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Coluna do CIEAM

Reativos e cansativos

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10/12/2014 13:39

A propósito da matéria publicada no jornal O Globo, no último domingo, destacando demissões e encolhimento da indústria instalada na Zona Franca de Manaus, opiniões de atores locais buscaram retomar uma discussão que se arrasta a décadas, e desembarca nas mesmas explicações e razões que levaram à debacle a economia da borracha. Seguimos com discursos cansativos, posto que desgrudados de atitudes, e reativos, sempre que as críticas externas nos surpreendem. É sempre assim, mesmo que essas provocações se originem no interior da rotina local. As análises continuam, à exceção de arroubos inconsequentes do calor do debate, promovendo soluções e propondo mobilizações de atores que – eis a questão a investigar – nunca se concretizam, nem investem na mistura da indignação com mobilização criativa. A inércia é preocupantemente contumaz e já se manifestou há mais de um século, diante da obviedade de perenização do fausto através do cultivo racional da seringueira no bioma amazônico a partir de estudos a serem feitos pela primeira universidade do Brasil, instalada em Manaus, em 1906. A funcionária da Philco, que denunciou o despreparo de seus colegas, por formação técnica e elementar deficitárias, pôs o dedo na ferida. Ela foi demitida por corte de despesas, especialmente pela redução dos gastos excessivos com o controle de qualidade. Os produtos apresentam constantes defeitos, em decorrência de uma qualificação deficiente ou da buraqueira que enfrentam nas ruas do Distrito Industrial ates de chegar ao consumidor. Os cursos técnicos são caros e raros e esbarram nas lacunas de Linguagem, Ciência e Matemática dos pretendentes, área onde o Amazonas é comprovadamente derradeiro no ranking nacional e global. Faltou dizer que a Philco tem sido castigada por até três apagões diários. É complicado batalhar, travados por gargalos de infraestrutura, no desafio da competitividade na premência de assegurar, nessas condições, um cenário de amadurecimento tecnológico, da diversificação e agregação de valor da indústria da eletrônica na direção/interlocução da biotecnologia. Há treze anos este polo tão coerente com as demandas e vocações regionais, estruturado em centro de pesquisa e desenvolvimento, com recursos da indústria, não tem sequer definido seu modelo de gestão?

Migração e articulação


É inviável migrar para a biotecnologia – como perguntam/sugerem os estudiosos – sem antes configurar as demandas e encaminhar investimentos no ensino e em inovação voltada para os polos correlatos de eletrônica, microeletrônica e bioengenharia. Um polo não elimina outro ou não faz sentido substituir a fibra de vidro por biopolímeros, num parque tecnológico integrado e articulado entre o chip, o bit e o cipó. A redução crescente nos repasses das verbas do CT Amazônia, o orçamento previsto para os programas de qualificação em tecnologia e inovação, o redirecionamento autoritário das verbas de P&D para outras finalidades e a lerdeza imposta à Suframa para revisar e propor novas aplicações para esses recursos, tão vitais para adensar e regionalizar a paisagem do modelo industrial da ZFM dão a exata noção do descaso e destrato federal com os rumos do modelo. E não são os burocratas necessariamente responsáveis por essa (des)ordem institucional. O repasse de verbas de P&D, recolhidas pelas empresas de Manaus, para programas de pesquisa de outros estados, com propósitos estranhos aos interesses locais, contaram com o silêncio obsequioso de nossos representantes da comunidade cientifica, e isso representa a garantia de que tudo permanecerá igual ou pior que antes no quartel de Abrantes. O inimigo da ZFM, tudo indica, se fortalece e atua a partir de todos nós.

Síndrome dos bombeiros


E o mais inquietante, na perspectiva da mudança, é constatar o desestímulo e a desistência de combativos companheiros. Falta vontade política e mobilização cívica para diagnosticar, avaliar, denunciar e reverter esse movimento dramático de esvaziamento do modelo ZFM. E não haverá justificativa para defender a base legal original, reafirmada pela Constituição para advogar e resgatar as atribuições da Suframa sem a formulação de um projeto arrojado, integrado, inovador e de alcance regional. Sem envolver os vizinhos, formando uma frente ampla de representação parlamentar para defender um projeto local e regional de desenvolvimento integrado. Iremos a lugar algum enquanto a síndrome do Corpo de Bombeiros continuar descrevendo nossa intervenção reativa e, o que é pior, seguir alimentando essa negociação pontual, isolada, da composição politica que atende o imediatismo politico e perde de vista o projeto, sua maturação e fortalecimento de curto, médio e longo prazo. É insano seguir equacionando gargalos do varejo sem atacar prazo largo e a territorialidade ampla que nos cabe enfrentar. A luta pelos incentivos perdeu de vista a implantação da indústria do conhecimento, a emergência de importar cérebros para fomentar cérebros e localizar talentos perdidos e desempregados numa indústria que se deixa corroer pelo formalismo, e que assiste de braços cruzados, para sobreviver à incúria das relações institucionais, à insensatez da burocracia federal. Quem levantou, de verdade, a falácia do CAPDA, o comitê que distribui as verbas para desenvolver pesquisas, inovação e novos modelos de negócios, questionando sua lisura e credibilidade para as funções que lhe competem? Quem está disposto a, efetivamente, assegurar que os recursos pagos pela indústria para o ensino sejam efetivamente aplicados? Afinal, entre a fragilidade da infraestrutura energética de transporte e comunicação os gargalos educacionais predominantes são o nosso grande embaraço e o maior desafio. É preciso virar esse jogo!
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 10.12.2014

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