09/03/2022 10:22
‘De concreto, neste cenário de generosas contribuições federais da ZFM, uma indústria sem chaminés e com destacada performance nacional de reciclagem e logística reversa, robustos avanços em inovação tecnológica, o ministro decretou o esvaziamento do programa Zona Franca de Manaus, abrindo o mercado para produtos importados com os quais a indústria nacional e a de Manaus não têm condições de concorrer. É assim que se combate à inflação e se assegura a industrialização nacional?”
Por Wilson Périco
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Em 2021, o Polo Industrial de Manaus cresceu 36% em relação ao ano anterior e faturou US$32,2 bi. Os empregos diretos alcançaram a marca de 103 mil, algo que não se via desde 2005. Para quem não sabe, quando o assunto é a distribuição dessas conquistas, a cada R$ 1 mil reais de riqueza gerada pelo Polo industrial de Manaus, R$750 é depositado no Cofre Único da União, conforme estudos do tributarista Thomaz Nogueira, ex-superintendente da Suframa, baseados em dados da Receita Federal. Estes dados são a melhor explicação para o porque não construímos um programa alternativo à contrapartida fiscal depois de 55 anos de Zona Franca de Manaus. Precisaríamos ser mágicos.
Sobre o imperativo dessa diversificação, temos insistido desde sempre, sob o mote das Novas Matrizes Econômicas, em avançar sugestões da obviologia de nossas potencialidades da diversidade biológica e mineral na Amazônia. Basta acessar os conteúdos a respeito no acervo do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, muitos deles publicados em mídia nacional.
Aliás, o Polo Industrial de Manaus tem um portfólio amplo de serviços e avanços que vai na direção BIO-TIC, a economia a partir da biodiversidade e a tecnologia de informação e comunicação como mecanismo de aproveitamento e sustentabilidade dos insumos biológicos. Ou seja, temos acervos e coleções sobre infinitas alternativas medicinais, dermocosméticas e nutricionais que, comprovadamente, sugerem novas oportunidades de negócios sem precisar desmatar a floresta. E temos laboratórios avançados que permitem levar estas soluções de que a humanidade precisa para o mercado. E o que pensa o governo a respeito?
Reportagem da Folha de S. Paulo deste domingo, 06/03/22, põe o Amazonas entre os estados com grandes esforços de inovação tecnológica, a Selva do Silício, destacando os avanços em TIC, que se deram a partir do Polo Industrial de Manaus e de seus recursos de P&D. A matéria, a propósito, relembra a insistência do ministro da Economia, desde 2018, de retirar a contrapartida fiscal do Polo Industrial de Manaus e transferir seus benefícios para Google, Amazon e Tesla, e assim fazer de Manaus, a “capital mundial da economia verde e digital”. Uma das razões alegadas, é que “a indústria do Amazonas suja a floresta”. Isso não passa de uma inverdade. Palavras tem poder, mas o vento, as vezes, tem muito mais.
De concreto, neste cenário de generosas contribuições federais da ZFM, uma indústria sem chaminés e com destacada performance nacional de reciclagem e logística reversa, robustos avanços em inovação tecnológica, o ministro decretou o esvaziamento do programa Zona Franca de Manaus, abrindo o mercado para produtos importados com os quais a indústria nacional e a de Manaus não têm condições de concorrer. É assim que se combate à inflação e se assegura a industrialização nacional?