10/09/2015 13:41
O bombardeio da BR 319
Nesta semana, o noticiário regional da Rede Globo, na Rede Amazônica, iniciou uma série de reportagens sobre. BR 319, a rodovia construída pelo governo militar nos anos 70, cuja recuperação virou uma comédia de mau-gosto, ilustrando o lado mais grotesco, para não dizer, repugnante de tratar o interesse público. O caso BR 319, cujos graves problemas ambientais alegados por diversas autoridades como impedimento para sua recuperação, foram desmascarados por autoridades do Departamento Nacional de infraestrutura de Transportes, DNIT, na sede do CIEAM há um ano, agora ganha um novo tempero: a existência de grupos não identificados, denunciados por moradores, que propositalmente destruíram trechos estratégicos de sua extensão com o declarado propósito de evitar sua recuperação. De acordo com os moradores, estes grupos estariam ligados aos empreendimentos logísticos alternativos que veriam na Rodovia uma concorrência desfavorável. A denúncia é grave e envolveria grupos econômicos de peso que seriam alcançados pela veracidade das revelações. A rigor, essa estória poderia ser escrita com agá se houvesse disposição das autoridades com seu esclarecimento. Um amontoado de rumores que envolve alguns segmentos ambientalistas, similares aos que se empenharam na modernização portuária do Polo Industrial de Manaus. Por que não esclarecer?
Pra debaixo do tapete
E nesse cenário, a recuperação da BR 319 é apenas um item, além do qual, muitos outros poderíamos e deveríamos elucidar antes de recorrer ao lugar comum de que os inimigos da ZFM habitam exclusivamente no Planalto Central. E é neste contexto que, à exceção de iniciativas isoladas da academia e de um detalhado arrazoado da economia, feito pelas entidades do setor produtivo, FIEAM/CIEAM, temos descuidado por desmobilização ou desinteresse, a equação deste problema setorial – asfaltar a BR 319 – que ilustra a inépcia do tecido social em priorizar o conhecimento de nossas fragilidades, necessidades e potencialidades como premissas de correção dos equívocos que a desinformação e o descompromisso com esta região propiciam. Além da fulanização dos problemas, ou da desculpa esfarrapada para não resolvê-los, a opinião pública tem jogado para debaixo do tapete as mazelas que explicam as dificuldades ora vividas pelo modelo ZFM e impedem o enfrentamento de seus gargalos. Por que estamos há um ano sem titular na Suframa, e com um amontoado de ilegalidades que reforçam essa anomalia? Por que não invocamos a Carta Magna para fazer valer aquilo que o Congresso Nacional aprovou e promulgou por mais 50 anos: a vigência do modelo Zona Franca de Manaus com todo seu aparato legal de funcionamento? Por que não exigimos o direito constitucional de ir e vir numa estrada que teria sido bombardeada por interesses nebulosos de seu impedimento?
Conservação ou intimidação?
Vivemos num Estado que representa 18% do território nacional, mas em que apenas 20% desta imensidade geográfica e geopolítica podem ser manejadas. O restante é constitucionalmente intocável. Esta superfície, por imposição legal, nacional e internacional, tem 50,01% constituído de áreas indígenas e de áreas protegidas, sendo que, em muitas delas, não há mais índio sequer ou, muitos dos que lá existem, querem adentrar pela porta da frente nos domínios das conquistas e benefícios da civilização não-índia. Delimitaram Unidades de Conservação sem um cuidadoso Diagnóstico Ambiental, sem Zoneamento Ecológico-Econômico para definir fragilidades e potencialidades, sem elaboração de Plano de Manejo, para que haja uma justificação coerente de forma e do conteúdo da eventual demarcação. Ali, por imposições de burocratas arrogantes, é desaconselhada coleta e beneficiamento de amêndoas para resolver questões prosaicas do dia a dia que a bolsa verde não equaciona. E isso precisa mudar, precisa ser objeto de estudo, debate e mudança efetiva a favor do homem, da mulher que, no universo de 25 milhões de indivíduos, exigem e têm direito ao pleno exercício da cidadania. Voltaremos.
===============================================================================
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 10.09.2015