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A Zona Franca de Manaus e a normalização do erro

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25/04/2022

Augusto César Rocha

É muito difícil e lento fazer projetos que dão certo, unindo pessoas. Fácil mesmo é destruir, separar ou desunir. São anos para construir um projeto de desenvolvimento, uma sociedade, um prédio ou um conjunto de instituições. Basta um decreto para desarranjar todo um sistema. Destruir é relativamente fácil.

Um mundo maniqueísta, exclusivamente de certo versus errado ou o bem contra o mal, é um equívoco. Entretanto, há erros conhecidos, reconhecidos e amplamente aceitos como erros, não sendo adequado achá-los normais. Como exemplo, combinar e não fazer é sabidamente errado (ou coisa de “gambá”, como o ex-Superintendente da Suframa, Thomaz Nogueira, relatou em artigo da semana passada).

Entre 1967 e 1977, o projeto da Zona Franca de Manaus (ZFM) possuía pouquíssima relevância. Depois de muitos anos, foi ganhando força. Passou por momentos difíceis, escândalos diversos, mas foi saneado, pouco a pouco, com muito esforço institucional e muito trabalho silencioso e admirável. Se na ocasião dos problemas fosse seguido o jeitão contemporâneo, teria sido extinta.

No lado empresarial, também existiram problemas, até as empresas se tornarem competitivas. O Comércio de Importados de Manaus não teve o mesmo destino da indústria, com uma quebradeira de empresas e o Centro de Manaus nunca se recuperou do baque, nem mesmo para ser a sombra do que foi. Destruir é fácil. Construir é difícil. Reconstruir é ainda mais difícil.

Passada esta fase, o projeto ficou moderno, com reduzido patrimonialismo, e é isso, ao que me parece, que mais gera incômodos. São multinacionais que seguem regras claras de governança para produzirem, não sendo necessários acordos em bastidores.

Desde a ruína do Comércio, vivemos de sobressalto em sobressalto na indústria. É espantosa a frequência dos ataques recebidos. É surpreendente olhar quem apoia, quem ataca. Quem ajuda, quem atrapalha. Quem se posiciona, quem não se posiciona. Quem se posiciona contra o Amazonas, quem se posiciona na sua defesa.

Como desenvolver com responsabilidade o Amazonas? Como construir este arranjo? Não existem propostas claras para políticas públicas. Entretanto, é fácil ver proposituras sobre como descontruir. Estas sobram. Com isso, o erro é normalizado e ficamos discutindo erros, ao invés de construir o futuro, buscando formas de acertar ou de melhorar.

Debatemos muito o que não interessa, para nunca enfrentarmos o que interessa. Ficamos na defesa, mas nunca nos tornamos ativos na prescrição do futuro. Até quando insistiremos – como sociedade – neste erro? O erro de atacar a ZFM, sem nada para propor. O erro de ser contra a ZFM, fingindo ser favorável. O erro em destruir a floresta, fazendo de conta que isso gera riqueza.

Como ser “contra a ZFM” é reconhecido como o maior dos erros políticos no Estado, o que fazem os “do contra” é serem dissimulados ou mentirosos. Juram amor, mas não dão seu testemunho. Mas sempre chega uma hora em que “não tem mais jeito de dissimular”. Ser “do contra” ou “a favor” de algo é normal. Ser “do contra” é sempre mais fácil, menos neste caso. Defender a ZFM nos une.

Precisamos de clareza e luz para construirmos um futuro próspero. Colocar luz é trabalhoso, mas é gratificante pelo resultado para todos. Chega de normalizarmos os erros e de aceitarmos os dissimulados.

Precisamos de mais clareza e de mais construções, onde a sociedade aponte um futuro de prosperidade legítima, sem a apropriação das instituições por parasitas dissimulados, que tentam refazer o patrimonialismo ou o clientelismo, como analisado por Francis Fukuyama, em seu livro “Ordem e decadência política”, a não ser que o propósito seja construir a decadência em todas as suas formas.

Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.

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