07/11/2014 14:27
Fio da meada
O momento é oportuno, portanto, dada a prontidão anunciada pelos atores dos ministérios envolvidos – para encaminhar uma questão tão ordinária, no sentido de sua legalidade e obviedade institucional – que valeria a pena avançar na discussão dos atributos legais da Suframa, em ficando claro, definitivamente, que não lhe compete assumir pagamento de salários de seus colaboradores com as Taxas de Serviços Administrativos. E o fio dessa meada aparece, se esclarece e culmina nos fundamentos constitucionais do marco regulatório da Zona Franca de Manaus promulgado pelo Congresso Nacional no dia 5 de agosto último. Os investidores que aqui se instalaram acreditaram na seriedade e segurança desse arcabouço legal, em cima do qual geram emprego, pagam generosos impostos e contribuições e, por tudo isso, merecem todo o respeito. É importante enfatizar que este marco legal confere à Suframa e a seu Conselho de Administração o exercício gerencial do modelo. Relacionar TSA com pagamento de salários dos servidores da autarquia é supor – além de sinalizar desconhecimento do aparato legal – que a legislação pode ser burlada, ignorada e distorcida a qualquer momento. E isso é decididamente preocupante. Eis uma razão imediata para debater, já na próxima reunião do CAS, o Conselho de Administração da Suframa, uma proposta de discussão específica e clareamento de suas funções, responsabilidades e possibilidades legais na perspectiva de recuperar autonomia e revitalização da autarquia.
Verbas de P&D
Com a proximidade do final do ano, os conselheiros do CAPDA, o Comitê das Atividades de Pesquisa e Desenvolvimento da Amazônia, relatam mais um ano sem as reuniões periódicas do Colegiado. E ao que tudo indica, mais um ano sem uso planejado dos preciosos recursos que deveriam ser destinados para fortalecer o sistema de pesquisa e inovação, premissas vitais para criar condições mais favoráveis para o desenvolvimento futuro da região. Há quase dois anos as entidades debatem com a Suframa a necessidade de rever os mecanismos, critérios e prioridades de aplicação desses recursos, que em 2014 devem ultrapassar R$ 1,5 bilhão. Em julho de 2013, num documento detalhado e aberto ao debate, FIEAM/CIEAM encaminharam ao governo um rol de sugestões e de expectativas do setor produtivo, de onde emanam as verbas que carecem de urgente revisão e aplicação inteligente e coerente com o interesse público.
Sintomas do descaso
Alguns fatos ajudam a ilustrar a reflexão sobre o descaso. O Edital do PROTI, o Programa de Tecnologia da Informação, sob a gestão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas, planejado para sair em 2013 e adiado para 2014, tem todas as indicações de que seguirá em suspensão. É muito fácil deduzir os prejuízos que isso representa, à luz da imperiosa necessidade de avançar e inovar no setor, dominado por desenvolvedores estrangeiros a quem o modelo ZFM repassa generosas contribuições ainda não saiu e não há qualquer resposta dos responsáveis a respeito. O objetivo do Edital e da aplicação dos recursos é apoiar o planejamento e a execução de projetos conjuntos de Pesquisa, Capacitação e Inovação no âmbito da colaboração científica e tecnológica entre os pesquisadores vinculados à Instituições de pesquisa e/ou ensino superior públicas ou privadas, institutos de pesquisa, empresas públicas de pesquisa e desenvolvimento que atuem em investigação científica ou tecnológica, credenciadas pelo CAPDA em estados da Amazônia Ocidental e pesquisadores e docentes de outros estados da Federação bem como de outros países, mediante a seleção de propostas nas áreas do conhecimento relacionadas à Tecnologia da Informação, incluindo Ciência da Computação, Eletrônica e Ciência da Informação. O apoio, nada mais prosaico, destina-se ao financiamento da mobilidade de docentes e pesquisadores com atuação em projetos de P&D&I. Para ilustrar a gravidade do problema cabe listar alguns entraves: o orçamento, proporcional à arrecadação, não está sendo ajustado. À parte as verbas de P&D, prognósticos da Suframa e Institutos envolvidos no Comitê indicam que haveria neste ano uma arrecadação próxima a R$ 70 milhões no CT-Amazônia, suficientes para financiar projetos prioritários como os de formação de recursos humanos aprovados em 2013. No entanto, estão disponíveis apenas R$ 14 milhões, cuja destinação o Comitê não definirá sem discussão de seus integrantes. Para esta finalidade, projeções das empresas indicam que em 2015 estarão disponíveis aproximadamente R$100 milhões em arrecadação no CT-Amazônia. “Qualquer país sério já teria feito uma revolução tecnológica”. Voltaremos ao assunto.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 07.11.2014