31/10/2013 10:37
Lacunas na base
O IDH mostrou ainda que as desigualdades entre as regiões do país diminuíram, e a renda média das famílias melhorou nos últimos 20 anos. O descaso crônico, porém com o ensino se reflete na dificuldade de contratar colaboradores qualificados. O fenômeno virou um problema para as empresas brasileiras nos últimos anos, obrigando iniciativas internas de suprimento das lacunas acumuladas. Aulas de Português, Aritmética, Higiene, Educação Cívica... falta base, em cima da qual se pretenda construir a formação técnica e específica de cada setor. Falta conhecimento das quatro operações aritméticas, aulas de ditado, redação, compreensão de texto, para superar um analfabetismo acadêmico. Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada nesta segunda, com 1.761 empresas entre 1º e 11 de abril, mostra que 65% das empresas dos segmentos extrativo e de transformação apontaram a falta de trabalhador qualificado como um problema.
O problema se agrava
E se a base é fraca a qualificação técnica e profissional não poderia ser diferente. À parte o descolamento crônico entre ensino e cotidiano, a ausência de trabalhador qualificado na indústria, sondagem feita pela CNI, na comparação com a edição anterior da pesquisa, feita em 2011, o percentual de empresas de grande porte que relataram dificuldade em encontrar trabalhadores qualificados passou de 66% para 68%. Entre as de médio porte, o índice se manteve em 66%, enquanto para as de pequeno porte, o percentual de entrevistados com problemas para contratar mão de obra qualificada ficou em 61%, ante 68% do último levantamento. Tudo isso num cenário em que o país não cresce há três anos. O problema se agravará caso a economia do país volte a crescer.
Divórcio insano
No Amazonas, além das empresas, as universidades encontram dificuldades de contratar técnicos de alto nível para sala-de-aula, ou laboratório. E uma avaliação preliminar das pesquisas de mestrado e doutorado, além de tímidas, elas costumam passar longe das demandas específicas do setor produtivo, industrial ou agrícola, comercial ou de serviços. Um divórcio insano e um distanciamento nocivo, tanto à academia como para a economia. Daí fica fácil entender porque 68% das empresas afirmaram ter dificuldade para encontrar profissionais preparados na área administrativa, 67% informaram déficit de contratação de engenheiros, 61% de profissionais de venda e marketing, 60% para postos gerenciais e 59% para trabalhadores na área de pesquisa e desenvolvimento.
Iniciativas promissoras
Em Manaus, este problema ganha contornos acentuados em virtude da demanda que os diversos segmentos da economia provocam, não apenas a partir do polo industrial de Manaus, mas também com a eventualidade dos novos caminhos que se vislumbram para diversificação e interiorização das matrizes de desenvolvimento. Já destacamos aqui a iniciativa, surgida no âmbito das entidades de classe, FIEAM/CIEAM - além dos instrumentos históricos representados por SENAI, IEL e SESI - com imediato apoio e acolhida de diversos setores e instituições, públicas e privadas, do Pacto pela Educação, na perspectiva de um modelo de desenvolvimento e de liderança sustentável no Amazonas. É bem verdade que este termo sustentável anda longe de uma conotação mais precisa, proativa e universal. A vantagem dele é a taxa mínima de controvérsia que produz. Seu objetivo é despertar a preocupação com desenvolvimento e formação do capital intelectual no Estado tem avançado, principalmente no setor onde a demanda é mais crítica. As indústrias já começam a saber onde procurar profissionais e as universidades passam a conhecer o perfil mais detalhado das profissões e habilidades demandadas.
Debate, troca e avanço
Nesta próxima Feira da Amazônia, no final de novembro, a Suframa abriu espaços nobres para o debate, a troca e o avanço, do Pacto pela Educação. Os frequentadores da Feira e os atores do processo educacional vão poder acompanhar os avanços dessa iniciativa. Das quinze instituições que firmaram o acordo original, muitas avançaram e outras foram aderindo, com a boa notícia de que na academia a proposta evoluiu, tanto no debate como na definição prática e agendas, cronogramas de soluções. A exceção, em termos de envolvimento institucional, se localiza pontualmente na Universidade do Estado do Amazonas, provavelmente por força dos ajustes com a recente troca de comando acadêmico e administrativo. Segue forte, porém, a expectativa de um envolvimento mais efetivo da UEA. Esta aproximação começa a ser construída através de interação mais proativa de CIEAM/FIEAM com a Reitoria da Instituição. É sempre oportuno lembrar que as empresas do PIM, representadas por essas entidades, contribuem diretamente e integralmente com o orçamento da instituição e, passados 13 anos de sua fundação, ainda não tem assento em nenhuma instância colegiada que fomente essa parceria entre empresa e academia com a preocupação de adensar pesquisa, desenvolvimento e socioeconomia regional. Este é um dos pilares e pressupostos – é vital retomar - da criação do modelo Zona Franca de Manaus (ZFM), regulamentado no decreto-lei n. 288, de 28 de fevereiro de 1967, ora em discussão para prorrogar seus incentivos por mais 50 anos. De que jeito e para onde sem a qualidade imperativa dos recursos humanos?
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do Centro da Indústria do Estado do Amazonas. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 31.10.2013