02/10/2014 14:35
Na contramão
Pela ausência de discussões locais sobre o tema, já previsto em função de diversos fatores, infere-se um tom de naturalidade para explicar a redução da receita. E que ela será superada na medida em que se aproximarem as compras do final do ano. A redução, portanto, é consequencial da sazonalidade da economia local e isso não implicaria em motivos procedentes de preocupação. O mesmo raciocínio se aplicaria em relação à alta explosiva do dólar, que foi atribuída à indefinição no quadro eleitoral. De acordo com esta avaliação a indústria da Zona Franca, passadas as turbulências políticas, sairia ganhando com um alinhamento da moeda americana em torno US$ 2,45 a US$ 2,55, um patamar considerado adequado no médio prazo para as vendas da indústria local, na comparação com os similares importados no mercado nacional. Nesse cenário positivista, as dificuldades vividas pelo polo de duas rodas – longe de ser atrelada aos gargalos de infraestrutura - refletem o encolhimento da economia que se reflete no mercado. Nesse sentido, em não sendo equacionada a questão do crédito para parcelar as compras, a alternativa seria incentivar os consórcios para ampliar as vendas e planejar estoques. Simples assim?
Perspectivas nebulosas
O noticiário dos jornais de economia, entretanto, remete a perspectivas extremamente nebulosas, e o cenário tende a ser mais sombrio do que se poderia supor. Pelo quarto mês seguido no Brasil a conta não está batendo. O governo gastou mais do que arrecadou e as contas públicas fecharam mais uma vez no vermelho: um lapso de tempo inédito na história do país. Somente em agosto, o rombo fiscal de municípios, estados, União e empresas estatais alcançaram a astronômica cifra de R$ 14,5 bilhões. Segundo o Banco Central, é o pior resultado para o mês visto desde quando a autoridade começou a registrar os dados em 2001. Com isso, a meta de economia para pagar juros da dívida pública estipulada para 2014 fica cada vez mais distante. Esse rombo só aumenta e, por conta dos gastos impostos pela temporada eleitoral, o superávit acumulado nos últimos 12 meses – o principal indicador para tentar prever se o Brasil cumprirá sua meta para o ano – aprofundou a trajetória de queda. Está em R$ 47,5 bilhões. Isso representa apenas 0,94% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pela economia em um ano). No mês passado, essa relação era de 1,23%. O governo já admite, segundo reportagem do jornal O Globo, que não conseguirá cumprir a meta de poupar 1,9% do PIB para este ano. Esse objetivo foi estipulado para tentar recuperar a credibilidade da equipe econômica por ser considerado mais realista dos que as antigas metas de 2,3% do PIB ou até 3% do PIB. A ideia era passar a mensagem de que não haveria mais manobras para garantir a saúde fiscal do país. No entanto, o governo continuou a contar com receitas extraordinárias, judiciais e dividendos de empresas públicas para tentar fechar as contas. Só que isso não foi suficiente para fechar as contas nos últimos quatro meses.
Desconfiança e insegurança
A exemplo da indústria e do comércio, a confiança dos empresários dos serviços se deteriorou em setembro na medida em que aumentou a preocupação com o enfraquecimento da demanda, de acordo com sondagem realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O Índice de Confiança de Serviços (ICS) caiu 3,2% em setembro ante agosto, o nono recuo consecutivo. Com isso, o índice ficou em 100,7 pontos, o menor nível desde março de 2009, quando marcou 100,4 pontos. A FGV avaliou que o resultado de setembro confirma que o nível de atividade do setor continuou fraco ao final do trimestre. De agosto para setembro, a queda da confiança do setor de serviços decorre principalmente de avaliações desfavoráveis sobre o contexto atual, enquanto as perspectivas para os próximos meses continuem pessimistas.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 02.10.2014