25/10/2018
*Augusto Barreto Rocha
Tecnologia e inovação tecnológica são palavras mágicas que
atraem muito capital no mundo inteiro. Países monitoram
freneticamente suas empresas inovadoras e desenvolvem
constantemente mecanismos de estímulo para criar,
incrementar e ampliar suas organizações que atuem neste
setor. Universidades, institutos de pesquisa e empresas
competem no mundo todo para fazer com que novas
tecnologias prevaleçam e seus pesquisadores e projetos
alcancem mercados globais. Para tal, cientistas possuem
portas abertas para imigração em todo o mundo desenvolvido
e não faltam orçamentos para novas tecnologias que tenham
potencial de alcançar o mercado global.
Fazer Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) é uma atividade
rentável e importante. Alguns países e instituições se
destacam, como os EUA, Alemanha, Japão e diversos outros
países tentam seguir os seus passos, como a Coreia ou a
China. Para exemplificar
positivamente, apenas de um
instituto de pesquisas norte-americano, o MIT, saíram 32 mil
empresas, permitindo criar 4,6 milhões de empregos e
gerando cerca de US$ 2 trilhões por ano em vendas, com 90 laureados por Prêmios Nobel. É uma ambição global espelhar
estes números. Por isso, empresas privadas, como a Coreana
Samsung, em 2013, já possuía 5.500 doutores em seus
quadros.
No Brasil, após um modelo atrapalhado de reserva de mercado (de 1984 a 1991), onde as empresas nacionais foram isoladas da competição global, nossa musculatura empreendedora ficou ácida, sem a capacidade de competir com outros países. Durante o Governo Collor, este modelo foi abolido e houve uma quebradeira do setor tecnológico nacional, que não estava pronto para uma abertura tão rápida. Passado o desmonte, a Lei de Informática visava um investimento compulsório em P&D. Entre 1993 e 2015, por meio de uma renúncia fiscal de R$ 46 bilhões, esperava-se a construção de uma capacidade moderna de competição com os mercados globais, o que não aconteceu.
A lógica podia ser engenhosa, mas foi ineficaz
e ineficiente.
Segundo estudo, do qual fui um dos autores, publicado em
livro, na semana passada, o resultado na Zona Franca de
Manaus entre 2006 e 2014 foi um total de R$ 217 milhões
indevidamente renunciados pelo governo e R$ 156 milhões
alocados nas obrigações de investimento pelas empresas que
podem ter sido ineficientemente
convertidos em salários,
equipamentos e demais despesas de P&D. Ademais, em outro
estudo de Cavalcante (coautor da publicação
supramencionada), publicado em 2017, sobre 311 projetos
executados e avaliados entre 2011 e 2013, apenas 5,8% foram
eficientes.
Este diagnóstico deveria servir para mudar a forma de
atuação. Em qual direção? Com um maior uso das instituições
locais de inovação, porque multinacionais já sabem como
fazer! Elas sequer precisam de incentivos, como já
demonstrado no início do texto. Na região de Manaus,
segundo dados do CNPq (2016), o Amazonas possui entre 8 e
16 doutores a cada 100 mil habitantes. Nas Engenharias o
número é abaixo de 8. São Paulo possui mais que 56 Doutores
a cada 100 mil habitantes em qualquer das áreas. Comparação
importante quando se pensa em P&D. O grande desafio
é
capacitar o nosso meio científico
a pesquisar e estimular o
empreendedorismo, algo contrário a tosca ideologia reinante.
Ou seja, a solução é aportar mais recursos para estímulo ao
mercado e ao meio científico
local. Por isso me causa profunda estranheza observar um projeto
de alteração da atual legislação, facilitando ainda mais que a
empresa gaste o recurso de P&D alocado pela Lei de Informática, como bem entender e até mesmo longe do
Sistema Local de Inovação. Isto é um contrassenso ao espírito
da legislação. E qual o caminho? O caminho certamente não é
o que está proposto pelo MDIC/Suframa.
A alternativa, em meu entendimento, seria estimular maior
participação das universidades, institutos e empresários
locais a utilizarem os recursos da Lei de Informática,
desestimulando os institutos de grandes empresas, porque as
grandes empresas não dependem de incentivos para
pesquisar, pois elas já fazem isso naturalmente. É preciso
criar elementos de correção para o sistema local de inovação,
estimulados e capacitados por quem já sabe como fazer, por
meio, por exemplo, da construção de escritórios de gestão de
projetos nas universidades, pois hoje se deseja que
professores deem aulas na graduação, aulas de pós graduação,
façam atividades de extensão, atividades de
burocracia e pesquisa… Impossível fazer tudo com
competência e com a profundidade necessária para a
inovação. Neste contexto, empreender vira um pecado. Em
projetos de pesquisa, ainda se quer que toda atividade
burocrática seja conduzida por professores. Teriam que ser
Super-homens e não pesquisadores (impossível acontecer isso
em uma Universidade global de ponta).
A correção seria a criação de interfaces, como Parques Tecnológicos (privados!) ou suporte para os Institutos Tecnológicos (privados!) para que eles realizassem a interação com o setor público (Universidades) e investidores (Venture Capital). Ou seja, um caminho completamente diferente do que está posto pelo governo, mas o mesmo caminho já trilhado nos países desenvolvidos. Por que será que sempre escolhemos um caminho que nos leva ao atraso?
(*) professor da Ufam e empresário