10/12/2014 13:39
Migração e articulação
É inviável migrar para a biotecnologia – como perguntam/sugerem os estudiosos – sem antes configurar as demandas e encaminhar investimentos no ensino e em inovação voltada para os polos correlatos de eletrônica, microeletrônica e bioengenharia. Um polo não elimina outro ou não faz sentido substituir a fibra de vidro por biopolímeros, num parque tecnológico integrado e articulado entre o chip, o bit e o cipó. A redução crescente nos repasses das verbas do CT Amazônia, o orçamento previsto para os programas de qualificação em tecnologia e inovação, o redirecionamento autoritário das verbas de P&D para outras finalidades e a lerdeza imposta à Suframa para revisar e propor novas aplicações para esses recursos, tão vitais para adensar e regionalizar a paisagem do modelo industrial da ZFM dão a exata noção do descaso e destrato federal com os rumos do modelo. E não são os burocratas necessariamente responsáveis por essa (des)ordem institucional. O repasse de verbas de P&D, recolhidas pelas empresas de Manaus, para programas de pesquisa de outros estados, com propósitos estranhos aos interesses locais, contaram com o silêncio obsequioso de nossos representantes da comunidade cientifica, e isso representa a garantia de que tudo permanecerá igual ou pior que antes no quartel de Abrantes. O inimigo da ZFM, tudo indica, se fortalece e atua a partir de todos nós.
Síndrome dos bombeiros
E o mais inquietante, na perspectiva da mudança, é constatar o desestímulo e a desistência de combativos companheiros. Falta vontade política e mobilização cívica para diagnosticar, avaliar, denunciar e reverter esse movimento dramático de esvaziamento do modelo ZFM. E não haverá justificativa para defender a base legal original, reafirmada pela Constituição para advogar e resgatar as atribuições da Suframa sem a formulação de um projeto arrojado, integrado, inovador e de alcance regional. Sem envolver os vizinhos, formando uma frente ampla de representação parlamentar para defender um projeto local e regional de desenvolvimento integrado. Iremos a lugar algum enquanto a síndrome do Corpo de Bombeiros continuar descrevendo nossa intervenção reativa e, o que é pior, seguir alimentando essa negociação pontual, isolada, da composição politica que atende o imediatismo politico e perde de vista o projeto, sua maturação e fortalecimento de curto, médio e longo prazo. É insano seguir equacionando gargalos do varejo sem atacar prazo largo e a territorialidade ampla que nos cabe enfrentar. A luta pelos incentivos perdeu de vista a implantação da indústria do conhecimento, a emergência de importar cérebros para fomentar cérebros e localizar talentos perdidos e desempregados numa indústria que se deixa corroer pelo formalismo, e que assiste de braços cruzados, para sobreviver à incúria das relações institucionais, à insensatez da burocracia federal. Quem levantou, de verdade, a falácia do CAPDA, o comitê que distribui as verbas para desenvolver pesquisas, inovação e novos modelos de negócios, questionando sua lisura e credibilidade para as funções que lhe competem? Quem está disposto a, efetivamente, assegurar que os recursos pagos pela indústria para o ensino sejam efetivamente aplicados? Afinal, entre a fragilidade da infraestrutura energética de transporte e comunicação os gargalos educacionais predominantes são o nosso grande embaraço e o maior desafio. É preciso virar esse jogo!
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 10.12.2014