13/02/2015 15:20
Prorrogação do descaso
O poder de decisão da autarquia se reduz em vários níveis, oportunidades e definição de rumos. E é visível que se esvazia a capacidade e a autonomia do órgão no encaminhamento dos problemas enfrentados pelas empresas. A falta de fiscais, que obriga custos adicionais de armazenagem portuária, é um problema residual no conjunto dos embaraços que impedem a dinâmica produtiva, o adensamento do modelo, a regionalização de seus estabelecimentos produtivos e benefícios. O confisco de verbas para fazer funcionar a Suframa remete a outra questão mais instigante: por que não recorrer à justiça para brecar essa ilegalidade? É bem verdade que outros segmentos da esfera federal que atuam em Manaus padecem da mesma agonia e descaso. À luz da relevância institucional da Superintendência, porém, é eloquente refletir sobre o significado do frequente embargo e recentes vetos do GTPPB, o Grupo de Trabalho dos ministérios de Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Ciência e Tecnologia. Temos sido omissos em repudiar ou acionar na justiça a não liberação de itens que já são produzidos em Manaus, sem incentivos, e que são importados historicamente no resto do país. É preocupante o silêncio obsequioso da Suframa a respeito. Trata-se de um desacato frontal à Constituição do país e de anuência a um dano que ganha jurisprudência descabida e com implicações imprevisíveis, portanto inquietantes e assustadoras.
Suframa: agência ou cartório?
Criada para gerenciar o modelo de desenvolvimento fundado na renúncia fiscal e consolidado como fonte generosa de exportação de recursos para a União, cabe perguntar a que se destina a autarquia senão assegurar a distribuição criteriosa de incentivos na promoção do desenvolvimento? E como justificar que temos assentido, nos últimos anos, com esta conduta e tratamento, que confirma o crescente esvaziamento de sua função promotora de investimentos/desenvolvimento e transformação num cartório de permissões burocráticas? Os recentes episódios, que confirmam o esvaziamento do CAPDA, o comitê que avalia e define a gestão e distribuição das verbas de Pesquisa & Desenvolvimento, confirmam o risco de concordância com o boicote explícito vital a um novo patamar de agregação de valor para o modelo ZFM. Estamos abrindo mão da competitividade e diversificação do setor produtivo local? A última reunião do CAPDA, em novembro último, última e única de 2014, repete e reprisa, ano a ano, a persistência do descaso, indicador dessa falta de visão estratégica e de ausência de priorização do interesse regional.
O divórcio entre discurso e conduta no oba-oba da prorrogação, se repete no paradoxo entre coleta e gestão dos recursos para P&D&I, Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação para a Amazônia. De camarote, até quando vamos engolir decisões equivocadas, obscuras, perdulárias entregues à incúria e descompromisso de resoluções de gabinetes, da centralização burocrática de Brasília, que se atribuem a habilidade de conhecer as reais necessidades da região, ou definir o que fazer com os recursos que, por Lei Maior, lhe pertencem? Voltaremos?
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 13.02.2015