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Coluna do CIEAM

Sem amadorismo nem improvisação

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06/06/2014 09:29

Na edição de ontem, à vista da votação na Câmara Federal, favorável à prorrogação dos incentivos da Zona Franca, foi simulada uma sabatina cívica para aferir o grau de conhecimento e envolvimento da representação parlamentar e demais atores sociais diretamente associados à base produtiva do modelo ZFM. Afinal, esta é a fonte e referência material do tecido social, e a proposição nada mais é do que um convite para tornar o redesenho institucional deste modelo cada vez mais representativo das demandas existentes. A ZFM foi criada no tripé indústria, comércio/serviços e agricultura, itens de sustentação social que fazem girar a economia. Basta acessar o portal da Sefaz e da Suframa para aferir e entender como ficou o tratamento para cada setor. Com o tempo, só a indústria permaneceu credenciada pelos incentivos. Os demais foram deixados pelo caminho. Como se trata de matéria essencial, porém, entender toda essa história e planejar seus desdobramentos não é tarefa para amador. Quem se lembra do polo gás-químico, do Entreposto Alfandegado da Suframa, da Logística intercontinental do Planamazonas, do projeto de fazer do Aeroporto Militar um entreposto internacional nos moldes do Panamá, nos programas de Nano e Biotecnologia, nas raízes do CBA com a BioAmazônia? Rever a memória do modelo, sistematizar seus indicadores, reiniciar projetos de extrema relevância que foram abandonados, depurar a cultura do desperdício e do paralelismo perdulário são dever de casa e premissa essencial de integração: eis uma tarefa que só pode ser entregue a especialistas. Uma Suframa esvaziada e capenga não cumpre sequer o arroz com feijão do embaraço acumulado. Como promover estudos aprofundados e resgatar, descrever e sistematizar a memória, o perfil, os gargalos e potencialidades da estrutura econômica e produtiva local e regional sem a mobilização de renomados especialistas? Sem saber quem é e o que quer este modelo iremos permanecer à sombra omissa e inconsequente de seus incentivos, reprisar uma tragédia que há cem anos nos levou à lona da estagnação.

A tragédia e a farsa


Há cem anos, anestesiados pelo fausto e inibidos pela inépcia da gestão pública, vimos ruir a economia do extrativismo - o Ciclo da Borracha - que respondia por quase a metade do PIB do Brasil. A borracha, quando agregou valor da inovação tecnológica com a cultura extensiva, agregou 60% de valor à economia britânica por mais de duas décadas. O conformismo do fausto, o deslumbramento e a protelação cristalizada de iniciativas nos impuseram a tragédia de perder o bonde, o barco e a carreta da História. E ela só se repete como farsa, como diziam os materialistas. Não temos mais o direito de deitar no barranco da expectativa ou preguiça coletiva e esperar por não sei quem para chegar a nenhum lugar. E as tarefas nós já sabemos de cor, entre elas, a maior é a qualificação das novas gerações, com a aplicação transparentes dos recursos destinados a este fim. Não basta financiar a Universidade sem debater com seus dirigentes a relação da academia com a péssima qualidade de ensino dos jovens que ingressam nas fábricas e com a ausência de qualificação para tarefas especificas na gestão e na inovação. E romper com o marasmo é sistematizar os indicadores desses embaraços, apontar com precisão os gargalos de competitividade e a viabilidade das mudanças, as condições de seu enfrentamento na perspectiva de diversificar, regionalizar, integrar esse patamar econômico e industrial, robusto e ao mesmo tempo fragilizado, da ZFM, à política industrial nacional, seu aspecto ambiental, cultural e de ciência, tecnologia e inovação.

Agenda de compromissos


Essas premissas formam um programa a ser detalhado numa Agenda para debater com todos aqueles que, comprovadamente, topam conhecer, para entender e mudar para melhor representar e assumir como meta de conduta as aspirações, conquistas e percalços à nossa frente. Além da agenda, que cumpriria o papel imediato da discussão de compromissos com os candidatos, é preciso que a economia saiba interagir com a academia para gerar conhecimento, análises, compreensão e proposição de cenários. Com a mobilização de especialistas podemos assegurar e resguardar informação de desempenho/história/distorções e pretensões da economia local e regional. Tivemos, há mais de duas décadas, o projeto ISAE/FGV, Instituto Superior de Administração e Economia, com a Fundação Getúlio Vargas, responsável por um momento fecundo de qualificação, pesquisa e proposições. A iniciativa, que se esvaziou, buscou recuperar os serviços de sistematização de informações robustas do Amazonas e região, que foram executados pelo CODEAMA, Comissão do Desenvolvimento Econômico do Estado do Amazonas, até o início dos anos 90. Hoje, à exceção de ações pontuais de Planejamento, Fazenda e Suframa, que padecem da desarticulação e sintonia, o Amazonas não produz cenários, e padece de uma base de dados robusta, histórica e interinstitucional. Daí a insistência de resgatar o espírito que norteou as inciativas mencionadas e assegurar, através de uma instituição público/privada, as condições objetivas para descrever, organizar e planejar os rumos do adensamento, diversificação, interiorização e integração do modelo à economia nacional. Recursos para tanto têm letras orçamentarias asseguradas e taxas públicas para este fim. É sentar para conversar e materializar a proposição.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 06.06.2014

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