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Sob o império do Diálogo - Parte II

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13/11/2014 16:04

Cumpre retomar a questão essencial do diálogo, iniciada na semana passada, quando foi retomado um tema da Jovem Guarda – no contexto da Guerra Fria que perdurava ainda nos anos 70, sob o pano de funda dos horrores no Vietnã. “Todos estão surdos” ilustrava a evocação do grito de comunicação pela paz mundial, usando o instrumento da Arte como denúncia e anúncio de valores humanos e cotidianos que estão sendo esquecidos. E uma das prováveis suspeitas sobre as origens de tudo isso é falta da comunicação saudável entre as pessoas e delas com seu ambiente, a Natureza que tem dado mostras de sua reação com os maus tratos desta civilização predatória. É, provavelmente, por falta de diálogo – entre gestores públicos, educadores e demais instituições do tecido social – que se pode explicar o cenário de estatísticas sombrias de um Estado que tem na sua capital a sexta economia do país e nos municípios interioranos 11 entre os 50 piores municípios em Desenvolvimento Humano. Manaus ajuda a carregar o país nas costas com a exportação de capital, recolhendo 55% de sua riqueza aos cofres da União, segundo estudos da USP, e o Amazonas dela depende, precisamente de seu modelo ZFM, de incentivos fiscais, para manter a floresta em pé e atender as demandas de educação, saúde, moradia, segurança e mobilidade das pessoas que habitam os demais municípios. Ora, se o modelo foi criado para integrar a região ao resto do país e reduzir desigualdades, salta aos olhos a anomalia de sua estruturação econômica, centrada na capital e, em lugar de reinvestir parte de seus dividendos para interiorizar alternativas econômicas, tem destinado sua riqueza para um gestor compulsivo por impostos e inepto na distribuição dos potenciais benefícios. Todos os indicadores da infraestrutura e demais gargalos para cumprimento das funções originais do modelo estão sendo restringidos nos itens de financiamento. Basta olhar, de um lado, o confisco das Taxas da Suframa e a voracidade fiscal da União em torno de todas as riquezas aqui produzidas e, de outro, a redução alarmante de investimentos em energia, comunicação e logística dos transportes dos últimos anos. Como entender, ajustar e recompor os termos desiguais desta equação senão pelo diálogo construtivo da negociação que tem em mira o consenso do atendimento ao interesse geral senão pelo diálogo?

De novo na berlinda

A falta de diálogo não atinge apenas a instituição pública e seu contraponto na iniciativa privada. A falta de diálogo é mortal, também, na academia, onde cada um fala o que lhe vem à telha na suposição de que todos vão levar a sério suas premissas, sem levar em conta as implicações das sentenças na vida dos cidadãos. O noticiário desta semana trouxe um alerta do pesquisador Antônio Nobre, um cientista formado originalmente no INPA, o sexagenário Instituto de Pesquisas que conseguiu inventariar no laboratório 5% do imensurável acervo biótico da Hileia. Ele trabalha atualmente no INPE, onde se concentram os estudos climáticos, a partir do qual afirmou que o desmatamento da Amazônia explica a escassez de água no Sudeste, e que "... acabar com o desmatamento na Amazônia é para ontem, não daqui a 30 anos, não faria o menor sentido. O futuro já chegou. Em 2004, perdemos 27.772 km2 de floresta. Em 2012, 4.571 km2, mas este é um efeito ilusionista, pois o último número equivale ao tamanho da área metropolitana de São Paulo. Em dez anos, desmataríamos a Costa Rica inteira com esta taxa". De que Amazônia fala o pesquisador, nas premissas de sua partida, ao dizer que ela é constituída em 90% de floresta? Isso não passa de uma premissa falsa. E uma construção sistêmica do conhecimento que parte de premissas falsas, obrigatoriamente, desembarca em resultados igualmente falseadores do objeto estudado. A Amazônia não tem nem nunca teve 90% de seu território coberto de florestas. Temos pelo menos 16% de campos gerais formados em Humaitá e Roraima, sem falar de outros biomas não florestais aqui encontrados. O alerta que descredencia o alarmismo de Nobre vem do próprio Inpa, onde atuam os maiores especialistas em florestas do planeta, entre eles o Cientista Niro Higuchi, Prêmio Nobel da Paz, na premiação coletiva em 2007, integrante destacado do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU. E a Amazônia brasileira, de que fala Antônio Nobre, abrange os Estados do Pará, Amazonas, Maranhão, Goiás, Mato Grosso, Acre, Amapá, Rondônia e Roraima, compreendendo uma área de 5.033.072 Km2, o que corresponde a 61% do território brasileiro. Uma área sete vezes maior que a França. O alerta de Nobre é – guardadas as proporções – o mesmo dos países desenvolvidos que desembarcaram no Brasil em 1992, para colocar a Amazônia na berlinda e responsabilizá-la pelo aquecimento global provocado pelas emissões dos países industrializados. É preciso dar sequência a este assunto, dada sua urgência e relevância para avançar na compreensão dos enigmas e equívocos que comprometem o avanço de projetos e equacionamento de embaraços e gargalos.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 13.11.2014

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