17/09/2018

Editorial publicado pelo Jornal Acrítica

A BR-319 tem sido fantasma e trunfo nas campanhas de candidatos à Presidência da República, a governadores dos Estados da Amazônia Ocidental e de candidatos ao Senado. A cada quatro anos, a estrada que deveria ser uma rodovia federal dentro dos mega projetos da era ditatorial, como o da Transamazônica é incluída na pauta dos discursos e em torno dela são feitas promessas que reunidas dariam inúmeras voltas em toda a extensão territorial brasileira.

O que prevalece na discussão da BR-319 (Manaus-Porto Velho)? A construção iniciada em 1968 e ‘inaugurada’ em 1976 como parte da estratégia político-militar de integração nacional, tem um custo do traçado aberto na floresta cuja história ainda precisa ser revelada e o pós-abertura continua a reunir capítulos de uma obra onde o ufanismo, a atitude autoritária e a ignorância sobre as especificidades da região Amazônica prevaleceram. A incapacidade governamental, apresentada em sucessivas gestões desde o século XX, fica patente diante das eternas disputas eleitorais e eleitoreiras envolvendo a conclusão da 319. Os que se comprometem em finalizar o projeto não conseguem apresentar um estudo tecnicamente responsável que permita aos brasileiros compreender o que está em jogo e qual deve ser o destino da rodovia.

Pesquisadores respeitáveis reúnem há muitos anos estudos de impacto tendo a BR-319 como referência. É preciso ouvir esses estudiosos, considerar o que dizem, igualmente se faz necessário ouvir representantes do setor empresarial que têm patrocinado contínuas caravanas para observação da atual situação dela; dos povos indígenas e tradicionais; e das comunidades que ao longo dos anos se formaram nas margens da estrada. Enfim, se trata de uma questão que deve ser parte das discussões locais, regionais e nacionais dos diferentes setores, a fim de reunir subsídios desses encontros e traçar um amplo mapa que possibilite a tomada de decisão mais participativa, mais correta e mais inteligente sobre o futuro da estrada.

O que não pode continuar é o jogo de colocar a 319 como pauta episódica das eleições, pois é a falta de respeito para com o eleitor e com milhares de pessoas prejudicadas por essa situação. A responsabilidade de quem se apresenta para governar e legislar não se encerra com o fim das eleições, infelizmente, na maioria das vezes, a BR-319 é tratada até a data como questão para ser esquecida ao término do depósito do voto.