor. Em maio, o Governo do Amazonas lançou um pacote de investimentos de R$ 800 milhões para o setor primário.

As definições para melhorias alcançam vários municípios, principalmente, com a retomada e continuidade das obras de infraestrutura. Os investimentos vão impulsionar o setor primário nos municípios, já que as vias são importantes para escoamento da produção.

“A riqueza se concentrou na capital. Nesse governo, o homem do interior será valorizado. Nossos irmãos do interior precisam ter as mesmas oportunidades do homem da capital: ruas pavimentadas, vicinais recuperadas, energia elétrica, comunicação e, sobretudo, geração de emprego e renda. Quem está no interior só precisa de uma oportunidade, e esse governo está trabalhando para dar essa oportunidade”, enfatizou Wilson Lima.

Entre os beneficiados estão os 40 produtores de cultivam hortaliças - (pimentão, pimenta de cheiro); fruticultura (limão, laranja, maracujá e banana); e criação de animais de pequeno porte, como galinha de corte - que dependem da Estrada do Caldeirão, na AM-070, para escoar a produção

“Hoje atendemos países como Alemanha, Rússia, Colômbia, Estados Unidos e Portugal, além do Emirado de Dubai. Também fizemos investimentos há três anos, com a aquisição de flutuantes para que o produtor não tenha custo nenhum com o transporte até a nossa agroindústria”, garante o secretário de Estado da Produção Rural (Sepror), Petrucio Magalhães Júnior.

Pauta e edição: Bruna Souza

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