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Protagonismo feminino e indígena invadem a Ilha dos Bumbás de Parintins – Live Eletroboi

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19/05/2021 10:47

Fonte: Brasil Amazônia Agora

Por Fabíola Abess

É louvável, sob todos os pontos de vista, a iniciativa do segmento feminino que atua no Festival Folclórico de Parintins, promover um evento cultural e virtual para afirmar os direitos femininos e indígenas neste momento de tanto conflito, violência e exclusão social pelo qual o país atravessa. O Festival, que já ganhou o mundo e é uma festa cultural de dimensões espetaculares, tem o patrocínio histórico da Coca- -Cola e apoio permanente de todo o conjunto das empresas e entidades do setor produtivo. Esse movimento tem interagido com a ASI, Ação Social da Indústria, para participar de ações rotineiras de atendimento aos segmentos mais vulneráveis de pandemia da COVID-19. Confira a excelente reportagem de Fabíola Abess, assessora de Comunicação do CIEAM. Alfredo Lopes – responsável pela Coluna Follow-up. Live: ELETROBOI 23 de maio, a partir das 19:30 hrs.

Vidas Indígenas Importam. Vidas Femininas importam. Seja em tempo de Festival Folclórico, seja no cotidiano esquecido das decisivas questões indígenas e dos vetos imemoriais ao protagonismo feminino na floresta e história. A lenda das Amazonas, as Mulheres Guerreiras que se espalhavam pelo Vale Amazônico, no esplendor do feminismo indígena, mostra seu vigor e modernidade na Ilha dos Bumbás. A questão é simples: em clima de pandemia, o que importa é cuidar da vida, muito mais quando se tratam de vidas indígenas, especialmente das mulheres que carregam a responsabilidade dos cuidados essenciais de propagação da existência e de sua resistência étnica e cultural.

O roteiro da Live Eletroboi, projeto da cantora Márcia Novo contemplado pela Lei Aldir Blanc, valoriza o protagonismo feminino representado nesse show por Márcia, Vanessa Alfaia, cantora e compositora da Amazônia e a indígena Samela Sateré-Mawé, liderança jovem que está à frente da Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (Amism), convidada especial da iniciativa Vidas Indígenas Importam.

Márcia Novo

Idealizadora do projeto, Márcia Novo comenta que existe um movimento lindo e poderoso de vozes femininas no movimento musical do Boi-Bumbá de Parintins, destacando os nomes de Márcia Siqueira, Mara Lima, Julieta Camara, Emily Lira, Lucilene Castro, Ianayra e Vanessa Alfaia, a última, participará do evento musical. Márcia também relembra o último Festival de Parintins realizado no bumbódromo em que os Bois protagonizaram momentos inesquecíveis de vozes femininas interpretando toadas emocionantes na Arena, “isso foi um marco para a trajetória dos Bumbás”. O clima tem muito de ineditismo. Não é Garantido nem Caprichoso, é tudo misturado para evocar e eclodir a alma e a vida da Mulher, na tribo e no cotidiano da folia Amazônica.

Live Eletroboi, momento mulher da Ilha

A cantora Vanessa Alfaia reconhece a dificuldade que a mulher tem de ser inserida no Boi-Bumbá e fala da sua contribuição com a Live Eletroboi. “Sabemos que a mulher não tem seu destaque valorizado na história dos Bois Bumbás. É por isso que estar nessa com Márcia Novo, que é uma figura mulher extraordinária, poderemos todas mostrar a nova cara de Boi-bumbá de Parintins. A partir da Ilha queremos irradiar a energia indígena e feminina das folia do Boi”. A meta do movimento é ambiciosa e inclui a divulgação para os vários estados da Amazônia e do Brasil, é uma agitação histórica que vai ficar marcada, inicialmente, em Parintins, onde o Boi é mais forte. “Pretendo contribuir com o melhor de minha força, tanto na divulgação, gravando toadas, com composições que reflitam a alma guerreira de nossa contribuição indígena e feminina, batendo muito forte nessa tecla do Boi-bumbá, que é um diferencial da nossa Ilha e de toda a região para o Brasil ver”.

Samela Sateré-Mawé

Resgatar e ressignificar o repertório das toadas

Márcia Novo relembra ainda o sucesso das toadas na década de 90, o frisson das folias bovinas, que só aconteceu porque existia um movimento de muitos artistas compositores produzindo um repertório inesquecível que iremos cantar e dançar para sempre. Era o Arlindo Júnior, Klinger Araújo, Carrapicho, Carlinhos do Boi, Carlos Batata, Encanto Vermelho, Canto da Mata, o lendário Chico da Silva…eram muitos artistas, muitos talentos produzindo cada um na sua onda para compor a toada universal. Então, não havia como não conquistar a força e a graça que fez com que o movimento ganhasse projeção mundial. Agora é hora de ressignificar e expandir esse portfólio.

