14/09/2018 09:30
Wilson Périco (*)
Há um fundo de verdade pela metade em mais este ataque da Folha de S. Paulo à economia do Amazonas. O que o Brasil não precisa, neste momento, é que tratemos nossos problemas com doses de veneno, desinformação proposital e zombaria, na suposição de que aqui, no Norte, estivéssemos mamando nas tetas da viúva de plantão. Não estamos.
“Obsoleta, a Zona Franca consome 24 bilhões de isenção fiscal”
diz a matéria, publicada neste dia 13, que reproduz o
chauvinismo de alguns articulistas e seus teclados alugados.
Merece aplauso o clima de liberdade editorial da empresa,
posto que sua redação e departamento comercial, depois de
vivenciarem as verdadeiras questões de nossa economia,
através de seguidas horas de esclarecimentos e debate com os
enviados do Cieam, não deveriam permitir intrigas tão
reticentes e insistentes. Elas afastam investidores e comprometem a reputação de quem dirige este modelo de
acertos, vítima da gestão federal inepta de um país falido.
Não há recurso público na ZFM
É falso insinuar que há investimento público na Zona Franca
de Manaus. Nenhum centavo. R$ 24 bilhões são “consumidos”
dos cofres federais? Não são. É mentira. Se as empresas não
tiverem contrapartida elas não deixam apenas Manaus. Elas
deixam o Brasil, pois ninguém, de bom senso, suporta uma
cangalha tributária tão abusiva. São Paulo não seria São
Paulo, essa locomotiva pujante. E sem os incentivos, que
começam em 1955, no governo JK, para a indústria
automobilística, acabaria no Irajá.
O problema não são os incentivos. Metade deles são, 49,9%
consumidos exatamente por São Paulo. Sem prestação de
contas. A Suframa consome 8% apenas, de todo bolo fiscal.
E
presta contas. Aliás, só ela presta contas. Além dos
incentivos, aquele Estado consome – apesar de se r o mais
desenvolvido do país – mais de 25% das verbas do BNDES, na
média histórica. Ficar repetindo essa lenga lenga não vale a
pena, pois não é a verdade nem o espírito público que
orientam as matérias produzidas por teclados encomendados.
Resta saber quem pagará está conta que a difamação produz,
afastando parceiros que poderiam engrossar o caldo de nossa
planta industrial. Temos apenas 0,6% dos estabelecimentos
industriais do Brasil. A planta paulista tem 30% das indústrias
em seu quintal. Parece que é pouco, à vista da sordidez das
campanhas contra a ZFM.
Mais reais do que o rei
Como evitar que as taxas de desemprego sejam maiores aqui,
se o Amazonas não pode fabricar o que precisa? Se os técnicos
do Sudeste, que compõem o GT-PPB, um grupo de burocratas
que são mais reais do que o rei e mais legais do que a Lei,
decidem se licenciam ou não o processo produtivo básico que
permite à ZFM gerar mais emprego, renda e arrecadação
púbica. Sim, arrecadação, pois o Amazonas, mesmo com a
fama de paraíso fiscal,
é paraíso da Receita Federal. Aqui,
recolhem 50% de todos os impostos da região Norte. E mais,
no apurado da riqueza gerada, o Amazonas recolhe, diz a USP,
a União confisca
54,42% do volume de recursos produzidos.
Como sair do buraco que a reportagem da Folha descreve sem
oferecer ao leitor referenciais de compreensão da tragédia?
Ou o propósito é o de sempre?
Eliminar o Amazonas da paisagem econômica do país,
entregando-o ao narcotráfico
e ao crime organizado? Os
recursos confiscados
– e ninguém define
seu paradeiro –
deveriam ser empregados em recursos humanos, segurança
pública, infraestrutura da competitividade de nossa indústria.
Não queremos aplausos, mas queremos respeito para
trabalhar e proteger esta floresta
que hidrata os reservatórios
do Sudeste e nossos rios, que geram 60% da energia
encarregada de alumiar a escuridão da capital paulista,
incluindo a cegueira proposital de alguns de seus escribas.
(*) Wilson é economista e presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas e vice-presidente da Technicolor (wilson.perico@technicolor.com)
================================================================================
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicada no Jornal do Commercio do dia 14/09/2018