04/04/2024 11:31
“A ativista indígena faz um forte apelo à justiça climática, sublinhando que a equidade e a inclusão da cultura indígena devem ser pilares centrais nas estratégias de desenvolvimento sustentável e na luta contra a mudança climática”.
Anotações de Alfredo Lopes - Coluna Follow-up(*) 1º Fórum ESG Amazônia - Manaus AM 25/03/2024
Em uma palestra inspiradora, Vanda Witoto, durante o 1º Fórum ESG Amazônia, realizado pelo CIEAM e Suframa, com apoio da Rede Amazônica, na semana passada, destacou a necessidade de maior interlocução e interatividade do país com suas populações originárias. Aquelas que chegaram bem antes da cultura europeia. Ativista indígena e membro do povo Witoto, que ocupa a tríplice fronteira no Alto Solimões, Brasil-Peru-Colômbia, Vanda ressaltou a urgência do reconhecimento e integração das populações tradicionais da Amazônia. Especialistas em preservação ambiental e desenvolvimento sustentável, os indígenas representados por Vanda, e que vivem na comunidade Parque das Tribos em Manaus, onde habitam 700 famílias, lutam por compartilhar sua rica diversidade cultural e sua profunda conexão com a floresta, da qual se sentem como um ser integrado à natureza.
Com décadas de experiência e participação em fóruns climáticos internacionais, Vanda expôs a necessidade de as empresas e entidades governamentais ouvirem e aprenderem com o conhecimento ancestral dos povos indígenas. Ela apontou para as práticas sustentáveis inerentes ao modo de vida indígena, como a agricultura de subsistência e a gestão de recursos naturais, que oferecem lições valiosas, “soluções incríveis, suas tecnologias próprias”, como diz Witoto, para a conservação ambiental e cultural.
Vanda destacou o Ateliê Derequine, um projeto liderado por mulheres indígenas, que exemplifica a capacidade de geração de renda alinhada à valorização cultural. Ela apelou para que mais empresas e organizações se envolvam e apoiem iniciativas semelhantes. Isso colabora a superar desafios como a falta de espaço físico e recursos para expandir empreendimentos como a produção e a venda de produtos indígenas, gastronomia, danças que já ganharam passarelas mundo afora. Desfiles no Chile, Nova York, Europa…
Além disso, ela abordou a importância do turismo de base comunitária, um setor com potencial significativo no Parque das Tribos, que necessita de investimento e desenvolvimento para prosperar. Vanda convidou as entidades presentes a conhecerem o Parque das Tribos, visando estabelecer parcerias que fortaleçam a economia local e promovam uma interação respeitosa e mutuamente benéfica entre visitantes e a comunidade indígena.
A ativista enfatizou que a valorização e o envolvimento com as populações indígenas não devem ser vistos como uma mera obrigação social ou ambiental, mas como uma oportunidade de aprendizado e crescimento conjunto. Vanda Witoto diz que os indígenas precisam estudar o significado e o alcance da agenda ESG, “para não falar sobre o assunto de forma superficial”. E fez um forte apelo à justiça climática, sublinhando que a equidade e a inclusão da cultura indígena devem ser pilares centrais nas estratégias de desenvolvimento sustentável e na luta contra a mudança climática.
O compromisso de Vanda Witoto com a defesa dos direitos e da cultura indígena, com palestras em fóruns nacionais e internacionais, é destacar a razão da importância das populações tradicionais na proteção da Amazônia. Além disso, sua militância é um alerta crucial da necessidade de uma abordagem mais inclusiva e colaborativa na gestão e conservação dos recursos naturais da região. Proteção, inclusão e interatividade.
Durante a pandemia, Vanda Witoto, que tem formação de técnica de enfermagem, destacou-se na defesa e difusão das vacinas e foi a primeira indígena a ser vacinada. Integrou a organização do lançamento da campanha de vacinação contra a Covid-19 no Amazonas, usando sua posição como profissional de saúde e assim defender os direitos dos povos indígenas urbanos. Com trajes tradicionais, simbolizando a cultura e o poder feminino do povo Witoto, desfralda a bandeira da saúde das populações indígenas que vivem fora das terras demarcadas, especialmente em Manaus.
Vanda apontou a invisibilidade dos indígenas urbanos nos registros de saúde pública, uma questão crítica em Manaus, onde aproximadamente mais de 70 mil indígenas residem. A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) foi criticada por não fornecer cobertura adequada de saúde a esses grupos. Em suas pregações, alerta e protesta contra a negação da identidade indígena e a falta de assistência do Estado e da própria sociedade estabelecida.
Por fim, a conferencista enfatizou que a identidade indígena não se limita a territórios demarcados, mas resiste onde quer que os indígenas estejam exigindo reconhecimento e inclusão na teia social. Apesar de adversidades de toda ordem, Vanda Witoto continua a ser uma voz importante na defesa dos direitos e da saúde dos povos indígenas, do empreendedorismo e da autonomia financeira das diversas etnias. E assim, vai inspirando ações e mudanças em favor de uma sociedade mais justa e inclusiva para todos e todas no sentido da universalidade e da equidade.
(*) Coluna Follow-up é publicada as quartas, quintas e sextas-feiras no Jornal do Commercio do Amazonas, sob a responsabilidade do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, na coordenação editorial de Alfredo Lopes, editor do portal BrasilAmazoniaAgora
Fonte: Brasil Amazônia Agora