Para Márcia Novo, “…do ponto de vista artístico, o projeto Eletroboi já é uma realidade e é, ao mesmo tempo, a continuidade de uma história, numa pegada dos novos tempos que respeita ao repertório criado, mas com visão progressista que combina com meu jeito, minha alma mulher, com nossas parceiras e com o tempo que a gente vive”.

E arremata: “Trata-se de um registro das verdades que nos importam e estamos fazendo para ficar eternizado nas plataformas digitais pra galera escutar e sentir como é bom, como é intenso, quando mulher canta toada. Estamos fazendo exercício vocal, corporal, musical, enfim, preparando tudo com muito amor, esse projeto que é muito especial pra mim e será certamente para muita gente”.

Protagonismo dos povos indígenas no Boi

Vanessa Alfaia

A reflexão sobre a questão indígena – base essencial da cultura bovina – terá um bloco especial na Live, reafirma a cantora Márcia Novo, “é uma bandeira de todos nós, principalmente porque somos Amazônidas, e eu acho que é o momento de entender a nossa importância nesse momento tão delicado que a Amazônia e os indígenas de uma maneira geral vivem, nossa cultura é mestiça, cabocla, nordestina, negra, mas acima de tudo indígena, então provocar essas reflexões são de extrema importância para mim.”

Convidada para um bloco exclusivamente dedicado à questão indígena, a líder Samela Sateré-Mawé, além de participar com a consultoria sobre a abordagem correta do tema, vai fazer uma participação especial na Live Eletroboi. “Minha participação é destacar as questões do que pode e não pode ser falado, o Festival retrata o indígena como uma figura mítica e não é bem assim, nós povos indígenas temos a nossa cultura, a nossa língua, nossos costumes, nossos rituais, isso deveria ser melhor retratado com mais protagonismo e contrapartidas, é tratado como folclore, é romantizado, não tem a luta, não tem a valorização de fato da cultura dos povos indígenas”.

Ainda sobre a participação das questões indígenas em eventos voltados para o folclore, Samela avalia como muito tímida, historicamente, e destaca a produção da Live Eletroboi ter se preocupado com a participação de indígenas no projeto. “É importante porque nos principais eventos de folclore que tratam da nossa cultura, que explora toda a cultura dos povos indígenas, a gente não vê os indígenas na frente dos trabalhos produzindo e protagonizando. Então, é uma iniciativa muito boa que só tem a dar exemplo para o próprio festival, nós, povos indígenas, deveríamos participar mais e ajudar as pessoas com o que elas querem tratar da cultura dos povos indígenas, mas muitas vezes não sabem nada e acabam só reproduzindo estereótipos, aumentando fetiches em relação ao corpo das mulheres, em relação ao ser indígena, em relação a toda figura do indígena do pajé e do cacique”, explica.

Durante a Live Eletroboi 2021 serão arrecadadas doações, por meio de um QR Code, para o projeto “Vidas Indígenas Importam”, que faz parte do programa Aliança Covid da Fundação Amazônia Sustentável (FAS).

A live Eletroboi será realizada no próximo dia 23 de maio a partir das 19h30 nas margens do Lago Macurany, no Kwati Club, em Parintins e terá aproximadamente 3 horas de duração. Será transmitida pelo canal no YouTube (youtube.com/user/popnovo) e na página do facebook (facebook.com/marcianovo) e também pela Tv aberta para todo o Estado do Amazonas, no canal Encontro das Águas (Canal 2.1, 13 / 513 HD – Claro TV). Todos os protocolos estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) serão mantidos para garantir a segurança dos envolvidos no evento.

Márcia Novo – guardiã da Amazônia

Considerada uma das 12 personalidades Guardiãs da Amazônia pela Revista Vogue, Márcia Novo vai celebrar 18 anos de carreira com quatro discos gravados e reconhecimento no Brasil. Também iniciou o movimento “Vidas Indígenas Importam” que tem ajudado diversas famílias com alimentos, remédios e EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). Além disso, também atua no projeto “Tarumã Alive” que promove conscientização e ações de preservação da maior bacia hidrográfica de Manaus, o Tarumã-Açu. Pelo seu destaque como ativista em causas ambientais e indígenas, foi escolhida como embaixadora da Fundação Amazônia Sustentável (FAS).

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Márcia Novo no Teatro Amazonas
Fabiola Abess é assessora de imprensa do CIEAM

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