09/10/2024 07:58
O pensamento da indústria de Manaus sobre o plano de rotas continentais de integração é de otimismo cauteloso. As novas rotas prometem ampliar as opções logísticas e integrar o Amazonas ao mercado sul-americano e global. No entanto, a indústria exige que essas iniciativas sejam acompanhadas de um plano mais detalhado e adaptado à realidade amazônica, garantindo que os erros do passado não sejam repetidos.
Anotações de Alfredo Lopes – Coluna Follow-up 08.10.24
As rotas de integração continental propostas pelo Ministério do Planejamento, especialmente a Rota Manta-Manaus e a Rota Ilha das Guianas, representam uma oportunidade estratégica para a indústria instalada em Manaus. Esses corredores logísticos visam conectar a Amazônia com a América do Sul e mercados internacionais, reduzindo custos e tempo de transporte. Para a Zona Franca de Manaus, essas rotas podem facilitar a expansão de suas exportações para países vizinhos e além, fortalecendo a posição do Amazonas no comércio internacional.
Oportunidade Logística e Expansão Comercial
A Rota Manta-Manaus, que liga o Amazonas ao Pacífico via Tabatinga, oferece uma nova alternativa para escoamento de mercadorias e insumos, conectando a indústria local a mercados da Ásia e América do Norte de forma mais eficiente. Essa rota, em particular, se destaca pela possibilidade de reduzir a dependência de rotas longas e dispendiosas que atravessam o Brasil de Leste a Oeste. Já a Rota Ilha das Guianas amplia as conexões com o Caribe e América do Norte, oferecendo à indústria de Manaus novas perspectivas de exportação.
Essas novas rotas têm o potencial de transformar Manaus em um verdadeiro centro logístico para o comércio intra e intercontinental, permitindo que a cidade expanda sua capacidade de exportação e reduzindo o isolamento logístico que há muito prejudica a competitividade da Zona Franca de Manaus. O debate sobre o projeto de Rotas internacionais para a Amazônia ocorreu no último dia 07, na plataforma Diálogos Amazônicos da Fundação Getúlio Vargas, envolvendo o secretário de Articulação Institucional do Ministério do Planejamento e Orçamento, João Villaverde e pela indústria, o professor Augusto Rocha UFAM/FIEAM/CIEAM, com a moderação de Márcio Holland.
Críticas e sugestões da Indústria
Embora otimista, o professor Augusto Rocha, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e representante do setor industrial, levanta preocupações cruciais em relação ao plano. Entre os pontos mais discutidos está a falha histórica do Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT) em atender adequadamente às necessidades específicas da Amazônia. Ele sugere que a região precisa de um plano próprio, mais focado e robusto, que reconheça as peculiaridades geográficas e econômicas locais.
Rocha também sugere a implementação de dutovias, especialmente para o transporte de gás entre Manaus e Roraima, aliviando a sobrecarga da BR-174. Ele argumenta que essas soluções inovadoras são necessárias para tornar o transporte de insumos mais eficiente e reduzir o desgaste da infraestrutura rodoviária, não projetada para suportar o tráfego pesado de carretas de gás.
A falha das dragagens e o potencial das hidrovias
Outro ponto de crítica do setor industrial é a ineficácia das dragagens no rio Amazonas, especialmente no trecho entre Manaus e Itacoatiara. Rocha sugere que as operações de dragagem não resolvem os problemas de sedimentação de longo prazo e, em vez disso, propõe estudos mais profundos sobre a navegabilidade das hidrovias amazônicas. Para ele, é preciso pensar em soluções sistêmicas para o transporte fluvial, de forma a viabilizar a movimentação de cargas de grande porte.
Ele também alerta para o risco de que a concessão do rio Madeira, se mal planejada, agrave o acúmulo de sedimentos no Solimões, o que poderia inviabilizar ainda mais a navegabilidade na região. Para Rocha, a Amazônia deve ser pensada como um sistema integrado, e não fragmentado.
Centralidade de Manaus no transporte aéreo
Outro ponto relevante levantado por Rocha é o potencial de Manaus como um hub aéreo estratégico para o Norte da América do Sul. Ele defende que o aeroporto da cidade, já o terceiro maior do Brasil em movimentação de carga, pode ampliar significativamente o comércio entre a Amazônia e os países vizinhos, facilitando o transporte de produtos de alto valor agregado e de menor volume, comuns na produção da Zona Franca de Manaus.
Rocha também sugere a inclusão de aeroportos como parte do plano de integração logística, destacando que a logística aérea tem um papel crucial no comércio intra-amazônico.
Investimento e Sustentabilidade
A indústria de Manaus vê com bons olhos a alocação de US$ 10 bilhões, disponibilizados pelo BNDES e bancos de desenvolvimento regionais, para a execução das obras de infraestrutura. No entanto, Rocha defende que é necessário mais do que apenas recursos: é preciso garantir que os projetos sejam executados com sustentabilidade ambiental e com um planejamento que respeite as particularidades ecológicas da Amazônia.
Ele sugere que a destinação de 2,5% do PIB da região para a construção de infraestrutura seria um passo crucial para corrigir as assimetrias históricas que penalizam a Amazônia em termos de investimentos públicos.
Otimismo cauteloso
O pensamento da indústria de Manaus sobre o plano de rotas continentais de integração é de otimismo cauteloso. As novas rotas prometem ampliar as opções logísticas e integrar o Amazonas ao mercado sul-americano e global. No entanto, a indústria exige que essas iniciativas sejam acompanhadas de um plano mais detalhado e adaptado à realidade amazônica, garantindo que os erros do passado não sejam repetidos. Com uma abordagem sustentável e soluções inovadoras, como as dutovias e um estudo mais profundo sobre as hidrovias, a indústria de Manaus pode se tornar um dos principais motores da integração econômica continental.
(*) Coluna Follow-up é publicada as quartas, quintas e sextas-feiras no Jornal do Commercio do Amazonas, sob a responsabilidade do CIEAM e coordenação editorial de Alfredo Lopes, do portal BrasilAmazoniaAgora https://brasilamazoniaagora.com.br/