24/03/2022 10:08
Alfredo Lopes (*)
A Zona Franca de Manaus, a partir dos recursos gerados por seu Polo Industrial, e a despeito das restrições, embargos de gaveta da burocracia federal, soube aproveitar do próprio ambiente de negócios que ela oferece para fomentar trilhas de diversificação. O conjunto de demandas que as indústrias firmaram nos últimos 55 anos, serviram para apontar os rumos de adensamento fabril que vai assegurar sua perenidade, na medida em que demonstrarmos, de uma vez por todas, a relação harmônica entre economia e ecologia. Um desses rumos é a economia digital associada à robótica – duas realidades dos tempos modernos absolutamente irreversíveis – que, em princípio, eram encaradas como o fantasma do emprego no modelo clássico de produção industrial – e que hoje conseguiram demonstrar incontáveis argumentos e instrumentos para criar novas saídas. Tecnologia da informação e comunicação, indústria e bioindústria 4.0, são produtos preciosos e consequências da economia da ZFM. Um caminho sem volta, queiram ou não queiram os paraquedistas ministeriais e seus vaticínios sinistros e ameaçadores. A melhor maneira de tratar com isso é fazer dessa cantilena uma novena de libertação e transpiração.
Essas mudanças na economia sempre escondem oportunidades, já dizia o consultor da Indústria do Amazonas, José Marcio Mendonça, um genial jornalista que nos ajudou a segurar a peteca da oposição empresarial do Sudeste com inteligentes sacadas mineiras de seu vasto repertório. “O desafio é identifica-las e transformá-las com eficácia criativa”. O fantasma da tecnologia deve ser tratado com criatividade que transforma surtos de paranoia em novas brechas de empregabilidade e prosperidade. Enquanto uns choram outros fábricas colírios para disfarçar/desconstruir lamentação e fracasso. Foi assim no desespero causado pelas notícias da pandemia. De uma hora pra outra, a lamúria deu lugar ao combate da penúria e nossas habilidades se transformaram em providências de surpreendente inspiração e soluções.
O trabalho, o ensino, o comércio, entre outras atividades, passaram a ser feitos à distância em quase 100% daquilo que era feito no formato presencial até então. Ou seja, a tendência da civilização é o ócio, já dizia Jacques Cousteau, um naturalista francês do Século XX, que se apaixonou e casou com a Amazônia e sugeriu a Ritta Bernardino, um empresário amazonense do setor de hotelaria, a fazer um hotel de selva, o Ariaú Jungle Tower. O ócio ainda não é predominante nas economias globais mas a redução da carga de trabalho, pós-pandemia tem tudo para emplacar. E, nesse contexto, qual seria a base econômica de nossa economia, hoje dependente quase integralmente do Polo Industrial de Manaus? Nada que implique em substituí-lo e sim interiorizar suas expertises e benefícios.
Hoje a produção artística no universo digital de criação, provocação e reconstrução de utopias, revoluciona o próprio conceito da obra-de-arte como fator disruptivo da ordem convencional. O insight é uma ante-sala de uma fábrica virtual de soluções e aplicações em todas as direções e atividades da vida no planeta e fora dele. Por isso, também é preciso descobrir os ovos de Colombo da chamada economia criativa, que se espalham em profusão na Amazônia. Pense no desenvolvimento da biotecnologia, ou na tecnologia da informação e da comunicação, duas áreas em que nós podemos, devemos e precisamos avançar. No caso da Amazônia, com esse acervo monumental de floresta e genética, a busca de novos fármacos, da cosmética e da indústria nutracêutica, a partir da biodiversidade, ganha nuances inusitadas, inimagináveis no curto espaço de tempo que se passou. Aqui, quem prestar atenção, vai descobrir as trilhas de uma nova economia, sustentável e humanizada.
Basta ver, a partir da iniciativa do Polo Digital de Manaus, asssim como ocorreu com dezenas de outras cidades pelo país afora, o clima gratificante de vaidade civil com os eventos mobilizadas por múltiplasas tribos de naturalização de um espetaculoso e maravilhoso amanhã. Mais de 100 startups, sacações e surpreendentes tecnologias que, há bem pouco tempo, ninguém supunha poder emplacar e desenhar cenários de inovação. Graças, em grande parte, no nosso caso, ao clima de desafios e da necessidade de soluções para os gargalos diários do verbo fabricar, improvisar, avançar, diversificar.
“Deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar, rir pra não chorar”, esses versos de Cartola, um negro lavador de carros, descoberto aos 50 anos de idade pela indústria fonográfica, chega chegando a nos dar um presta atenção. Na simplicidade de um dos poetas do povo mais lúcidos e proféticos da brasilidade, ele aponta alertas que nunca foram tão atuais para quem teima em empreender na floresta e aprender, ao mesmo tempo, a protegê-la. “Quero assistir ao sol nascer/Ver as águas dos rios correr/Ouvir os pássaros cantar/quero nascerQuero viver”. Só não podemos nos dispersar e jogar fora a criança junto com a água de sua sobrevivência e evolução. Sua benção, Cartola, vamos em frente pra fazer tudo do melhor jeito, novamente!
(*) Alfredo é editor do portal BrasilAmazoniaAgora e consultor do CIEAM