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Samaúma: educação, cidadania e esperança

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05/03/2015 16:43

Num épico magistral do cinema japonês, o filme VIVER, de 1952, o diretor Akira Kurosawa, deixa-nos uma lição definitiva sobre o sentido do trabalho na vida de uma pessoa. Kanji Watanabe é um burocrata que há décadas atua na Prefeitura de Tóquio, carimbando e arquivando processos de interesse social. Ao descobrir que está com câncer, decide deixar o emprego e viver a vida no sentido do consumismo e do lazer alienante e inconsequente. Entediado, depois de algum tempo, conhece uma moça que produz artesanatos "que fazem a alegria de dezenas de crianças no Japão". Assustado com a descoberta e com pouco tempo para viver, ele volta ao emprego e decide desengavetar processos e passa a trabalhar por sua implantação. Esta associação mágica e universal, que liga oportunidade do trabalho com possibilidade essencial de realização profissional e novo sentido na vida das pessoas, foi o sentimento mais forte detectado na solenidade de formatura, nesta terça-feira, 3 de março, dos primeiros alunos do novo Barco-Escola SENAI, o Samaúma II, no município de Tefé, a 523 quilômetros de Manaus, no rio Solimões. Depois de quase três meses do início das aulas, em dezembro último, 756 alunos receberam o certificado de conclusão nos 22 cursos oferecidos na nova embarcação-escola. Reflexão misturada com alento. Um momento de reflexão sobre o sentido da superação e da esperança na vida daqueles jovens. É muito importante considerar a diferença entre a capital e o interior do Amazonas e da Amazônia, como um todo. Temos a sexta economia do país na capital e 20% dos municípios entre os piores IDHs do Brasil. Daí a relevância do papel da indústria, que o Barco-Escola Sumaúma II representa, e que se configura ainda no repasse anual de R$ 1,3 bilhão para a qualificação dos recursos humanos em nível técnico através do CETAM, Centro de Educação Tecnológica do Estado do Amazonas e da Universidade do Estado do Amazonas, em nível de graduação, pós-graduação, pesquisa e extensão. Os fundos estaduais recolhidos pelas empresas incentivadas pelo governo do Amazonas visam, ainda, o fomento do turismo e projetos de interiorização do desenvolvimento, incluindo ainda o fundo para as cadeias produtivas de micro, pequenas e médias empresas.

História, sentimentos e conquistas


"Essa formatura tem um caráter especial e sentimental para mim, pois há 36 anos o nosso primeiro barco-escola, o Samaúma, formava sua primeira turma, também neste município, construindo uma marcante história e vitoriosa trajetória”, discursou o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), Antonio Silva. Segundo ele, a educação profissional itinerante do SENAI pelos rios da região já qualificou mais de 50 mil alunos. “Estamos levando o ensino de excelência, alinhado às potencialidades e necessidades locais, proporcionando oportunidade de melhoria de vida para os irmãos do interior da nossa esquecida Amazônia", disse Silva. Esta foi a sexta visita do Samaúma a Tefé, desde a viagem inaugural do primeiro barco, em 1979. Nesses 36 anos, o programa de educação itinerante qualificou 2.085 moradores locais em áreas como panificação, mecânica e eletricidade. Na grade atual, foram oferecidos ainda os cursos de tecnologia da informação e empreendedorismo, entre outras novidades.

Partilha das oportunidades

“A qualificação do SENAI amplia a oportunidade de emprego e renda para nossa população, e desta vez o barco-escola deu acesso às pessoas interessadas em ter uma profissão e que estão qualificadas e aptas para entrarem no mercado e contribuírem com o crescimento de nosso município”, disse o prefeito de Tefé, Jucimar Veloso. O técnico em eletricidade, Raimundo Nazaré, um dos 11 instrutores da equipe do Samaúma II, ministrou os cursos de eletricidade residencial e de comandos elétricos e revela que essa primeira experiência como instrutor no barco-escola foi gratificante. “Adquiri experiência que marcará minha vida como instrutor. Aqui observamos interesse maior dos alunos e a vontade que eles têm de aprender e crescer na profissão”, disse Nazaré, ressaltando que se preparou para ocupar uma das vagas de docente do barco-escola na missão de semear o conhecimento em cidades da Amazônia.

Pacto por um novo tempo

Infraestrutura de transportes, comunicação e energia é fator decisivo da competitividade, mas não suficientes para promover a mudança substantiva na direção de uma sociedade prospera e equânime. Educação o único fator real e essencial de fazer avançar uma sociedade num patamar civilizatório de promoção. Nunca é demais lembrar e homenagear o testemunho de Ozeneide Nogueira, que nos deixou há poucos dias, para quem Educação sempre foi e será coisa muito séria e delicada, cujo enfrentamento e gestão implica na mobilização de todo o tecido social, tanto na qualificação técnica e profissional dos recursos humanos, como no fomento dos valores perenes de respeito, solidariedade, comunhão de propósitos e talentos na construção de uma sociedade próspera e fraterna. Nesta quinta-feira, no Senai Antônio Simões, Bola da Suframa, a iniciativa Pacto pela Educação, com mais de 35 instituições/entidades, volta a se reunir para dar sequência a seus projetos. Cabe, aqui, mais uma vez, exaltar a atitude de todos os envolvidos, graciosamente, nas iniciativas para enfrentamento da questão. O voluntariado é a componente ética e sublime do desafio educacional. Entretanto, por sua gravidade, urgência e necessidade, Educação exige um enfrentamento maior do que a graciosidade admirável do voluntariado. Por sua delicadeza e fragilidade crônica, o desafio exige vontade política e prioridade institucional. As entidades públicas que gerenciam ou se relacionam diretamente ao modelo ZFM, e as entidades representativas do setor privado, as empresas que sustentam a economia e, a partir dela, toda a base material da vida social, podem, devem e precisam profissionalizar a mobilização dos atores dessa iniciativa. Isso não pode ser tratado como uma ação altruísta das horas de folga de pessoas diferenciadas e comprometidas com o bem-comum.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 05.03.2015

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