28/03/2023
Por Marco Dassori
Depois de amargar dois meses seguidos de cortes, o interior do Amazonas voltou a criar empregos formais, em janeiro. Desta vez, as contratações (+1.752) vieram acima das demissões (-1.399), gerando 353 vagas com carteira assinada e alta de 0,86% sobre o estoque anterior (41.238). O resultado foi melhor do que o do mesmo mês de 2022 (-144), mas ainda insuficiente para repor as perdas acumuladas em novembro (-201) e dezembro (-575) do mesmo ano. Os dados são do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e divulgados pelo Ministério do Trabalho e Previdência.
Embora acanhada, a quantidade de ocupações formais criadas pelo interior do Amazonas ultrapassou atipicamente o desempenho de Manaus, que pontuou a criação de apenas 83 vagas. E, diferente do ocorrido na capital, onde quatro das cinco atividades econômicas investigadas pelo ‘Novo Caged’ eliminaram postos de trabalho, o conjunto dos demais municípios amazonenses conseguiu saldo positivo de contratações ao menos nos setores de serviços e indústria em geral. O melhor desempenho veio de Iranduba, com a abertura de 272 empregos celetistas. O pior número ficou em Coari (-50 vagas).
Entre os 61 municípios interioranos, só 24 conseguiram fechar o mês com mais contratações do que demissões. Apenas 8 pontuaram estabilidade e nada menos do que 29 extinguiram empregos. Em metade das cidades que atingiram saldo positivo, o volume de vagas não passou da casa de um dígito. A exceção veio principalmente de Iranduba (+272), que avançou 9,76% sobre o estoque anterior. Rio Preto da Eva (+43 e +3,96%) e Boca do Acre (+35 e +2,31%) também se destacaram. Na outra ponta, Coari (-50 e -2,92%), Careiro (-24 e -8,99%) e Maués (-22 e -2,45%) lideraram os cortes.
Estoques e atividades
Os números de janeiro confirmaram ainda que a oferta de trabalho formal no interior segue estruturalmente concentrada. A soma dos estoques de empregos –que é a quantidade total de vínculos celetistas ativos –dos seis municípios mais populosos do interior responde por mais da metade de todo o volume de vagas contabilizadas fora da capital (42.081). A lista inclui Itacoatiara (5.087), Presidente Figueiredo (3.383), Tabatinga (3.330), Manacapuru (3.223), Parintins (3.190) e Iranduba (3.058).
Assim como nos meses anteriores, nem todos os setores econômicos conseguiram saldos positivos, na virada de dezembro de 2022 para janeiro de 2023. O interior seguiu a média do Estado e conseguiu saldo positivo em apenas dois dos cinco setores econômicos monitorados pelo Novo Caged. As contratações foram embaladas pelos serviços, com a abertura de 338 novas vagas com carteira assinada. Já a indústria criou 94 postos de trabalho, seguindo na contramão de Manaus (-82). Iranduba foi destaque nas duas atividades (+237 e +31, respectivamente).
No outro extremo, o setor econômico que mais eliminou empregos formais no primeiro mês do ano foi a agropecuária (34), sendo seguida de perto pela construção (-29) e pelo comércio (-16). Um dos municípios com pior desempenho na agropecuária foi Itacoatiara, que sofreu cortes especialmente na produção florestal (-38). As demissões no Careiro predominaram na construção, principalmente na atividade de construção de edifícios (-25). Em Maués, o foco das demissões esteve no comércio, com destaque para o varejo (-20).
“Investimento e tempo”
A ex-vice-presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, avalia que a variação das contratações e demissões registrada no interior do Amazonas, embora positiva, ainda reflete a falta de ampliação da estrutura produtiva e de perspectiva de novos postos de trabalho. “As variações seguem tímidas se olharmos pela ótica da mão de obra produtiva. Muito pouco se observa em termos de ampliação dos postos de trabalho”, argumentou.
A economista chama a atenção para a dificuldade de ampliação de empreendimentos no interior, aumentada pelo encarecimento do crédito, em função da alta dos juros. “Além disso, temos ainda um cenário de instabilidade em função da inflação elevada. Para os próximos meses vejo um cenário de pouca variação, dada a necessidade de melhorar todo o ecossistema produtivo e a qualificação da mão de obra. Tais implementações necessitam de investimento e de tempo, seja de médio ou longo prazo”, complementou.
Tributação dos combustíveis
A consultora empresarial, professora, conselheira do Cofecon (Conselho Federal de Economia) e integrante da seção regional da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia, Denise Kassama, aponta a política de incentivos aos combustíveis para explicar as recentes oscilações na geração de empregos do interior do Amazonas, ao extrair recursos que poderiam contribuir para mais atividade econômica nas localidades.
“O ICMS sobre combustíveis é a segunda maior arrecadação do Estado e boa parte dos recursos vai para o interior, onde a maior parte da movimentação financeira vem das prefeituras. Nesse período em que houve a desoneração da cadeia, houveram menos repasses e, evidentemente, a atividade financeira nos municípios foi prejudicada. Mas, acredito que a reoneração gradual deve trazer perspectivas positivas para os empregos e mais renda para a população”, avaliou.
“Secas e cheias”
Já o ex-presidente do Corecon-AM, consultor empresarial e professor universitário, Francisco de Assis Mourão Júnior, considera que os números do ‘Novo Caged’ mostram um aquecimento para os municípios, e principalmente para aqueles que se situam na Região Metropolitana de Manaus, como Iranduba e Rio Preto da Eva –embora o mesmo não tenha valido para o Careiro –dado o poder da capital de “irradiar” atividade econômica. O economista, contudo, se mostra mais cético quanto ao curto prazo.
“Apesar do predomínio de localidades com saldos negativos de empregos com carteira assinada, podemos colocar que esses 24 municípios que conseguiram ficar no azul, por meio de atividades sazonais. Mas, não podemos criar uma perspectiva, a partir de coisas que funcionam bimestral, ou semestralmente, devido às condições em que o interior se encontra, em meio a um regime de secas e cheias atípicas. Temos de ver como serão as políticas públicas a serem adotadas pelo governo do Estado, e que possam gerar desenvolvimento econômico”, concluiu.
Fonte: JCAM