30/05/2025 08:10
“Chegaremos à COP30 com currículo, com dados, com propostas, com humildade e com coragem. Com a clareza de que ainda há muito por fazer — mas também com a convicção de que já fizemos muito mais do que costumam enxergar. E que agora, finalmente, a Amazônia poderá falar por si.”
A hora da floresta falar por si — e por quem nela trabalha
A Amazônia vai sediar, pela primeira vez na história, uma Conferência das Partes da ONU sobre a mudança climáticas. E a COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém, será bem mais que um evento simbólico — será uma encruzilhada. Um momento de decisão. Um ponto de inflexão entre discursos e compromissos reais, entre o velho modelo de crescimento e a nova lógica da sustentabilidade.
É nesse contexto que nós, da Comissão ESG do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, lançamos esta reflexão, embasada nos dois Fóruns ESG Amazônia e nas proposições que emergiram desses encontros. Nosso desafio é traduzir os aprendizados em compromissos. E os compromissos em política industrial. E a política industrial em resultado socioambiental concreto.
Porque, ao contrário do que alguns ainda insistem em propagar, o Polo Industrial de Manaus não é antagonista da floresta em pé. Ele é, desde seu nascimento, o principal contraponto à economia predatória, que transforma biodiversidade em matéria-prima sem valor agregado.
A contribuição dos Fóruns ESG da Amazônia: da escuta à proposição
Os dois Fóruns ESG da Amazônia — realizados sob liderança do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), com o apoio estratégico da SUFRAMA, do INPA, da UEA, FGV e de diversas instituições comprometidas com o futuro da região — representaram momentos decisivos de escuta qualificada, construção coletiva e amadurecimento político em torno da integração entre indústria, meio ambiente e justiça social.
Desses encontros emergiram diagnósticos claros sobre os entraves ainda latentes no caminho da consolidação da sustentabilidade industrial na Amazônia. Identificou-se, por exemplo, a ausência de mecanismos federais de incentivo que estejam atrelados diretamente a metas de sustentabilidade, o que compromete a previsibilidade e a escala de iniciativas transformadoras. Apontou-se também o despreparo logístico como um fator que encarece sobremaneira a produção verde, limitando sua competitividade no cenário nacional e global. Além disso, foi destacada a fragilidade dos sistemas de rastreabilidade das cadeias produtivas, que ainda carecem de padronização, auditagem e transparência.
Outra questão crítica é a invisibilidade — ou, pior, o desconhecimento — das contribuições ambientais e sociais geradas há décadas pelo modelo da Zona Franca de Manaus, que resiste em meio a narrativas desinformadas. Por fim, mas não menos importante, os fóruns evidenciaram a presença de uma economia marginal predatória que atua como concorrente desleal, oferecendo produtos mais baratos à custa do desrespeito à legislação ambiental, trabalhista e fiscal.
O compromisso que nos leva a Belém
Com base nesses aprendizados, a indústria amazônica chega à COP30 com um Manifesto estruturado em compromissos concretos e propostas viáveis, construídas com responsabilidade técnica e visão de longo prazo.
Entre os compromissos firmados, destaca-se o objetivo de alcançar a neutralidade de carbono em seus processos industriais até o ano de 2035, em consonância com as metas climáticas internacionais. Soma-se a isso a inclusão de cadeias produtivas da sociobiodiversidade e de povos indígenas nos sistemas industriais, com plena rastreabilidade e respeito às salvaguardas sociais e territoriais. Outro pilar é a promoção da equidade de gênero e raça nas instâncias decisórias das empresas, consolidando um modelo de governança mais justo e representativo. Por fim, o setor assume a economia circular como critério estruturante de operação, adotando a logística reversa e o reaproveitamento de materiais como normas, e não exceções.
Em termos propositivos, a indústria da Zona Franca de Manaus defenderá a adesão formal ao mercado regulado de carbono, por meio de projetos jurisdicionais que valorizem o papel de conservação exercido pela produção industrial na Amazônia. Também será apresentada a proposta de criação do Fundo Clima ZFM, uma estrutura alimentada por aportes do setor privado e revertida em ações ambientais e sociais verificáveis. Por fim, buscar-se-á a consolidação do Selo Amazônia Industrial Sustentável, com critérios técnicos rigorosos e auditoria social independente, garantindo legitimidade e transparência perante a sociedade e os mercados globais.
A floresta como ativo produtivo — e não como fetiche
Negar a vocação industrial da Amazônia é negar às suas populações o direito ao trabalho digno, à renda formal, à tecnologia e à educação. É fetichizar a floresta como intocável, enquanto se mantém, na prática, uma economia marginal que saqueia seus recursos e marginaliza seu povo.
A proposta da ZFM é justamente o oposto: produzir com a floresta, e não contra ela. Gerar valor com conhecimento, inovação e rastreabilidade. Ser parte da solução global, e não um problema a ser contido.
ESG como pacto e não apenas como estratégia
Para nós da Comissão ESG do CIEAM, o ESG não é marketing. É método. É ferramenta de reconciliação entre a indústria e a sociobiodiversidade. É também a linguagem com a qual queremos conversar com o mundo — inclusive em Belém, diante da comunidade internacional.
Chegaremos à COP30 com currículo, com dados, com propostas, com humildade e com coragem. Com a clareza de que ainda há muito por fazer — mas também com a convicção de que já fizemos muito mais do que costumam enxergar. E que agora, finalmente, a Amazônia poderá falar por si. Pela sua floresta. Pelas suas fábricas. E, sobretudo, pelas pessoas que aqui vivem, trabalham e sonças.
Comissão ESG do Centro da Indústria do Estado do Amazonas – CIEAM
(*) Coluna Follow Up é publicada pelo Jornal do Comércio às quartas, quintas e sextas feiras, sob a responsabilidade do CIEAM e coordenação o editorial do Alfredo Lopes, editor do BrasilAmazoniaAgora.