03/02/2020
Balança comercial reflete a fragilidade de uma indústria despreparada para competir
Editorial
02/02/2020 - 00:00
O Brasil encerrou 2019 com um déficit nas contas externas de US$ 50,7 bilhões. Isso representa um crescimento de 22% em relação a 2018 — equivale a 2,76% do PIB. O rombo foi coberto com folga pela entrada de US$ 78,5 bilhões em investimentos estrangeiros diretos.
É o pior resultado dos últimos quatro anos no balanço de pagamentos. Confirma-se uma tendência de déficit em alta devido aos desequilíbrios no comércio exterior. O superávit comercial foi de US$ 39,4 bilhões, ou seja, US$ 13,6 bilhões menor do que em 2018.
É sobre as raízes dessa inflexão que o governo e o Congresso deveriam concentrar atenção e esforços para uma reversão no médio prazo. Tem-se uma perda de dinamismo do Brasil na competição global para exportar produtos de maior valor, bens industriais que incorporam tecnologias de alta e média sofisticação — de aviões a medicamentos.
O desempenho desse segmento industrial no ano passado representou 32% das vendas no mercado mundial. Foi a menor participação nos últimos 24 anos, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
O declínio nas contas externas está sendo acompanhado por um gradativo aumento das vulnerabilidades do país no comércio global. O Brasil passou, em pouco tempo, de comprador a fornecedor de alimentos em escala global. É, provavelmente, o fato mais relevante no capitalismo doméstico desde os anos 80. Porém, é a indústria que produz os itens de maior valor agregado, com maior potencial para aumento dos resultados comerciais, criação de empregos e avanço na renda média nacional.
A produção industrial segue estagnada. De 2014 a 2018, mais de 25 mil fábricas fecharam, conforme pesquisa CNC/Broadcast. O Rio perdeu 12,7% do seu parque industrial, e São Paulo encolheu em 7%. Na média nacional, desapareceram 6,6% dos estabelecimentos industriais.
Governo e Legislativo precisam facilitar o aumento da produtividade, via mudanças tecnológicas e preparo mais qualificado de trabalhadores. Com uma indústria patinando, são pífias as perspectivas de crescimento sustentável no longo prazo.