13/11/2014 16:04
De novo na berlinda
A falta de diálogo não atinge apenas a instituição pública e seu contraponto na iniciativa privada. A falta de diálogo é mortal, também, na academia, onde cada um fala o que lhe vem à telha na suposição de que todos vão levar a sério suas premissas, sem levar em conta as implicações das sentenças na vida dos cidadãos. O noticiário desta semana trouxe um alerta do pesquisador Antônio Nobre, um cientista formado originalmente no INPA, o sexagenário Instituto de Pesquisas que conseguiu inventariar no laboratório 5% do imensurável acervo biótico da Hileia. Ele trabalha atualmente no INPE, onde se concentram os estudos climáticos, a partir do qual afirmou que o desmatamento da Amazônia explica a escassez de água no Sudeste, e que "... acabar com o desmatamento na Amazônia é para ontem, não daqui a 30 anos, não faria o menor sentido. O futuro já chegou. Em 2004, perdemos 27.772 km2 de floresta. Em 2012, 4.571 km2, mas este é um efeito ilusionista, pois o último número equivale ao tamanho da área metropolitana de São Paulo. Em dez anos, desmataríamos a Costa Rica inteira com esta taxa". De que Amazônia fala o pesquisador, nas premissas de sua partida, ao dizer que ela é constituída em 90% de floresta? Isso não passa de uma premissa falsa. E uma construção sistêmica do conhecimento que parte de premissas falsas, obrigatoriamente, desembarca em resultados igualmente falseadores do objeto estudado. A Amazônia não tem nem nunca teve 90% de seu território coberto de florestas. Temos pelo menos 16% de campos gerais formados em Humaitá e Roraima, sem falar de outros biomas não florestais aqui encontrados. O alerta que descredencia o alarmismo de Nobre vem do próprio Inpa, onde atuam os maiores especialistas em florestas do planeta, entre eles o Cientista Niro Higuchi, Prêmio Nobel da Paz, na premiação coletiva em 2007, integrante destacado do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU. E a Amazônia brasileira, de que fala Antônio Nobre, abrange os Estados do Pará, Amazonas, Maranhão, Goiás, Mato Grosso, Acre, Amapá, Rondônia e Roraima, compreendendo uma área de 5.033.072 Km2, o que corresponde a 61% do território brasileiro. Uma área sete vezes maior que a França. O alerta de Nobre é – guardadas as proporções – o mesmo dos países desenvolvidos que desembarcaram no Brasil em 1992, para colocar a Amazônia na berlinda e responsabilizá-la pelo aquecimento global provocado pelas emissões dos países industrializados. É preciso dar sequência a este assunto, dada sua urgência e relevância para avançar na compreensão dos enigmas e equívocos que comprometem o avanço de projetos e equacionamento de embaraços e gargalos.
=======================================================================================
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 13.11.2014