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Coluna do CIEAM

Política, academia e economia

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24/07/2015 13:59

Hora de ciscar pra dentro é a expressão preferida da classe política quando se prepara para defender as alianças que antecedem a disputa pelo poder. O senador e ex-governador Gilberto Mestrinho atribuía a Ulisses Guimarães o uso desta expressão popular lusitana que se origina da descrição folclórica e coreográfica das aves, em particular das galinhas, à procura de alimentos. Os galos ciscam pra fora, em sinal de valentia, dizia o líder político, as galinhas, dando sinais de sabedoria, quando buscam os nutrientes, ciscam pra dentro. A imagem é perfeita para ilustrar o papel histórico, etimológico e atual da política, como instrumento de consolidação da ordem e equilíbrio social, isto é, a Democracia: o governo das pessoas em sociedade, um conjunto de normas e recomendações éticas que deve nortear o ordenamento da vida social, na polis, o lugar das relações entre as pessoas e seus interesses. É neste sentido que o CIEAM acolhe a homenagem que será prestada à entidade na próxima semana, simbolizando o reconhecimento do papel das empresas que a entidade representa na comunhão necessária de esforços para encontrar saídas neste momento de dificuldades que o modelo ZFM e a economia do Brasil atravessam. Essa homenagem e o significado de aproximação para a somatória de esforços e talentos é semelhante – em importância e alcance – ao recente esforço de conquistar espaço no Conselho da Universidade do Estado do Amazonas, financiada integralmente pela indústria, para debater, acompanhar e aplaudir as aplicações dos recursos recolhidos para o Fundo UEA à luz dos resultados auferidos pelos jovens que ali encontram oportunidade de formação e alternativas de realização profissional. Caminhamos a passos largos para consolidar a inserção das entidades do setor produtivo no conjunto de representantes da sociedade com quem a academia se articula para responder às demandas do tecido social. Academia e classe política, portanto, e especialmente neste momento, em que talentos e energia imbricados vão fazer toda a diferença. Com este bate-bola cívico podemos formar o time da transparência para assegurar a aplicação efetiva, relevante e participativa dos impostos, taxas da Suframa, de Pesquisa e Desenvolvimento, dos Fundos Estaduais de Turismo e Interiorização do Desenvolvimento, das Pequenas e Médias Empresas e das Cadeias Produtivas, que levam ao interior a visão empreendedora das novas alternativas econômicas.

Interlocução e interatividade


As dificuldades do momento, provocadas pela falta de credibilidade, traduzem os tropeços de fazer política na modalidade tacanha, sombria, descolada da partilha de projetos, propósitos e compromissos com os demais atores do tabuleiro social. A homenagem que a FIEAM e CIEAM receberão, estende a ponte da interlocução e da interatividade. E todas as vezes que funciona assim, o resultado tem garantias de sucesso. Foi assim na discussão da Reforma Tributária, na prorrogação dos incentivos e em momentos recentes de discussão de pendências e ameaças do modelo ZFM. E se as outras bandeiras vitais da economia local não tiveram andamento, provavelmente, foi falha a comunicação, precária ou ausente a interlocução e a interatividade. Estes instrumentos, afinados e repartidos, evitariam ou responderiam com eficácia as frequentes artilharias pesadas contra o Amazonas, frutos da desinformação crônica – ou premeditada? – ou da orquestração perversa em nome de interesses que alguma hora deverão ser explicitados. Mais do que as empresas, cujo posicionamento será sempre interpretado como defesa em causa própria, fará muita diferença, nos fóruns de discussão política ou de debate acadêmico, responder com fatos e conquistas a acusação inconsequente de que o modelo ZFM consome R$ 24 bilhões de benefícios fiscais, segundo nebulosos levantamentos em nome de uma instituição, respeitável Fundação Getúlio Vargas. Uma checagem rápida no portal da Receita Federal, em 2014, revela outro dado: R$ 26,02 bi, distribuídos para todos os sete estados da Região Norte, o que representa, apenas 17% da renúncia fiscal do país, contra R$ 70,65 bilhões para o Sudeste, que usufrui de 48,4% da renúncia fiscal.

Defesa conjunta


Essa sintonia fina entre economia, academia e classe política ajudaria a argumentar, na defesa do modelo ZFM, que mais de 60% da verba do BNDES, destinada ao desenvolvimento, com uma parcela significativa das verbas contingenciadas da Suframa, é consumida por quem menos precisa. Ou seja, a Amazônia Ocidental, a Suframa e, principalmente, o Amazonas, em lugar dos aportes, foram transformadas em fonte de recursos do governo federal. E se o modelo faturou R$ 85 bilhões em 2014, mais da metade da riqueza aí embutida, segundo dados da FEA USP, num levantamento acadêmico, transformado em doutoramento científico – foi repassada para os cofres do governo federal. Seria, aqui, enfadonho e interminável, recorrer ao confronto de indicadores para demonstrar, mais uma vez, o tamanho da necessidade de estarmos coesos para defender os direitos, demandas e urgências de um modelo que representa base significativa de sustento, o pão nosso de cada dia.

Novos caminhos

A integração entre a classe política, a academia e o setor produtivo será, com certeza, a melhor estratégia de integrar o Amazonas integrado aos projetos e programas da Amazônia Ocidental, fortalecendo com a união de todos os seus atores, a integração ao país, a diversificação/inserção do modelo, a busca de soluções criativas para equacionar embaraços e apuros que todos atravessamos, com ou sem incentivos. E por falar em incentivos do modelo ZFM é elucidativo sublinhar que a indústria automobilística utiliza este artifício bem antes da primeira Copa da FIFA em 1958, quando a ZFM era apenas um Porto Franco com movimentação econômica irrelevante. E essa indústria está aí, forte e bem nutrida pelo silêncio obsequioso dos detratores da ZFM. Temos direitos e razões para fortalecer este modelo que protege a floresta e que impede que a região seja transformada no fornecedor da violência para o resto do país com o plantio, industrialização e tráfico de sofisticadas espécies de drogas. Defendermos juntos o modelo ZFM significa seguir zelando pelo patrimônio da biodiversidade, a partir da qual, postulamos novas matrizes econômicas que façam desse acervo biótico as soluções de fitoterapia, cosmética, nutracêutica e segurança alimentar de que o país e a humanidade precisam para se manter hígido, jovial e bem nutrido, com investimentos na formação de cientistas, e em infraestrutura de inovação tecnológica, nanotecnológica e biodigital. Esta é missão partilhada, é desafio, certeza e proposta de construção coletiva de um novo amanhã.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 24.07.2015

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