10/03/2020 17:10
Por Alfredo Lopes
Com a oscilação do dólar, na nova crise econômica global, considerando as contribuições da indústria da ZFM para interiorização do desenvolvimento, os fundos chamados FTI e FMPES, R$ 1,1 bilhão/ano, podemos afirmar que são transferidos mais de US$ 200 para o beiradão (?). Dado o abalo geral, onde sempre sobram janelas de oportunidades, é hora de criar saídas, como por exemplo revisitar esse manancial de novos negócios chamado extrativismo, considerando sua presença, ao lado da agricultura e pecuária na descrição dos indicadores econômicos da região amazônica. Existem alguns paralelos entre o Pará, Rondônia e Amazonas, estados que geram recursos a partir daí, com destaque para os dois vizinho, onde o Pará tem-se destacado no contexto da economia nacional. Enquanto no Amazonas padecemos as mazelas de uma legislação punitiva, no Pará é proibido proibir se for viável economicamente empreender e assim corrigir eventuais distorções dos estoques naturais. Falta-nos a humildade de reconhecer os avanços de quem efetivamente trabalha em áreas que sobejamos.
Nióbio, o mineral emblemático
No Amazonas, a economia do Polo Industrial de Manaus se tornou fonte quase única da sustentabilidade social. Poucas atividades empreendedoras merecem qualquer destaque nas estatísticas rurais do IBGE. Com uma biodiversidade pujante, e vocações de negócio capazes de levar ao delírio qualquer investidor desavisado, não sabemos dizer por que não manejamos a parcela territorial de 20%, autorizada pelo Código Florestal. As oportunidades são gritantes: serviços ambientais, recursos hídricos, inexaurível província mineral, onde estão mapeadas as ocorrências de minerais estratégicos de alto valor no mercado internacional. Alguém sabe o que foi o Projeto Radam, um levantamento precioso dos estoques minerais da Amazônia? Na prática, exploramos legalmente menos de 1% desse tesouro e não há razão substantiva para evoluir essa constrangedora métrica. Ilegalmente, exportamos nióbio impunemente e por debaixo dos panos públicos.
As cadeias produtivas não-predatórias
Em 2013, participamos da formatação do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Amazonas, PRODESUS, uma iniciativa do BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento que mobilizou todos os atores ligados à pesquisa e ao desenvolvimento de cadeias produtivas não-predatórias, entre os quais os tradicionais organismos estaduais e federais, cooperativas, entidades de classe, todos ligados ao fomento e expansão econômica do setor primário. Ao todo, contavam-se mais de 70 integrantes institucionais, numa perspectiva multidisciplinar e interinstitucional. Washington autorizou a liberação de US$ 200 milhões, além de US$ 2 milhões para viabilizar o detalhamento do projeto, fomento de empreendedorismo no beiradão amazônico no contexto da sustentabilidade socioeconômica e ambiental.
Extrativismo sustentável
Ou seja, entre os vários caminhos de que dispomos, um deles, destacados com louvor, seriam as cadeias produtivas do extrativismo sustentável na direção da inovação tecnológica para dar suporte à agroindústria. Itens alcançados: açaí, abacaxi, banana, borracha, castanha, cacau, citrus, feijão de praia, fibras, guaraná, leguminosas, mamão, maracujá, pecuária de leite, pesca artesanal e piscicultura. Sabe o que aconteceu? Nada. Cabem várias teses acadêmicas para decodificar essa vergonhosa omissão. Entretanto, resta uma certeza: chegamos bem perto do amanhã. Basta lembrar que, a cada ano, a indústria instalada em Manaus, o equivalente aos mesmos U$ 200 milhões do BID, são R$ 1,4 bilhão para qualificação acadêmica de recursos humanos e interiorização do desenvolvimento. Uma bolada usada para custear a lenta, pesada e ineficiente máquina pública. Dá para acreditar? Voltaremos...
----------------------------------------------------------------------------------------------
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br