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Suframa, a entropia inquietante

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02/04/2014 11:37

Os gregos adotaram o termo entropia para medir o grau de desordem de um sistema, uma grandeza termodinâmica ironicamente representada pela letra S. Na Física, assim como na gestão de pessoas ou instituições, portanto, quanto maior a desordem de um sistema maior sua entropia e os danos a ela associados. De sexta, 28 de março à segunda feira, 31, de acordo com a entidade que congrega as empresas de transporte, 280 carretas não saíram com suas respectivas cargas de Manaus, como o fazem em condições de normalidade, por conta do apagão digital. No pico da greve, a entidade já havia contabilizado 2700 carretas paradas, à espera do desembaraço, das quais 1700 deixaram de fechar contratos porque não conseguiam desembaraçar, em tempo hábil, as cargas trazidas para Manaus. Isso já havia representado um prejuízo irrecuperável aproximado de R$ 40 milhões apenas para as transportadoras, adicionados aos R$ 3 milhões como saldo do apagão digital. Os demais negócios que movimentam a economia local e regional foram paralisados e penalizados, tanto pela ausência da comunicação digital, como na expectativa de solução para a greve. E vai continuar a greve dos funcionários, que seguem atendendo 30% dos serviços da rotina dos negócios. Portanto, além do apagão digital – resolvido precariamente no final da tarde de segunda-feira - a continuidade da greve ilustra a estropia, o tamanho da insegurança, dos riscos e obscuridade do modelo Zona Franca de Manaus, neste momento.  

A greve continua

Apesar das manifestações favoráveis da absoluta maioria dos servidores para retorno ao trabalho, a Assembleia desta segunda-feira acabou por decidir que o fim do movimento paredista só se dará após uma manifestação por escrito do ministério do Planejamento e Gestão. Eles exigem que a formalização pública de formação de um Grupo de Trabalho para definir ao longo dos próximos 7 meses – ou seja, após o período eleitoral – a correção das distorções do Plano de Cargos e Salários da autarquia entre outras reivindicações da categoria. A promessa foi trazida pelo Superintendente da Suframa há duas semanas em resposta à exigência dos grevistas. Eles reconhecem a boa vontade, mas alegam a falta de legitimidade política da direção da autarquia junto aos organismos que decidem em Brasília, onde dizem ter a receptividade de setores do ministério do Desenvolvimento para suas bandeiras. Lembram ainda o apoio político dos senadores que representam o Amazonas, e que a maior dificuldade de suas reivindicações é que se o governo atendê-las uma avalanche de solicitações cairá sobre o Palácio do Planalto. Ou seja, é tênue a razão pela qual a greve foi mantida, e se resume à assinatura de um compromisso já assumido pela pasta do Planejamento. Para muitos servidores, isso não representa objetivamente um avanço ou conquista efetiva. Trocando em miúdos, a solução para a greve se transformou em algo imponderável, imprevisível e intangível.

Buraco negro

Mais imponderável, preocupante e desgastante que a greve é a insegurança generalizada provocada pela solução nebulosa e precária dada em relação ao contrato de inteligência digital firmado com a Fucapi, a Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica, encerrado na última sexta-feira e que responde efetivamente por toda comunicação digital do controle e integração do modelo econômico gerido pela Suframa. Há mais de um ano, a autarquia foi alertada tanto pela contratada como por seus órgãos interno de assessoramento, pelas entidades do setor produtivo, em reservado e publicamente - dada a gravidade do problema - incluindo esta Follow-Up em várias edições. Na semana passada, informada sobre o descarte da alternativa de renovação do contrato, a Fucapi, impossibilitada de manter, sem função, a equipe responsável pela criação, operação e manutenção do Sistema, dispensou 90 servidores da Fundação e interrompeu os serviços. Nesta segunda-feira, em função dos estragos provocados, foi procurada pela autarquia para retomar de imediato apenas a operação digital. Isso significa uma solução parcial e temerária que mantém o clima de insegurança e indefinição. E remete a um buraco negro na gestão do modelo, onde as indefinições, protelações e expectativas em suspensão - tanto para o equacionamento da greve como para a elucidação do Sistema de Inteligência Digital – precisam de urgente solução.

Um vazio que se amplia

O que significa objetivamente todo este emaranhado de acontecimentos que – aparentemente desconexos – podem ser lidos como um galopante esvaziamento da Suframa e que não acontece apenas com a falta de solução para a greve nem com a trapalhada do destrato e contrato com a Fucapi, que deixou o modelo completamente fora do ar? O desacato vem ocorrendo desde o sequestro das taxas administrativas, que chamávamos de contingenciamento para não admitir o desvio definitivo desse recurso que pertence ao modelo para cumprir sua obrigação regional. Isso está ocorrendo desde antigamente com o embargo de gaveta do PPB, que manteve travada por quase cinco anos uma empresa de medicamentos que pretendia produzir fármacos a partir da extração sustentável dos recursos da imensa biodiversidade amazônica. O esvaziamento tem sido proibir, através de comissões que levam a lugar algum, a emissão do CNPJ do Centro de Biotecnologia da Amazônia. O embargo generalizado tem sido protelar o polo de bioindústria, aquele que vai propiciar diversificação e interiorização do modelo com novas matrizes econômicas e desviar verbas de Pesquisa & Desenvolvimento, recolhidas junto às empresas locais de Informática, para a pesquisa do agronegócio, por determinação e manobra do ministério de Ciência & Tecnologia. O esvaziamento maior, porém, é a cumplicidade e omissão dos atores locais diante, por exemplo, do legalismo vesgo da justiça que determinou as demissões dos colaboradores da autarquia que não soube prever sua substituição coerente. Uma cumplicidade que não denuncia a indiferença dos organismos federais responsáveis pelo planejamento e gestão local. O Congresso Nacional se prepara para discutir, em segundo turno, a prorrogação por mais 50 anos deste modelo de exceção, estigmatizado pela pecha do privilégio e favor. Provavelmente, a cumplicidade com essa discriminação possa confirmar a submissão descabida à acusação de modelo privilegiado e de exceção. Seria esta a razão da incapacidade geral de dar um basta à instalação progressiva do caos?
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes.  cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 02.04.2014

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