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A Amazônia das elites ausentes

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09/12/2019

Augusto Cesar Barreto Rocha (*)

Fareed Zakaria, autodeclarado democrata liberal, fez uma análise sobre o Futuro da Liberdade (editora Gradiva), a partir de uma perspectiva histórica e internacional, mas com um olhar conclusivo sobre os EUA. Como historiador egresso de Yale e Doutor em Relações Internacionais por Harvard, com inúmeras premiações e intensa atuação na imprensa, sua reflexão ganha vigor, com densa análise crítica da realidade global, logo antes das fake news, tweets e arroubos autoritários por todos os lados e ideologias. Nas suas conclusões, destacou a importância das elites na construção dos EUA desenvolvido e já apontava o que aconteceria poucos anos depois. Em minhas conclusões precisamos de remédio semelhante.

Nossas mentes distraídas por todos os tipos de interferências perderam a capacidade de dialogar e perceber a realidade. Celulares sequestrando a atenção de seus donos estão retirando as pessoas de seus papeis mais básicos. Na semana passada publiquei um artigo sobre a importância da BR-319. Foi um texto ligeiro e despretensioso, que apoiou a recuperação da rodovia, com os necessários cuidados com a natureza. Fui surpreendido por uma enxurrada de comentários.

Após digerir três livros, tentando compreender o que se passa, e agradáveis conversas regadas por água ou por WhatsApp, conclui que um dos problemas da nossa região é que as nossas elites estão ausentes. Há uma profunda ausência das elites empresariais, culturais, acadêmicas e intelectuais. Todos falam para si sobre o que deve ser feito, sem a mínima capacidade de falar para um outro, não buscando um discurso que o outro queira ouvir ou que reflita também um pensamento que não é apenas seu.

Temos apenas diálogos de mudos para cegos, de locutores para surdos. Não há a mínima disposição em nossas elites de encontrar discursos de convergência. Falta-nos a capacidade de juntar nossas elites no entorno de um mínimo consenso em relação ao nosso futuro. Este não é um problema amazônico apenas, mas um problema global. Enquanto este problema não for sanado, ficaremos em um redemoinho onde a liderança surgirá das mais bizarras figuras e a corrupção norteará as decisões.

Ao falar somente o que se quer ouvir, sem uma mínima capacidade dialética, uma busca apenas de vantagens para si e para a sua tribo (no melhor estilo do Seth Godin e não no estilo Tupi-Guarani) seguiremos nesta paralisia. Precisamos nos reencontrar com as vantagens coletivas, onde uma elite se posiciona como tal e entende a sua responsabilidade para com a sociedade onde está inserida. Com expressivos discursos contrários às elites, ao longo dos últimos tempos, passamos a ter uma espécie de domínio dos que ignoram tudo. Estamos perdendo a beleza das diferenças, que caracterizam os humanos.

Deixar de tirar proveito de nossas diferenças, em busca de uma igualdade inexistente é um equívoco contemporâneo. Este falso olhar da igualdade, que me parece uma compreensão equivocada do lema francês, têm isolado as diferentes correntes do pensamento necessárias para a nossa evolução em ilhas isoladas e sem pontes para qualquer outra localidade. Há uma grande falta de confiança no futuro e isso tem levado a posicionamentos retrógrados que, por exemplo, somos obrigados a continuar como colônia em um mundo cheio de impérios. Até quando seguiremos com esta subserviência e conformismo?

Nossas elites precisam se reencontrar, aceitando e respeitando a democracia e a diversidade de pensamentos, sem querer impor seu pensamento ao outro, para que seja possível emergir uma nova sociedade, diversa e orientada para valores que levem ao progresso, por mais que nem todos desejem o progresso, por preferirem se manter em suas ilhas de ociosidade e de prisão de massas de ignorantes que se acham gênios.

Estou otimista, pois começo a perceber que há pessoas que estão dispostas a enfrentar esta caminhada: há lideranças políticas, acadêmicas, intelectuais e da imprensa que estão nesta busca. Tomara que elas continuem com a força e a perseverança necessária para combater as matilhas contrárias ao progresso da Amazônia. Várias das minhas conversas apontam nesta direção, com raras exceções. É necessário agora fazer estes grupos começarem a encontrar consensos e permear entre todos nós as conclusões sobre como construir um futuro mais próspero para a região.

(*) Professor da UFAM.

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